No mundo todo, o setor elétrico passa por transformações rápidas e profundas. As mudanças dos últimos 10 anos são apenas um vislumbre em relação às que devemos experimentar na próxima década, impulsionadas pela necessidade de uma transição energética global.
O relatório “World Energy Transitions Outlook 2023”, publicado pela Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), estima em US$ 35 trilhões o investimento necessário até 2030 para que o mundo substitua suas fontes energéticas de origem fóssil a tempo de evitar um aquecimento global acima de 1,5ºC, como prevê o Acordo de Paris.
Como bem sabemos, essa mudança nas matrizes elétrica e energética mundial não se fará sozinha. A demanda por profissionais qualificados tecnicamente, muitos deles com habilidades específicas, para atuar em projetos que vão do elétron gerado a partir de fontes renováveis à molécula do hidrogênio verde, crescerá a passos largos nas próximas décadas.
O Brasil reúne condições ímpares para se tornar um grande player mundial no mercado de energéticos renováveis. Mas a integração dos jovens ao mercado de energia é um desafio que teremos de enfrentar. Somados os cursos de graduação em Biocombustíveis e as engenharias de Energia, Elétrica e Eletrônica, formamos 12.695 profissionais em 2021, de acordo com o Censo da Educação Superior (INEP). A título de comparação, a Eletrobras, sozinha, emprega 12 mil pessoas. E a transição energética também vai precisar de profissionais do agro, da geografia, da química, da física e de muitas outras especialidades.
Precisamos atrair os jovens para o setor de energia e introduzi-los no mercado de trabalho. Devemos abrir espaço para que eles apresentem suas ideias e contribuam com esse processo de inovação. Iniciativas como a Next Generation Network (NGN), do CIGRE-Brasil – uma rede de jovens profissionais de até 35 anos que tem como objetivo capacitá-los e envolvê-los no setor eletroenergético –, são fundamentais para catalisar a ascensão dos novos talentos.
A NGN oferece recursos técnicos, oportunidades de networking e espaços para desenvolvimento pessoal e profissional. Sua missão é clara: não apenas fortalecer os membros jovens, mas também contribuir para o crescimento sustentável do setor de energia no Brasil e no mundo. Afinal, a troca de experiências é vital na preparação de especialistas para as demandas de um ambiente em constante transformação.
Eventos como o Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica (SNPTEE), que este ano, mais uma vez, terá uma seção exclusiva da NGN, oferecem uma plataforma para os jovens profissionais compartilharem suas ideias, pesquisas e insights com um público especializado. Tais oportunidades não apenas expandem o conhecimento individual, mas também enriquecem a discussão em torno das soluções inovadoras para os desafios do setor.
As projeções sobre investimentos e desafios da transição energética geralmente levam em conta os horizontes de 2030 e 2050. As novas gerações é que estarão à frente dos grandes projetos. A transferência de conhecimento entre os profissionais maduros de hoje e os talentos que vão construir o amanhã é indispensável para conseguirmos estruturar redes dinâmicas, porém resilientes, e avançar para mercados de energia mais abertos e plurais, pavimentando o caminho para uma nova era no campo da eletroenergia.
Autor:
Por João Carlos Mello, diretor-presidente do CIGRE-Brasil