A fonte solar fotovoltaica possui atualmente uma potência instalada de 2,0 GW na Bahia, somando as grandes usinas solares e os pequenos e médios sistemas de geração própria em telhados, fachadas e terrenos. Desde 2012, o setor solar trouxe à Bahia mais de R$ 9,5 bilhões em novos investimentos, gerou mais de 60,1 mil empregos acumulados e contribuiu com a arrecadação de mais de R$ 3,3 bilhões em tributos aos cofres públicos.
Somente na geração própria de energia solar em telhados, fachadas e pequenos terrenos, o estado da Bahia já superou a marca de 648,5 MW instalados em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos, segundo mapeamento da Absolar. Com isso, este segmento já proporcionou ao estado a atração de mais de R$ 3,4 bilhões em investimentos, a geração de mais de 19,4 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 1,2 bilhão em tributos aos cofres públicos.
E o que podemos esperar nos próximos anos, do setor fotovoltaico na Bahia e de toda esta sua “energia” limpa, renovável, acessível e competitiva?
Certamente, há um cenário bastante positivo e promissor para a energia solar na Bahia, que deverá vivenciar, muito em breve, uma verdadeira revolução industrial sustentável. O estado baiano é detentor de um dos melhores recursos solares do Brasil e do mundo. Por isso, além do crescente interesse da população baiana pelo uso da tecnologia fotovoltaica em edificações privadas e públicas, este vasto potencial solar tem tornado a região um polo estratégico para a atração de novos investimentos em atividades produtivas que demandem muita energia elétrica renovável e competitiva para as suas operações.
É justamente o caso dos projetos de produção de hidrogênio verde (H2V), aquele produzido por meio da eletrólise da água com o uso das fontes renováveis, como a solar e a eólica. Estes projetos inovadores permitirão um salto gigantesco às empresas que estão instaladas no estado e às que ainda virão, atraídas pela forte competitividade da energia renovável da Bahia e com sede de trazer investimentos bilionários para a região.
Recentemente, na COP 27 no Egito, um dos assuntos chave discutidos pelos especialistas em transição energética foi a busca pelo chamado “Net Zero”, a neutralidade de emissões, fundamental para o atingimento das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa até 2050. Assim, a transição energética passou a ser um objetivo que envolve não apenas o estabelecimento de metas nacionais cada vez mais ambiciosas, mas um debate mais profundo sobre a própria sobrevivência da humanidade da forma como a conhecemos.
Quando falamos de transição energética e emissões de gases de efeito estufa, os sete maiores emissores (China, Estados Unidos, Índia, União Europeia, Indonésia, Rússia e Brasil) foram responsáveis por cerca de metade das emissões globais em 2020.
Já o chamado G20 (Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos) foi responsável por cerca de 75% das emissões globais.
Para contribuir com a redução destas emissões, boas políticas públicas são fundamentais. Não por acaso, pelo menos 135 países já possuem alguma meta de ampliação da eletricidade renovável. O Brasil e, em especial, a Bahia podem liderar esta transição sustentável. Para isso, teremos que estabelecer metas claras e robustas, alinhadas com as potencialidades do nosso País e da região Nordeste.
Há perspectivas avançadas de implantação de um conjunto de eletrolisadores no Polo Petroquímico de Camaçari, maior complexo industrial integrado do hemisfério sul, para a produção em escala do hidrogênio sustentável, que posteriormente poderá ser utilizado no mercado nacional ou exportado para outros países. O estudo de viabilidade estima a produção de 1 milhão de toneladas de H2V por ano. É atualmente o maior projeto da tecnologia já anunciado no mundo, com previsão de que a primeira etapa da produção aconteça a partir de 2025.
Portanto, a transição energética e a necessidade de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa no planeta terão um alicerce muito firme no desenvolvimento e crescimento do hidrogênio verde. Adicionalmente, outros combustíveis sintéticos fabricados a partir de fontes renováveis também poderão contribuir para a redução do consumo de combustíveis fósseis, mais poluentes e danosos para o meio ambiente e o clima.
Neste contexto, a Bahia tem muito a oferecer ao Brasil e ao mundo. Com seu recurso solar privilegiado e abundante, disponibilidade de áreas, localização estratégica e infraestrutura logística favorável, o estado poderá combinar a força de sua matriz elétrica com o desenvolvimento industrial e tecnológico para construir os caminhos de uma reindustrialização tão ambiciosa quanto seus sonhos.
Autores:
Santiago Gonzales Gil, CEO na Amara Net Zero e coordenador estadual da ABSOLAR na Bahia
Rodrigo Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR
Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR