Dez anos a favor dos ventos

Estou completando dez anos à frente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) e, para comemorar este marco, gostaria de utilizar este espaço para fazer um breve relato de alguns dos momentos mais importantes que vivi, que não necessariamente condizem com marcos públicos do setor, mas que revelam os bastidores do meu trabalho.

Começo pelos anos de 2012 e 2013, período no qual eu percebia que a eólica estava conquistando os formuladores de política com seus resultados. Foi durante estes anos que sentia, nas conversas diárias, que a energia eólica já era respeitada. Um pouco antes disso, em 2012, eu vivi pessoalmente o momento que sedimentou o meu respeito pela fonte eólica: foi durante uma visita a um parque eólico no Nordeste, em Parazinho, no Rio Grande do Norte, quando pude ver o impacto positivo que a eólica tinha na comunidade, gerando trabalho e renda, principalmente por meio dos arrendamentos, um dos muitos dos benefícios socioambientais que hoje são tão evidentes e, inclusive, já mensurados.

Naqueles primeiros anos, em 2013, enquanto eu me alegrava muito ao perceber o crescimento da eólica acontecendo, eu me angustiava muito porque aquele foi o momento em que a cadeia produtiva precisou buscar a nacionalização de 80% para atender aos critérios do BNDES. As empresas do setor demonstraram uma grande maturidade, inteligência, eficiência e rapidez e tenho muito orgulho de todas elas. Hoje eu abro um sorriso de muito gosto sempre que preciso dizer que 80% de um aerogerador é feito no Brasil.

Também destaco como desafio os anos de 2016 e 2017. Com a economia dando sinais de arrefecimento e o consequente cancelamento do único leilão programado para aquele ano, o leilão de reserva, eu comecei a temer seriamente pelo futuro da cadeia produtiva eólica no Brasil. Meu receio era de que perdêssemos muita coisa construída com tanto esforço. Confesso que senti um frio na barriga e sei que ele só foi diminuindo com o tempo, principalmente porque o mercado foi extremamente ágil e inteligente em buscar alternativas no mercado livre. Nos anos de 2018 e 2019, cerca de 75% de nossa contratação ocorreram por meio de contratos no ACL.

Em 2020, outro momento de desafio e frio na barriga veio com a pandemia. Além de toda nossa preocupação com as questões sociais e de saúde, eu ainda temia novamente pela cadeia produtiva. Temia um retrocesso global nos investimentos em fontes renováveis, já que os preços do petróleo recuaram a patamares muito baixos. Já no começo da pandemia, estava claro que a economia brasileira iria piorar e isso resultaria em leilões menores. Na prática houve o cancelamento de todos os certames para aquele ano. Por outro lado, foi com muita alegria que acompanhei um novo crescimento do mercado livre para a energia eólica com os contratos sendo fechados diretamente entre as geradoras e consumidores finais.

A pandemia também trouxe um desafio importante na condução dos negócios da ABEEólica. Passei a ocupar, em 2020, a Vice-presidência do Conselho do Global Wind Energy Council (GWEC) e, a partir da experiência neste conselho, ampliei e abracei de maneira ainda mais contundente, junto com o time da ABEEólica, temas que até então orbitavam nossas discussões principais, mas que passaram para o centro do palco: refiro-me à pauta de ESG e mudanças climáticas. A humanidade teve um leve gosto do que é uma crise global e os cientistas concordam que os efeitos de uma pandemia são muito pequenos perto da grande crise que se avizinha se não fizermos algo pelo clima. O futuro pode ser bastante sombrio se não fizermos algo seriamente. E a energia eólica tem um peso muito importante entre as soluções.

Estes são apenas alguns destaques, eu teria que escrever um livro sobre este tema para contar todas as coisas boas que presenciei, pelas quais trabalhei e que vi nascer nos últimos dez anos. Não poderia estar mais grata pela posição que ocupo hoje. Quando cheguei tínhamos cerca de 1 GW e jamais imaginaria que estaria comemorando dez anos de ABEEólica com os 20 GWs de capacidade instalada quase completos. E com muito orgulho, e reconhecendo com clareza meu papel, minha trajetória e contribuição, eu posso enxergar o futuro com as “minhas meninas” eólicas com ventos soprando lindamente trabalhando em prol de um futuro e de um planeta melhor.

Elbia Gannoum
Presidente Executiva da ABEEólica

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