Por Frederico Araújo
Falar de um país continental como o Brasil e não mencionar todo o seu potencial em Eficiência Energética (EE) é praticamente impossível. Por isso, a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO) definiu que, em 2020 e em 2021, o foco do trabalho será a educação da sociedade sobre a importância de adotar medidas em prol do uso inteligente de energia elétrica, evitando o desperdício, seja em casa, escritórios, lojas, indústrias e até em grandes empresas.
Para que isso aconteça e para que tenhamos resultados já neste biênio, a ABESCO pretende estar ainda mais próxima dos players do setor, da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), de distribuidoras de energia e do setor privado, incluindo associações industriais. Dessa forma, acreditamos que a temática Eficiência Energética poderá alcançar concretamente a atenção merecida no País.
Nos últimos anos, percebemos que entre os assuntos mais debatidos estiveram a Geração Distribuída (GD). Mas é preciso esclarecer que, antes de se fazer investimentos em GD, o ideal é escolher um caminho mais eficaz: desenvolver um projeto de Eficiência Energética, que, por sua vez, irá reduzir o desperdício. Apenas depois disso, o investimento em GD é aconselhado.
E como fica a associação entre Eficiência Energética com o ambiente de contratação livre (ACL) e geração distribuída de energia? Bem, mesmo com o fornecimento de energia mais barata, como é o caso do Mercado Livre de Energia (ACL) para grandes consumidores ou a adoção de geração distribuída fotovoltáica, ainda voltamos ao ponto inicial e crucial: se o desperdício não for combatido na fonte, não adianta consumir uma energia mais barata (ACL) ou investir em gerar a sua própria energia. Isso representa aumentar o desperdício, seja ele do ponto de vista energético ou financeiro.
Uma boa analogia que podemos fazer é esta: não adianta colocar mais canos para encher uma piscina furada. É preciso fechar os furos da piscina e, então, entender qual o tamanho do cano ou quantos canos serão necessários para encher aquela piscina de maneira eficiente. Por isso, faz-se necessário, no Brasil, combater o desperdício acima de tudo e gerar a cultura da Eficiência Energética a partir da identificação das perdas (do desperdício).
Quanto a quem compete adotar ações envolvendo Eficiência Energética, podemos dizer que todos os consumidores estão aptos para tal, desde o menor consumidor, de uma pequena moradia, a até uma grande empresa listada na Bolsa de Valores. Ou seja, de pessoas físicas a jurídicas, como grandes corporações. Enfim, todos têm ações de Eficiência Energética a fazer.
Alguns dos exemplos de EE que podemos citar são a troca de equipamentos, a melhora de processos na indústria, abordando uma questão cultural do uso eficiente da energia. E um ponto de atenção para aqueles que adquirem produtos com nível de consumo “D” ao invés de “A” – conforme classificação do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) – e que possuem placas de captação de energia solar em casa: a ineficiência permanece.
Claro, além dos consumidores privados, também precisamos falar sobre a Eficiência Energética no governo, em todas as esferas. O que estamos percebendo é que o Poder Público tem a intenção e até a necessidade de fazer e implementar projetos de Eficiência Energia. Contudo, quando o cenário econômico apresenta sinais de recessão, as execuções de ações nesse sentido ficam em déficit, especialmente porque as administrações têm outras prioridades econômicas.
Diante disso, os governos acabam por buscar outras formas para investir em Eficiência Energética, como por meio do Programa de Eficiência Energética (PEE), da ANEEL, e por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) ou Programa de Reordenação Luminotécnica para iluminação pública nas cidades, por exemplo.
Além de todo um trabalho de conscientização da população, outro desafio da Eficiência Energética no Brasil é o desenvolvimento de uma Política Nacional, que possa dar subsídios para as devidas implementações de ações no país. Atualmente, várias instituições, incluindo federais, já realizam atividades voltadas à Eficiência Energética de forma isolada, sem seguir uma linha coerente de atuação conjunta nacional.
Acreditamos que temos, nas instituições governamentais e no setor privado brasileiro, pessoas com competência suficiente para que o assunto seja debatido e, em tempo razoável, para que seja criado um Plano Nacional de Eficiência Energética, capaz de reduzir o desperdício e o custo com geração da energia necessária ao atendimento da demanda futura.
*Frederico Araújo é presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO)