Líderes nacionais em geração de energia renovável, os estados do Nordeste mostraram, mais uma vez, toda a sua força e vitalidade durante a 44 ª edição do Circuito Nacional do Setor Elétrico – CINASE Região Nordeste, que ocorreu nos dias 13 e 14 de setembro, em Fortaleza (CE). Realizado no Centro de Eventos Ceará, no coração da capital do estado, o evento reuniu quase 1.200 pessoas, entre congressistas, especialistas renomados do universo das instalações elétricas, provedores de tecnologia e de profissionais, além de dirigentes de empresas e instituições do setor elétrico, sediadas no Ceará e nos demais estados da região.
Debatendo temas que estão na agenda dos principais players do setor elétrico, como transição energética, geração distribuída, energia solar fotovoltaica, mercado de eólica, hidrogênio verde (H2V), infraestrutura de redes elétricas, mercado livre de energia, eficiência energética, ESG e indústria 4.0, o evento contou ainda com uma área de exposição com cerca de 30 empresas do setor elétrico, entre fabricantes, distribuidores de materiais elétricos e prestadores de serviço.
Fazendo jus ao lema “o ponto de encontro do setor elétrico”, o CINASE Fortaleza não foi diferente das demais edições já realizadas neste ano, que ocorreram no Rio de Janeiro (RJ) e em Belém (PA), entregando aos seus parceiros e patrocinadores um evento altamente prestigiado, com dois dias de auditório cheio e feira de exposição lotada. “Essa é a quarta vez que o CINASE vem ao Nordeste, tendo como anfitriã a belíssima e acolhedora cidade de Fortaleza. Foi um grande evento, à altura da importância e relevância do setor elétrico do Ceará e de toda a região Nordeste. Chegar aqui e ver todo esse potencial de negócios, com grandes nomes e marcas do mercado elétrico nacional a todo vapor, é extremamente gratificante. Estamos ansiosos para retornar aqui”, afirma o diretor-fundador do Grupo O Setor Elétrico, Adolfo Vaiser, empresa responsável pela realização do evento.
Transição energética
Dentre os diversos temas abordados no Congresso, destaque para o painel que debateu o Hidrogênio Verde (H2V) como estratégia para a mobilidade na transição energética do país. Para o especialista no tema e consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Jurandir Picanço, a expansão e o desenvolvimento do H2V como célula a combustível, certamente, é uma das alternativas mais promissoras ruma à redução da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
“O Hidrogênio verde como célula combustível já é uma realidade em vários projetos-piloto pelo mundo, tanto para veículos leves como para os mais pesados, como ônibus, caminhões e trens. No entanto, o desenvolvimento desta tecnologia não é simples, visto que os equipamentos que estão sendo produzidos são mais caros, e também dependem de uma estrutura para o abastecimento. Eu não posso comprar um veículo movido a hidrogênio se eu não encontro postos para abastecimento, portanto, é preciso de uma ação planejada para desenvolvimento deste mercado”, destaca o especialista, ressaltando a importância do apoio e financiamento de projetos relacionados ao H2V no país.
Atualmente, segundo Picanço, existe um pouco mais de 53 mil veículos a célula a combustível (hidrogênio) em operação em várias partes do mundo, com 553 postos de abastecimento de hidrogênio. Até 2030, a previsão é de que outros 5 mil postos entrem em operação. “Os veículos que estão sendo desenvolvidos a hidrogênio são na verdade veículos elétricos que, ao invés de terem uma bateria gigante, têm um pequeno conjunto de baterias associadas com tanques de células a combustível de hidrogênio. Esse hidrogênio, então, é convertido em energia elétrica, que carrega a bateria. Ou seja, o carro a hidrogênio, na verdade, é um carro elétrico, que, ao invés de carregar na tomada, é alimentado através da célula a combustível”, explica Picanço, que dirigiu recentemente um veículo movido a hidrogênio em uma feira de Munique, na Alemanha, país que já conta, desde 2018, com trens a hidrogênio em operação.
Países da Europa e os Estados Unidos (Flórida) esperam ter cerca de cem mil caminhões com a tecnologia em operação até 2030. No mesmo período, projetos preveem a fabricação de mil unidades desses veículos em Madrid, na Espanha, e dez mil táxis em Paris, na França.
A pauta ESG também ganhou destaque nos debates de Fortaleza. Um time de especialistas foi escalado para debater as práticas ambientais, sociais e de governança corporativa voltadas à sustentabilidade. “Hoje o mercado tem uma visão de que os negócios precisam ser economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente sustentáveis. O tripé da sustentabilidade entrou no universo corporativo em meados de 2004 como uma gestão de riscos para amenizar as consequências ambientais nos negócios e ampliar o vínculo com a sociedade. O conceito de ESG está muito associado ao capitalismo dos stakeholders, em que as organizações não olham mais somente para o seu negócio, mas para o seu impacto ao longo de toda a sua cadeia, de quem compra, de quem vende, fortalecendo essa rede de sustentabilidade corporativa”, destaca Laiz Herida, Founder & CEO at HL Soluções Ambientais.
Para a gerente de Sustentabilidade da Enel Ceará, Ana Cilana Braga, a inclusão dos pilares ESG no universo corporativo é uma realidade em todo o mundo, e veio para ficar. “Na Enel Ceará, há pelo menos 10 anos, a sustentabilidade passou a fazer parte do centro das estratégias da empresa. Para sermos uma empresa que desenvolve de forma sustentável, que gera valor a longo prazo, os temas relacionados à pauta social, meio ambiente e governança precisavam fazer parte da nossa estratégia. Hoje temos uma diretoria específica, criada em 2015, para consolidar essas práticas, traçar métricas e indicadores para medir esse impacto”, afirmou.
De acordo com a especialista, a energia elétrica, assim como vários setores da indústria, gera impacto positivo na sociedade, mas também existem aspectos negativos que precisam ser avaliados. “A gente não se vê hoje sem energia, sem todas as comodidades que ela oferece, mas também gera outras externalidades, por exemplo, no caso da distribuição, o impacto social, relacionado à fatura de energia do cliente, então precisamos sempre estar pautados nisso, olhando para a situação socioeconômica dos consumidores, para que possamos nos desenvolver com sustentabilidade”, afirmou. O debate contou ainda com a participação do gerente da Usina de Hidrogênio Verde da EDP, Cayo Moraes, que falou sobre as iniciativas da empresa para desenvolvimento da produção de H2V no estado.
Feira de exposição
Com um público altamente qualificado, os estandes da feira de exposição do CINASE Fortaleza se transformaram em verdadeiros pólos de negócios e de networking, possibilitando aos visitantes a interação com os serviços e produtos das principais empresas de serviços e de engenharia elétrica no Nordeste e no país. “O que percebemos em Fortaleza foi que chegou ao nosso estande muito mais leads qualificados. Somos produtores de condutores elétricos em alumínio e em algumas outras feiras, chegam pessoas perguntando o que são esses condutores,já no CINASE Nordeste, recebemos pessoas perguntando como se instala um cabo de alumínio, já que eles estão acostumados a trabalhar com outros cabos. Então, isso é muito importante, pois mostra um avanço na qualificação do público de visitantes do evento”, destacou Fábio Santana, gerente de Marketing da Neo Cable, parceira assídua do Grupo O Setor Elétrico.
Com 32 anos de mercado, a Carmehil, empresa genuinamente cearense, que oferece um mix completo em material elétrico, iluminação, rede de dados, infraestrutura e painéis elétricos, ferramentas e acessórios, também marcou presença no evento. “No CINASE é onde está nosso público-alvo e os clientes que queremos trabalhar. Este ano foi bem oportuno, pois conseguimos trazer para a feira um produto que queríamos acrescentar há algum tempo no nosso portfólio, que é a parte de painéis de média tensão. Foi fantástico o evento, não só pela qualidade das palestras, mas pela oportunidade que ele cria de negócios, onde podemos mostrar todos os nossos produtos”, ressalta Carlos Mendonça, diretor-fundador da Carmehil.
Parceiro do CINASE desde a sua primeira edição, Uriel Silva, gerente de vendas da Pextron, também destacou a qualidade do público. “Realmente, o público surpreendeu, o auditório totalmente lotado, muita gente com capacidade técnica, com poder de decisão, inclusive, conseguimos fechar negócios importantes para a empresa, o que significa um retorno imediato do investimento que fizemos para estar aqui em Fortaleza”, conta.
Para o CEO do Grupo Gimi, Nunziante Graziano, ao falar de toda a cadeia produtiva da engenharia elétrica, bem como da geração e distribuição de energia elétrica, o CINASE se consolida cada vez mais como um dos eventos mais relevantes do setor elétrico brasileiro. “Esse evento do Ceará me surpreendeu, não só pelo nível do público, mas também pela quantidade de visitantes. Como sempre, também tivemos um time de palestrantes renomados, abordando e compartilhando conhecimentos diversos, de altíssimo valor técnico. Tivemos aqui palestras sobre eficiência energética, geração, regulação, segurança no trabalho, dentre outros. Todo esse pacote que envolve a instalação elétrica, incluindo a energia elétrica, que corre pelas instalações, é o DNA que o CINASE vem construindo ao longo de sua história”.
Descentralização
Um dos grandes diferenciais do evento, de acordo com o diretor comercial da empresa Intelli, é o formato descentralizado e itinerante do congresso, que gera oportunidades para todas as regiões do país. “É muito satisfatório participar do CINASE. Temos professores, especialistas consagrados, com pleno conhecimento dos temas tratados. Essa é uma oportunidade importante para todos se atualizarem sobre temas relevantes para o setor elétrico, levando conhecimento para regiões que estão fora do eixo convencional para este tipo de evento, que geralmente é São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, acrescenta Marcelo Lugli, diretor comercial da empresa.
Presente no evento, o presidente da Associação Brasileira dos Engenheiros Eletricistas do Ceará, Francisco Webston Torquato, também ressaltou a importância de o evento chegar a todas as regiões do país. “Aqui no Ceará temos uma dificuldade enorme de trazer eventos deste porte. Consideramos o CINASE a nossa referência para divulgação da engenharia elétrica como um todo. Quando o CINASE chega, há uma animação enorme, tanto para a área acadêmica, como profissional, porque ele possibilita um networking incrível, com fabricantes de equipamentos do Brasil inteiro”.
Fazendo coro ao presidente, o professor da UFC e diretor da ABEE-CE, Gustavo Castelo Branco, que participou de painel sobre instalações elétricas de baixa e média tensão, projetos e segurança, comentou que “o Ceará não costuma ser rota para grandes eventos como o CINASE, então, é uma oportunidade importante para os profissionais deste mercado, que podem ter acesso às tendências e inovações do mercado, seja na parte de proteção elétrica, seja em segurança, painéis e tecnologias de automação.”
Premiação e reconhecimento
Tradicionalmente, na noite anterior ao CINASE, é realizada a cerimônia do Prêmio O Setor Elétrico, que tem como objetivo reconhecer e dar visibilidade a projetos e iniciativas que apresentem soluções inovadoras para o setor elétrico brasileiro. Os vencedores das cinco categorias do Prêmio da edição de Fortaleza foram:
- Inovação Tecnológica – Monitoramento de sistemas críticos em hospital terciário – Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) – Proponente: Jamil Cavalcante Kerbage
- Instalações Elétricas Industriais e Comerciais – Edifício EPIC – Proponente: Alexandre Albano Amorim Sobreira
- Projeto Luminotécnico – Reforma do subsolo do Terminal de Passageiros 01 e rampa de acesso do aeroporto de Fortaleza – Pinto Martins – Proponente: Francisco Itaimbé Matias de Oliveira – WT4 Engenharia
- Energias Renováveis – Método de termografia infravermelha ativa com auxílio de visão computacional empregada em material compósito utilizado em pás de turbinas eólicas – Proponente: Júlio César Capistrano Estácio
Vencedor máster:
- Pesquisa & Desenvolvimento – Laboratório de subestação em realidade virtual – Universidade Federal Do Ceará – UFC- Proponente: Daniel Rebouças Jaguaribe
Homenagens
Na ocasião, também foram homenageadas lideranças e personalidades que são referências regionais do segmento elétrico, são eles:
Jurandir Picanço Jr.
É Engenheiro Mecânico e Eletricista, Consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC e membro da Academia Cearense de Engenharia – ACE. Foi Presidente da Companhia Energética do Ceará – COELCE, Secretário da Ciência e Tecnologia do Ceará, Conselheiro de Administração da CHESF, Presidente da Agência Reguladora do Ceará – ARCE, Professor do Curso de Engenharia Elétrica da UFC e Presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará – CSRenováveis/CE. Nas diversas atividades exercidas sempre esteve ligado às energias renováveis, sendo um dos responsáveis pelas primeiras iniciativas de desenvolvimento das energias eólica e solar, e agora, do hidrogênio verde no Ceará.
Fernando Luiz Marcelo Antunes
Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará, bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará, mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo e PhD pela Loughborough University of Technology – Inglaterra. É professor titular do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará, ensinando e pesquisando nas áreas de eletrônica de potência, máquinas elétricas e produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis de energia. Orienta teses de doutorado e dissertações de mestrado dentro do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFC, com publicações em revistas e congressos nacionais e internacionais nas áreas de eletrônica de potência e fontes renováveis de energia. Coordena o Grupo de Processamento de Energia e Controle – GPEC do DEE da UFC onde são realizadas pesquisas com financiamento de agências de fomento e empresas nacionais.
José Nunes de Almeida Neto
José Nunes de Almeida possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará, onde também fez pós-graduação em Eficiência e Qualidade Energética. Possui ainda Pós-Graduação em Gestão – STC Executivo pela Fundação Dom Cabral / Northwestern University – EUA e Gestão de Manutenção em Empresas de Energia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No Grupo Enel desde 1984, Nunes ocupou diversas posições, entre elas, a de chefe da Divisão de Manutenção de Subestação e chefe do Departamento de Manutenção da Transmissão, no estado do Ceará. Em novembro de 1999, passou a ser Gerente de Projetos Institucionais da companhia, trabalhando na otimização do programa de investimentos especiais do estado do Ceará.