Memórias das Copas do Mundo de um colunista e seu neto

Edição 100 – Maio de 2014
Por Michel Epelbaum

Aproveitando a proximidade da Copa do Mundo de 2042, conversei com meu neto de oito anos sobre as memórias de Copas que ele não viu nem ouviu.

– Rodrigo, vi que você está colecionando hologramas sobre os craques e times da Copa. Na minha época e na de seu pai, nós colecionávamos figurinhas em um álbum de papel. As pessoas se reuniam para trocar e bater figurinhas. Era uma febre para completar o álbum. Eu era criança na Copa de 1970 e de 1974. As figurinhas carimbadas eram do Pelé, Rivelino. Em 1970, o Brasil foi tricampeão, o melhor time do mundo. Mas o seu pai tinha a sua idade quando aconteceu a Copa do Mundo no Brasil! Você imagina isso?

– Vô, já teve Copa do Mundo no Brasil?

– Sim, Rodrigo, não uma, mas duas! Na primeira eu não era nem projeto de gente, mas a segunda eu acompanhei de perto.

– E como foi, vô?

– Sabe a Arena que fomos no ano passado? Ela foi construída para a Copa de 2014. Assim como outros 11 estádios. Foi um período bem agitado e bagunçado. Muita gente saiu às ruas para reclamar: do muito dinheiro que foi gasto e roubado, dos preços do ônibus, da confusão nos aeroportos. Até decretaram feriados nos dias de jogos para não ter trânsito.

– Vô, o que é ônibus?

– É verdade, não tem mais, é como se fosse o “teletransporte magnético” de hoje. Mas, voltando à época, você imagina um dia seu sem água e energia? Pois é, então imagina um evento tão importante, o maior do mundo no futebol, com ameaça de racionamento?

– Vô, o que é racionamento?

– Racionamento é quando a água ou energia não é suficiente para todo mundo e as pessoas têm que gastar menos.

– Mas então é parecido com o que acabou de aparecer no “Online News” da minha camiseta eletrônica?

– É, meu neto, as coisas mudam, mas nem tanto assim, não é? Sobre este assunto, não tem mágica: o mundo cresce e cada vez precisa de mais energia e água. Se não cuidar bem, falta. Você sabe que em muitos países só tem água tirada do oceano? Lembro-me da sensação no mês anterior à Copa de 2014, com a possibilidade de problemas na competição, das manifestações, e tinha eleição para presidente e para governadores naquele ano, ninguém queria “sair mal no filme”. Era uma torcida para o adversário se dar mal. Lembro-me também de estar escrevendo para uma revista sobre o setor elétrico…

– Vô, o senhor era escritor?

– Não bem do jeito que você está pensando. Eu era um técnico que escrevia sobre sustentabilidade e energia. Orgulhava-me de explicar, conscientizar e comentar mensalmente sobre este assunto no qual trabalhei toda a minha vida. Na época, sustentabilidade era uma palavra muito usada, mas o seu significado…. Não é como hoje, que todos conhecem e praticam no dia a dia. Escrevi várias colunas sobre esportes e a Copa no Brasil: Olímpiadas de Londres em 2012, construção sustentável dos estádios, crise de água e energia às vésperas do grande encontro. Desde adolescente sempre gostei de escrever e, para mim, escrever nestes anos para a revista tornou-se um momento bacana para pesquisar novos assuntos, dar forma a ideias e exemplos específicos para atingir os leitores.

– Legal, vô, mas e esta crise, o que aconteceu na Copa, deu problema?

– Você já ouviu alguém falar que Deus é brasileiro?

– Já, na escola virtual, vi algumas vezes o pessoal falar assim. Mas o que quer dizer isto?

– Quer dizer que parece que o Brasil tem sorte e as coisas vão acontecendo, os problemas passam, mesmo quando a gente não faz o que precisa.

– Ah, entendi, é o que acontece quando vamos ter a avaliação tridimensional e não estão muito preparados, mas vão assim mesmo, e na última hora eles adiam por outro motivo qualquer.

– Pois é, Rodrigo, você tem de aprender isso: querer colher sem plantar não dá. Tem de se esforçar e fazer o que precisa.

– Vamos mudar de assunto, vô. O time do Brasil era bom nesta Copa?

– Bom, vamos dizer que estava longe de ser o melhor que já tivemos. Tínhamos um time razoável e o Neymar, a sensação brasileira do momento, mas uma andorinha só não faz verão.

– Como é? O que tem a andorinha a ver com o time? Mas vô, o senhor falou, falou, e quem ganhou a Copa afinal?

– Este é um assunto para a nossa próxima conversa “videofônica telepresencial”. Já vai começar a abertura da Copa e o jogo entre os destaques deste ano: Serra Leoa e Paquistão.

Um beijão!

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