Geralmente são feitas homenagens às pessoas ilustres após as suas mortes, mas esta resolvi fazer com ele ainda em vida. O Prof. Duílio Moreira Leite é o precursor das técnicas de proteção contra descargas atmosféricas e de ensaios em equipamentos elétricos de alta e baixa tensão no Brasil. Foi um dos primeiros brasileiros a participar em encontros internacionais sobre estes assuntos e disseminar com maestria estes conhecimentos.
O objetivo deste artigo é o de descrever algumas atividades realizadas pelo Duílio e suas contribuições mais importantes para a ciência, principalmente na área de eletrotécnica.
O Prof. Duílio Moreira Leite nasceu em Bauru em 16 de outubro de 1930, filho de Alcides Moreira Leite e Claudina Pietrovoia Moreira, é engenheiro mecânico e eletricista pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo da turma de 1957.
Foi professor adjunto na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) de 1967 a 1987, professor adjunto colaborador na Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG) da UNESP de 1990 a 1993, ministrou diversas disciplinas de pós-graduação na Escola Politécnica da USP (EPUSP) e na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, além de ter ministrado diversos cursos de extensão e aperfeiçoamento na EPUSP, no Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP), no Instituto de Engenharia de São Paulo, na Universidade Federal da Bahia, no COBEI (ABNT), na ABEE (Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas) e em diversas empresas e entidades.
Ainda como aluno da EPUSP, foi aluno-assistente da Seção de Alta Tensão, na época, Instituto de Eletrotécnica (IE) da USP de 1956 a 1957. Nesta época ajudou a desenvolver os primeiros varistores de SiC junto ao IPT e IE USP.
Trabalhou como estagiário e depois como engenheiro na fábrica Alcace de Aparelhos Elétricos de 1957 a 1961, onde montou o Laboratório de Alta Tensão com gerador de impulso de 1000 kV e transformador para ensaios dielétricos de até 100 kV em 60 Hz. Desenvolveu e executou diversos ensaios em equipamentos elétricos.
Trabalhou na Fábrica de Equipamentos Elétricos Pesados da General Eletric S.A em Campinas de 1961 a 1963 onde ajudou a desenvolver disjuntores de força em grande volume de óleo de 34,5 kV e 69 kV, disjuntores a ar comprimido para alta tensão e para-raios de distribuição tipo Pellet e outras tecnologias.
Partiu para uma “carreira solo” nos anos de 1964 e 1965 onde desenvolveu linhas de isoladores para para-raios, chaves fusíveis e chaves secionadoras; desenvolveu projetos de chaves fusíveis e secionadoras para até 138 kV e chaves compensadoras de partida de motores para algumas empresas de São Paulo e Santo André.
Em 1966 foi convidado a chefiar o Laboratório de Alta Tensão e do Escritório Técnico da Sprecher & Schuh do Brasil onde ajudou na montagem do Laboratório de Alta Tensão com gerador de Impulso de 1800 kV e transformador para ensaios dielétricos em 60 Hz para até 600 kV. Na época, a Sprecher foi a primeira a produzir disjuntores de AT de 69 kV a 345 kV. Trabalhou nesta empresa até 1968.
De 1969 a 1973 trabalhou nas Indústrias Brasileiras Eletrometalúrgicas S.A, depois chamada de Lorenzetti S.A, como engenheiro-chefe da seção de alta tensão, onde trabalhou e desenvolveu chaves secionadoras para até 138 kV.
Em 1973 voltou ao Instituto de Eletrotécnica da USP, agora como chefe da Seção de Alta Tensão. Como principais trabalhos realizados podemos citar o desenvolvimento da técnica de ensaios de corona visual em equipamentos, cabos e complementos de linhas de transmissão e subestações; a construção de uma gaiola para ensaios de corona em condutores nus com determinação do gradiente superficial; o desenvolvimento da técnica de ensaios de rádio interferência em equipamentos de Alta Tensão; desenvolveu um anteprojeto de um laboratório externo de extra alta tensão; coordenou a execução de estruturas para ensaios de surto de manobra em cadeias de isoladores e equipamentos de até 500 kV; foi um dos pioneiros em ensaios de descargas parciais no Brasil; desenvolveu ensaios de alta tensão em corrente contínua para testes nas linhas de Itaipú, além de orientar e coordenar diversos trabalhos de pesquisas e desenvolvimento na área de Alta Tensão.
