O elemento captor de um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) é tido como o mais emblemático dos componentes. Muitas vezes é considerado também o mais importante. Essa fama dos elementos captores leva muitos projetistas e instaladores a desenvolverem e instalarem proteções que não irão garantir a proteção devida e nem atendem às exigências da ABNT NBR 5419:2015.
A supervalorização dos captores pode retirar o foco da dependência do SPDA dos demais subsistemas: descidas, aterramento e equipotencialização. Receber a descarga atmosférica é apenas uma das etapas para se garantir a proteção contra descargas atmosféricas. Especificar adequadamente os demais subsistemas é fundamental para conduzir a descarga atmosférica até o solo com segurança, reduzindo significativamente o risco de haver acidentes causados por centelhamentos perigosos, que causam incêndios, e choques por tensão de passo e toque.
Há décadas, o mercado apresenta captores com a promessa de se obter proteção satisfatória por meio da utilização de apenas um elemento para a proteção de áreas enormes. Um exemplo clássico é o captor radioativo. Trata-se de uma estrutura metálica, geralmente, em formato circular onde se afixavam partículas de elementos radioativos. Essas partículas tinham o propósito de aumentar a capacidade de proteção em muitas vezes, quando comparado a um elemento de captor convencional. Porém, esses captores foram proibidos de serem fabricados pelo risco de contaminação e por ter sua superproteção não comprovada.
Quando o assunto é a validação de uma tecnologia de proteção contra descargas atmosféricas, temos que considerar que ela tem por objetivo principal a proteção da vida humana. Além disso, ela poderá ser solicitada na prática em um intervalo da ordem de décadas. Ou seja, a tecnologia não conta com o rigor da ciência e da comprovação da adequada proteção e ainda pode colocar vidas humanas em risco.
A norma ABNT NBR 5419:2015 e, consequentemente, a IEC 62305:2010 não supervalorizam os captores. Tratam todos os subsistemas com a mesma importância. E vão além, trazem em seu texto a determinação de que não há uma tecnologia satisfatória capaz de aumentar o desempenho de um captor além do que uma haste metálica pode proporcionar. O item A.1.1 da parte 3 da ABNT NBR 5419:2015 deixa isso explícito: “Devem ser consideradas apenas as dimensões físicas dos elementos metálicos do subsistema de captação para a determinação do volume de proteção”. A norma também, em seu item 5.2.1 da parte 3, não permite a utilização de “recursos artificiais destinados a aumentar o raio de proteção dos captores ou inibir a ocorrência das descargas atmosféricas”.
As normas brasileiras da ABNT são uma formidável ferramenta para a sociedade, pois disciplinam a prática técnica. Porém, acredito ser ainda mais útil para os profissionais que a utilizam. Principalmente quando se trata de uma norma de proteção para a vida humana. Ela servirá de padrão para o juízo de valor quando da ocorrência de possíveis sinistros que resultarem em processos cíveis e criminais. O profissional que tem as normas como referência tem o poder do respaldo técnico que elas possuem. Aplicar plenamente os conceitos da ABNT NBR 5419:2015 é ter a segurança do padrão e a segurança da utilização de conceitos robustos, reconhecidos internacionalmente.
*José Barbosa de Oliveira é engenheiro eletricista e membro da comissão de estudos CE 03:64.10, do CB-3 da ABNT.