A pandemia do Covid-19 mostrou à sociedade a importância das novas tecnologias de comunicação e do trabalho remoto, executados à distância, nas próprias residências das pessoas. A energia elétrica é, por sua vez, um insumo fundamental para que os sistemas de informática e internet operem com qualidade, continuidade e segurança, permitindo que os cidadãos possam trabalhar adequadamente durante o confinamento.
Por esse motivo, várias tendências tecnológicas que já vinham despontando e começavam a ganhar velocidade na construção das cidades do futuro deverão experimentar uma grande aceleração ainda maior de uso. Isso inclui sistemas próprios de geração de energia elétrica, especialmente, a partir da fonte solar fotovoltaica e também sistemas de armazenamento associados. A eletromobilidade compartilhada, ou seja, veículos elétricos contratados sob demanda, também é uma tendência que se fortalece neste novo cenário.
A geração de energia em edificações passa a se justificar ainda mais, pois as pessoas aumentaram sua demanda de uma hora para outra por um serviço absolutamente confiável e contínuo para que possam manter suas casas funcionando, mesmo durante tempestades ou panes do setor elétrico.
Já existem mecanismos previstos na regulamentação do setor elétrico para viabilizar a conexão de sistemas próprios de geração de energia com a rede elétrica existente, de forma a proporcionar o uso otimizado desses recursos, fazendo com que a casa seja supridora do excedente de energia para sua vizinhança.
Desde 2012, com o início da vigência da regulamentação atual, foram instalados mais de 4,0 GW de sistemas de geração distribuída, a grande maioria da fonte solar fotovoltaica. Com isso, atendem a mais de 415 mil unidades consumidoras, ou seja, mais de um milhão e meio de pessoas no Brasil, em apenas sete anos.
Duas características fundamentais explicam esse sucesso. Primeiramente, a rapidez, facilidade e modularidade da instalação, ou seja, desde a contratação até a conexão e o início de operação, um sistema solar fotovoltaico descentralizado pode ser instalado em poucos meses.
Em segundo lugar, depois de feito o investimento, os sistemas permanecem fornecendo energia elétrica por cerca de 25 anos, com baixíssimos custos de operação e manutenção. Isso, pois os sistemas não possuem partes móveis, requerendo basicamente limpeza simples e, eventualmente, a substituição de componentes eletrônicos após décadas de uso.
Na construção de uma nova residência, o investimento adicional para inclusão destes sistemas é mínimo e bastante recompensador. Por isso, até mesmo projetos de habitações populares de novas incorporadoras, providos por programas oficiais do governo brasileiro, já estão trazendo a tecnologia desde o projeto. Muitas vezes, isso possibilita tanto a geração de eletricidade quanto a inclusão de sistemas de aquecimento de água, já que a área disponível no telhado das residências comporta as duas tecnologias.
Os sistemas de geração distribuídas de energia elétrica estão sendo crescentemente associados a sistemas de armazenamento de energia, na forma de baterias. Seu custo-benefício tem se mostrado cada vez mais atrativo e vantajoso, não só economicamente, mas considerando suas funcionalidades, como forma de reduzir a dependência dos consumidores de uma infraestrutura de energia que eles antes não conseguiam controlar.
Sistemas inteligentes de chaveamento, transação comercial de excedentes de geração e serviços de retaguarda de energia em momentos de queda de energia para comunidades locais, as chamadas microrredes, estão surgindo em diversos mercados. As microrredes são baseadas em tecnologia blockchain, já disponibilizada em vários países. Funcionam como um mercado seguro para a monetização dos investimentos em sistemas próprios de geração de energia elétrica. Conectam comunidades locais ao seu entorno, proporcionando benefícios coletivos maiores do que investimentos individuais e podendo gerar receitas aos seus proprietários. Isso poderá acelerar ainda mais a implantação de sistemas de geração e de armazenamento de energia, facilitando a sua disseminação.
As cidades do futuro terão diversos sistemas próprios de geração e armazenamento distribuídos de energia elétrica, conectados às redes elétricas locais. Isso reduzirá a necessidade de investimentos em mais postes, transformadores e outros itens de infraestrutura de rede elétrica, aliviando custos pagos por todos os consumidores. Também diminuirá o uso do espaço público, proporcionando opções mais econômicas para a conversão de redes elétricas aéreas para subterrâneas em locais de maior presença destes recursos distribuídos.
As escolhas dos consumidores refletirão diretamente na evolução destas cidades do futuro, em linha com a sustentabilidade e o combate às mudanças climáticas, já que a consciência ambiental despertou em todos os níveis e áreas da sociedade.