Um movimento observado na sociedade neste que já virou clichê “O novo normal” é que muitos que viviam em apartamentos nas grandes cidades mudaram-se para cidades menores e próximas aos grandes centros. Um dos principais destinos escolhidos por causa principalmente da segurança são os condomínios fechados horizontais de casas. Nestes condomínios que, em grande parte, são de médio e alto padrão de construção, os benefícios são enormes, principalmente pela melhoria na qualidade de vida aumentada com o contato mais próximo com a natureza.
No meio do caminho tinha um poste. Tinha um poste no meio do caminho…
Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, muitos desses condomínios contrariando a lógica de que esses locais devem ser, além de seguros, bonitos e com uma ótima infraestrutura, utilizam redes aéreas para fazer a distribuição de energia para cada residência. Essas redes deixam o local feio, tendo em vista que atrapalham e poluem a visão da paisagem. Outro aspecto relevante é a segurança das pessoas, embora a rede de distribuição elétrica esteja instalada em um ambiente mais controlado, levando em conta, além das normas das concessionárias de energia, as regras internas desses condomínios, restringindo bastante o risco de acidente. Porém, como já sabemos, a rede aérea é intrinsicamente perigosa, em que não raramente, um acidente pode levar à morte. Um cabo caído no chão energizado, resultado por exemplo da falta de alta Impedância onde a proteção não atuou, coloca em risco a vida de pessoas e principalmente de crianças que nesses locais brincam livremente, lembrando que esse problema também acontece em todo o Brasil independentemente do local, como apontam os dados da Abradee (associação das distribuidoras de energia), onde morrem mais de 300 pessoas por ano em contato com a rede aérea elétrica de distribuição.
Voltando aos condomínios residenciais, que, na construção optaram pela distribuição na forma aérea e não subterrânea, outro grande problema é a constante falta de energia, principalmente agora com as chuvas que encerram o verão. Como nesses lugares é comum terem muitas árvores, algumas acabam em uma tarde chuvosa e com muito vento derrubando as redes elétricas. Com isso, a falta de energia pode ser mais frequente e com maior duração.
Trago essa situação para refletirmos sobre o porquê em um lugar em que parece óbvio que o empreendedor opte por redes subterrâneas, acaba em sua maioria escolhendo redes aéreas. Obviamente, o custo é maior para redes subterrâneas, porém, considerando esses locais, os custos serão absorvidos dentro de toda a construção.
Alguns empreendedores com uma visão maior e melhor já perceberam que a rede elétrica na forma subterrânea agrega muito valor ao “negócio” e estão construindo desta forma. E isso obriga as concessionárias a possuírem padrões robustos para construção e manutenção dessas redes.
Pensando nisso, o Cigré Brasil, por meio do Comitê de Estudos Técnicos para Cabos Isolados (CE – B1), desenvolveu uma brochura técnica de “Critérios de manutenção em redes subterrâneas de energia elétrica em condomínios”, que, brevemente, será disponibilizada no site do Cigre Brasil. Tive a honra de coordenar a elaboração desta brochura que teve participação de representantes de diversas concessionárias de energia.
A brochura técnica estabelece, além dos critérios, também as melhores práticas internacionais na gestão dos ativos que compõem essas redes, tais como transformadores, chaves de manobras, quadro de distribuição em pedestal (QDP), etc.
Aproveito para agradecer aos meus amigos e colegas Carla Damasceno, diretora de Assuntos Corporativos do Cigré Brasil; Nadia Helena, coordenadora técnica do CE-B1; e o secretário Eduardo Karabolad, pelo apoio na elaboração da brochura técnica.
Assim que a brochura técnica estiver disponível no site do Cigré Brasil, irei comunicar através do meu Linkedin. Caso tenham interesse, me adicionem e me encontrem por lá: linkedin.com/in/bentopmp