Edição 107 – Dezembro de 2014
Por Michel Epelbaum
Imagino que muitos de vocês também estejam cansados, fechando o ano para balanço, assim como eu. Então vou me permitir filosofar e desabafar um pouco nesta última coluna do ano.
Depois de 365 dias de exigências de produtividade, razão, resultados e números, começo por um mapa numérico (mas descompromissado) de 2014:
O ano de 2014 acabou melancolicamente. Imagino que as retrospectivas enfatizarão a Copa do Mundo, mais uma eleição frustrante e mentirosa, o Petrolão… No tripé da “sustentabilidade”, foi um ano “andado de lado”:
• Economia – um ano para esquecer: PIB microscópico, juros e inflação altos, etc.
• Social – retrocesso em vários indicadores, Copa sem legado.
• Ambiental – a crise da água; o prazo para eliminar os lixões nos municípios foi para o brejo; mais emissões de gases de efeito estufa. Pelo menos, o novo Relatório do IPCC sobre o Aquecimento Global coloca mais “lenha na fogueira” (ou talvez mais emissões humanas no aquecimento global).
No setor elétrico, um ano complicado causado pela economia em baixa e desarranjos provocados pelas ações do governo. Quebradeira? Risco de falta? O Proálcool e as usinas na UTI. Uma luz no fim do túnel, ou melhor, do ano: o leilão de energia solar. Terá sido ele um espasmo ou terá continuidade?
O economista Milton Friedman (quem diria) estava certo: “não tem almoço grátis”. Temos de cair na real e entender que: – O presente é consequência do passado; por mais que não entendamos, tudo tem explicação. Por mais que estejamos cansados, decepcionados, também somos responsáveis coletivamente pela situação atual. E não tem “pó-de-pirlimpimpim” ou “super homem” que resolva os problemas em um passe de mágica. Anos ou décadas serão necessários para resolver vários dos complexos problemas atuais;
– Temos divergências quanto aos tratamentos, remédios e as doses a serem aplicadas ao “doente”. Antes de qualquer coisa, precisamos de consenso quanto ao diagnóstico dos problemas, o que não parece ser ainda o caso em vários dos problemas atuais (desde o aquecimento global até a política econômica. Será que no caso da crise da água, eficiência energética e no setor elétrico como um todo já caiu a ficha?). Em seguida, precisamos de capacidade e firme intenção de resolvê-los, além de disposição para dialogar com todos os envolvidos.
2015 está se configurando como um ano difícil no Brasil, na Europa, no Japão: altas de preços, baixo crescimento, juros altos, baixo investimento e gastos. Mais um ano em que a economia vai imperar soberana sobre os demais temas do tripé da sustentabilidade. Espero que seja aproveitado para um saudável “choque de realidade” (o próprio governo reconhece isto agora apesar da campanha eleitoral fantasiosa). Mesmo quanto ao novo acordo global sobre as mudanças climáticas (um dos assuntos “quentes” do próximo ano), resta conferir se negará e empurrará o problema ou o enfrentará efetivamente.
Já que o cenário não se mostra favorável, melhor do que sofrer é tentar ser feliz com o possível. Como o ditado: “você quer ter razão ou ser feliz?”. Ir devagar, simplificar, dialogar muito (que ainda não paga imposto), cooperar para melhorar, fazer muito com pouco (como estamos cada vez mais acostumados a fazer).
Que em 2015 a energia seja canalizada para sermos parte da solução e não do problema, e achar a felicidade do possível!