Momentos “quentes”: corrupção e aquecimento global

Edição 117 – Outubro de 2015
Por Michel Epelbaum

Passamos por momentos “quentes” no tabuleiro da sustentabilidade e a mídia reflete estes assuntos – corrupção e situação política na maioria dos meios, mas carro elétrico na Revista Forbes (Tesla como líder em inovação) e aquecimento global na Revista Exame (“o combate ao aquecimento global pode somar R$ 600 bilhões à economia brasileira até 2030”):

– Corrupção e integridade – “novidades” bombásticas – a fraude em emissões de quase 11 milhões de veículos da alemã Volkswagen causou grandes perdas de valor de mercado nas bolsas, além de redução de vendas/lucros/investimentos e possível impacto econômico ao país. E há relatos de falta de integridade em outras montadoras: a GM escondeu um defeito letal na ignição dos veículos, e dispenderá quase US$ 1,5 bilhão nos Estados Unidos com multas e acordos; a Toyota omitiu informações de consumidores americanos sobre problemas de segurança e dispendeu US$ 1,5 bilhão para encerrar investigação criminal (fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2015). Isso sem falar nas investigações realizadas no setor elétrico no Brasil, suspensão de dirigentes da FIFA, processos contra Neymar e Messi na Espanha, e outros…

– As temperaturas neste ano continuam batendo recordes, com boas chances de este ser o ano mais quente já medido. Os países apresentaram suas metas para redução do aquecimento já visando a Conferência sobre o Aquecimento Global (COP21, Paris, final de novembro), mas os indicativos são de que as metas apresentadas são insuficientes para limitar o aumento de temperatura na Terra a “seguros” 2 °C (poderiam levar a aumento de 2,7 °C a 4 °C). O Brasil finalmente anunciou as suas metas (que são as mais avançadas até agora anunciadas pelo país, mas poderiam ter sido mais ambiciosas):

emissões: reduzir em 37% até 2025 e de 43% até 2030 (ano-base: 2005);

uso da terra e recuperação: fim do desmatamento ilegal até 2030(???); recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradas; integração de cinco milhões de hectares de lavouras, pecuárias e florestas; reflorestamento de 12 milhões de hectares;

fontes renováveis: 45% sobre o total da matriz energética até 2030;

eficiência energética: aumento de 10% até 2030 (conforme PNEf de 2011).

– Lançado pelo WRI/USP/Open Climate Network, o relatório “Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil” <http://www.wribrasil.org.br/pt/publicacoes/oportunidades-desafios-aumentar-sinergias-politicas-climaticas-energeticas-no-brasil>, destaca:

– as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, até recentemente, eram predominantemente originárias do desmatamento e das mudanças no uso da terra, mas, atualmente, tem grandeza próxima das geradas pelo uso de energia.

– foram identificadas diversas oportunidades de redução significativa de emissões de GEE do uso de energia, adicional àquelas planejadas atualmente pelo governo, no transporte, indústria e geração de energia elétrica – por meio de investimentos em energia renovável, eficiência energética, melhoria tecnológica dos veículos, transporte coletivo, integração de políticas e redução de subsídios para combustíveis fósseis.

Quero chamar a atenção ainda para outro fato relevante deste período: a aprovação na Cúpula da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável 2015 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (com 169 metas medidas por 300 indicadores) que guiarão os próximos 15 anos na luta global contra a pobreza e as desigualdades (a partir de 2016). O processo de sua construção começou na conferência Rio+20 (2012) e substitui os Objetivos do Milênio, cujo ciclo se fecha neste ano.

A agenda compromete todos os países a tomarem uma série de ações que não somente atacam as causas profundas da pobreza, mas também pretendem aumentar o crescimento econômico e a prosperidade, além de abranger problemas ligados à saúde, educação e necessidades sociais das pessoas e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente. Nestes estão incluídas questões ligadas à energia (por exemplo, objetivo 7), aquecimento global (objetivo 13), combate à corrupção (como o objetivo 16).

Como vemos, vários desafios, soluções e oportunidades na área de sustentabilidade têm foco importante e crescente no setor elétrico. Do “calor” do momento podemos gerar energia! Que traga progressos!

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