Em 1986 passou a ser o Diretor da área de Potência, na época, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, coordenando as atividades de ensaios, pesquisas e desenvolvimentos nas seções de Alta Tensão, Para-Raios, Altas Correntes, Materiais Isolantes e Condutores, Materiais à Prova de Explosão, Máquinas Elétricas e Radiologia. Participou de diversos projetos de pesquisas, tais como o estudo dos efeitos da poluição em isoladores em linhas de transmissão, de distribuição e equipamentos na orla marítima; estudo do efeito dos campos elétricos e medição da blindagem em roupas condutivas para uso de operadores em linhas viva; estudo de elos magnéticos para medição de correntes de descargas atmosféricas; estudo do comportamento da resistência de aterramento de hastes verticais sob impulsos, enfim confirmando a sua condição de ser referência na área de alta tensão e descargas atmosféricas.
Em junho de 1990 a dezembro de 1993, licenciou-se na USP para exercer a função de professor adjunto-colaborador na Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá da UNESP.
Em janeiro de 1994 retornou ao IEE-USP, hoje Instituto de Energia e Ambiente da USP, como diretor de serviços de desenvolvimento, ficando até 1996, quando se aposentou e ficou cuidando da empresa que havia fundado em 1988, a ENCONTRE Engenharia, Consultoria e Treinamento S/C Ltda.
O Prof. Duílio foi um dos primeiros brasileiros a participar em reuniões e congressos internacionais nas áreas de alta tensão e proteção contra descargas atmosféricas. Neste assunto, escreveu diversos livros e trabalhos técnicos e sempre foi considerado a maior referência técnica brasileira, tendo sido por anos o coordenador da Comissão Técnica do COBEI (ABNT). Criou o SIPDA (Simpósio Internacional de Proteção contra Descargas Atmosféricas) em 1988 e até hoje é o presidente honorário deste importante simpósio internacional que traz a cada dois anos as maiores autoridades técnicas do assunto para o Brasil.
Foi presidente da Seção de São Paulo da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (ABEE-SP), conselheiro do CREA-SP, presidente de diversas Comissões Técnicas do COBEI, representando o IEE USP no CIGRÉ e membro do IEEE.
Este é um pequeno resumo do curriculum do Prof. Duílio Moreira Leite, meu primeiro chefe no Instituto de Eletrotécnica da USP, a quem tenho muita admiração e respeito por tudo que me ensinou não somente na área técnica, mas na vida, em geral.
O Prof. Duílio está hoje com 88 anos, a lado da Dona Cida, sua esposa e companheira de muitos anos, um pouco debilitado fisicamente por causa da idade, mas com muito conhecimento técnico e de vida, escrevendo seu livro de memórias.
*Hélio Eiji Sueta é chefe substituto da Divisão Científica de Planejamento, Análise e Desenvolvimento Energético do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.
Respostas de 3
Boa tarde. Fiquei muito, mas muito feliz mesmo ao ler esse artigo na Revista O Setor Elétrico. Fui aluna do prof. Duílio em Guaratinguetá, na Unesp e justamente por ele ser um profissional tão inspirador, continuo na área de alta tensão, depois de um Mestrado e um Doutorado nessa área. Sou eternamente agradecida ao prof. Duílio que redigiu minha primeira carta de indicação para o Mestrado na USP de São Carlos.
Parabéns prof. Helio Eiji Sueta pelo artigo.
Atenciosamente
Annete Faesarella
Parabéns a revista pela justa homenagem ao professor Duílio !
Uma vez indo para Guaratingueta pela via Dutra o Prof Duílio me disse a seguinte frase “Meu filho, eu não fumo, eu não bebo, eu não como gordura para viver um pouco mais e me vem você querer me matar num acidente de carro” Na hora levantei o Pé do acelerador do potente Monza 2.0 que estava a 180 Kmph. Meus respeitos por esse brilhante brasileiro.