O levantamento efetuado em algumas referências (*) sobre esse tema apresenta em, sua maioria, falhas de suprimento relativas à interrupções de fornecimento pelas distribuidoras. As Variações de Tensão de Curta Duração (VTCDs), desequilíbrios e harmônicos ocupam contextualização mais teórica e conceitual. Normalmente, os custos associados à energia são tratados na quantificação da energia fornecida e consumida. Hoje, em especial, o assunto ocupa espaço importante com a sinalização de liberação do ambiente livre progressivamente a todos os consumidores, além das alternativas da Geração Distribuída (GD).
Mas qual seria o custo daquela energia não distribuída? Aquela que os grandes consumidores, normalmente, esperam receber das distribuidoras de forma confiável e com boa disponibilidade, e que por diversas razões deixa de ocorrer? Ainda, as penalizações aplicadas pelo poder concedente são ínfimas se comparadas às perdas experimentadas pelos consumidores na produção industrial e operacional, perdas de matéria-prima, perdas de mão de obra ociosa, de imagem, de negócios, de oportunidades e outras tantas.
A avaliação dessas perdas está nos levantamentos e pesquisas elencadas e referenciadas ao final desse texto.
- Na Itália,um levantamento das perdas econômicas por baixa QEE em estabelecimentos industriais foi de US$ 50 mil a US$ 250 mil dólares por ano e por fábrica;
- Na União Europeia, a Iniciativa de Qualidade de Energia Leonardo estimou perdas econômicas de até € 150bi por ano;
- Na Ásia, indústrias de semicondutores em Taiwan observaram perdas econômicas acima de NT$ 5 mil (US$ 1 US$ = NT$ 28,66) por evento de QEE;
- Na Índia, observaram-se perdas econômicas de até INR$ 20 bilhões (US$ 800 milhões) em indústrias farmacêuticas;
- Na África do Sul, grandes indústrias sofreram perdas econômicas acima de US$ 200 milhões por ano;
- Nos EUA, uma pesquisa do EPRI quantificou perdas de US$ 119 bilhões a US$ 188 bilhões. Nesse contexto, seguindo o contexto das palavras do sempre presente prof. José Policarpo de Abreu (Fapemig), os números no Brasil estariam na faixa de US$15 bilhões e US$ 25 bilhões anuais, por proporcionalidade ao consumo e perdas dos poderosos vizinhos do norte;
- No caso das VTCDs, pesquisa na América do Norte apontou que um alimentador com alto número de variações de tensão de curta duração apresenta perdas econômicas da ordem de US$ 1,8 milhão.
A análise das perdas por baixa QER merece ser estudada e quantificada mais detalhadamente considerando as perdas de processo, os aspectos de topologia e manutenção dos sistemas em operação, além dos impactos da inserção de fontes renováveis intermitentes. O que parece certo é que os custos para se manter as redes aéreas em boas condições operacionais é muito menor do que as perdas dos consumidores, ou ainda sobre os investimentos que estes são obrigados a efetuar em suas infraestruturas para melhorar a confiabilidade operacional na produção.
Referências:
- Why Poor Power Quality Costs Billions Annually and What Can Be Done About It. Disponível em https://blog.se.com/power-management-metering-monitoring-power-quality/2015/10/16/why-poor-power-quality-costs-billions-annually-and-what-can-be-done-about-it, acesso em 04/Abril/2021.
- Uso de energia elétrica nos EUA deve ter queda recorde. Disponível em https://blog.grupostudio.com.br/studio-energy/uso-de-energia-eletrica-nos-eua-deve-ter-queda-recorde, acesso em 07/Abril/2021.
- DOE- Departamento de Energia dos Estados Unidos da América. Disponível em https://www.energy.gov/energysaver/energy-saver acesso em 02/11/2020
- Panuwat Teansri et al. The Costs of Power Quality Disturbances for Industries Related Fabricated Metal, Machines and Equipment in Thailand P. Teansri et al, / GMSARN International Journal 6 (2012) 1 – 10.
Autor:
Por José Starosta, diretor da Ação Engenharia e Instalações e membro da diretoria do Deinfra-Fiesp e da SBQEE. É consultor da revista O Setor Elétrico | [email protected]