Celebrado em 28 de junho, o ILSD (International Lightning Safety Day) ou, em português, “Dia Internacional de Segurança contra as Descargas Atmosféricas” é caracterizado pela promoção de atividades relacionadas à segurança contra as descargas atmosféricas, tais como seminários, cursos e workshops.
Por meio de uma carta do Comitê Brasileiro de Eletricidade (COBEI) enviada ao Zambian Centre for Lightning Information and Research (ZaCLIR), nosso país oficializou seu compromisso com o ILSD, evento instituído pelo ZaCLIR e diversas entidades do setor, na ocasião do Simpósio Internacional de Segurança contra Descargas Atmosféricas, ocorrido em 2015, em Lusaka (Zambia).
A data faz alusão ao dia em que a Escola Runyanya, em Uganda, foi atingida por uma descarga atmosférica que provocou a morte de 18 crianças e ferimentos graves em 38. Ocorrido em 2011, esse foi o maior acidente envolvendo crianças devido às descargas atmosféricas e o segundo maior em número de mortes registrado no mundo.
Trazendo para nossa realidade, no Brasil, as descargas atmosféricas diretas são as responsáveis pelo óbito de cerca de 100 pessoas, por ano. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e não contabilizam os efeitos indiretos desse fenômeno, entre os quais podemos citar incêndios, choques elétricos ou falha de equipamentos vitais em decorrência dos impactos.
Praias e campos abertos são as áreas mais suscetíveis ao fenômeno. Muitas dos óbitos, inclusive, ocorrem entre camponeses e trabalhadores da área da construção, pessoas em momentos de lazer ao ar livre.
Contudo, nota-se o aumento de casos com vítimas fatais dentro de casa, por não contarem com a proteção adequada.
Incêndios provocados pelas descargas diretas ou por centelhamentos provocados por elas, ferimentos devido à quebra de partes de concreto ou coberturas, choques elétricos e descargas laterais devido aos raios e até mortes indiretas são os principais mecanismos de ferimentos. Há registros de pacientes em UTI, ou acamados, dependentes de aparelhos eletromédicos, que sofrem consequências fatais e irreversíveis quando os equipamentos são atingidos por surtos advindos das descargas atmosféricas.
Outra situação bastante recorrente são os acidentes registrados nas moradias mais populares e desprovidas de colunas de concreto armado que, além de sua função estrutural, atuam muitas vezes como condutor de impactos dos raios, minimizando os danos. Esse tipo de edificação, felizmente, tem se tornado cada vez menos comum nas periferias dos grandes centros urbanos, uma vez que as moradias feitas de madeira, papelão ou blocos sem colunas estão sendo substituídas pelas construções com colunas de concreto armado.
Diante de um panorama tão alarmante, é imprescindível fomentar ações que destaquem estudos e tecnologia possibilitem prevenir e combater os danos, muitas vezes irreversíveis, causados pelo fenômeno natural.
Para promover o intercâmbio de conhecimento entre especialistas no assunto do Brasil e do exterior, o Instituto de Energia e Ambiente Universidade de São Paulo (IEE-USP) promove todos os anos o Workshop de Proteção Contra Descargas Atmosféricas.
Mudanças climáticas, normas de proteção e estatísticas mundiais sobre acidentes fatais envolvendo descargas elétricas são alguns dos temas que fazem parte desse rico debate gratuito e aberto a estudantes, acadêmicos e profissionais do setor.
Neste ano, o Workshop chega à sua sexta edição e será a primeira vez que faremos uma participação virtual do evento mundial que deu origem as atividades realizadas em vários países. O convite comprova a relevância do trabalho que temos desenvolvido no Brasil e mostra que estamos no caminho certo para a disseminação de conhecimento nessa área.
Hélio Sueta é Chefe substituto da Divisão Científica de Planejamento, Análise e Desenvolvimento Energético do Instituto de Energia e Ambiente Universidade de São Paulo (IEE-USP)