Edição 122 – Março de 2016
Espaço 5419
Por Hélio Sueta*
A parte 2 da ABNT NBR 5419/2015, gerenciamento de risco, grande novidade da revisão da norma de proteção contra descargas atmosféricas, analisa também o custo-benefício para as perdas econômicas devido aos raios em uma estrutura.
O objetivo da análise de risco realizada por esta parte da norma é calcular os riscos de perda de vida humana (R1) para todos os tipos de estruturas; de perda de serviço ao público (R2) para as estruturas em que a falta de serviços, por exemplo, energia elétrica, comunicação, tevê, água ou gás acarretará danos ao público; de perda de patrimônio cultural (R3) para estruturas históricas com patrimônio insubstituível e também os riscos de perdas de valor econômico; (R4) para as estruturas onde se tem os valores como o total (animais valiosos, edificação, conteúdo e os valores dos sistemas internos incluindo suas atividades) e também estes valores individualizados, em espécie.
Esta avaliação pode ser feita com a estrutura dividida por zonas. Neste caso, é necessário ter os valores individualizados para cada zona, ou seja, o valor dos animais valiosos para as zonas onde eles estiverem, o valor da construção referente a cada zona, o valor do conteúdo da zona (móveis, equipamentos, etc.) e o valor dos sistemas internos, incluindo suas atividades na zona (instalação elétrica, de rede, de telefonia, de água, de tevê a cabo, etc.). Com estes valores, sempre na mesma moeda, é possível calcular as componentes de risco que compõem o risco de perda econômica para cada zona. Este risco multiplicado pelo valor total da estrutura (soma de todos os valores individualizados) fornece o custo da perda em uma zona (CLZ).
O custo total de perdas (CL) de uma estrutura é calculado pela soma dos custos das perdas de todas as zonas consideradas que é igual ao risco relacionado à perda de valor, sem as medidas de proteção vezes o valor total da estrutura. Em outras palavras, o custo total de perdas equivale ao montante que se coloca em risco por ano se não forem aplicadas as medidas de proteção.
Considerando que os riscos importantes para a estrutura sob estudo ficaram acima do tolerável, uma nova análise de risco deve ser realizada com o objetivo de obter as medidas de proteção para que os riscos fiquem dentro do tolerável. Daí é possível obter o custo de perdas residuais para cada zona (CRLZ) e, consequentemente, para a estrutura como um todo (CRL). Este custo deve diminuir bastante em relação ao anterior, pois, com as medidas de proteção, o risco diminui.
Neste ponto, devemos calcular o custo das medidas de proteção (CP), por exemplo, quanto vai custar a implementação de um SPDA conforme o nível de proteção obtido na análise de risco somados às outras medidas de proteção, tais como a instalação de um sistema de DPS coordenado. O custo anual (CPM) das medidas de proteção é calculado pelo custo CP vezes a soma da taxa de juros (i) com a taxa de amortização (a) e com a taxa de manutenção (m).
O valor econômico anual (SM) em espécie é calculado pela diferença do custo total de perdas (CL) e a soma do custo anual das medidas de proteção (CPM) com o custo total de perda residual em uma estrutura (CRL).
SM = CL – (CPM + CRL)
Se o valor econômico anual for maior que zero, a proteção é justificada.
Na versão atual do TUPAN 2015 (versão 1.5), esta análise econômica pode ser feita, porém, não totalmente automatizada (estamos preparando uma versão 2.0 em que isto será possível). No exemplo a seguir, baseado no exemplo E.4 da norma para um hospital, podemos observar que o custo anual das perdas (CL) sem as medidas de proteção pode ser obtida no campo ressaltado em azul, sendo neste caso, R$ 56.934,00 (ver Figura 1a). O custo anual de perda residual (CRL), após as medidas de proteção, pode ser obtido na Figura 1b) no campo ressaltado em vermelho, sendo, no caso, R$ 213,00. O valor total da estrutura é de R$90.000.000,00.
A análise econômica deste caso é a seguinte: do valor total da estrutura, o montante que se coloca em risco anualmente é de R$ 56.934,00 em relação aos danos causados pelos raios. Se forem instaladas as medidas de proteção indicadas pela análise de risco, neste caso, a instalação de um SPDA com nível de proteção I, a instalação de um sistema coordenado de DPS para a linha elétrica e para a linha de sinais com nível de proteção I nas zonas 2, 3 e 4, instalar um sistema automático de proteção contra incêndio na zona 2 e instalar nas zonas 3 e 4 uma blindagem espacial tipo malha de 0,5 x 0,5 metros, o montante que se coloca em risco anualmente cai para R$ 213,00.
Dessa forma, se o custo para a instalação destas medidas de proteção multiplicado pela soma da taxa de juros mais a taxa de amortização mais a taxa de manutenção for inferior à diferença entre o custo anual das perdas (no exemplo: R$ 56.934,00) e o custo anual de perda residual (no exemplo R$ 213,00), ou seja, R$ 56.721,00, a proteção está justificada economicamente.
Esta análise permite também que sejam estudadas outras opções de medidas de proteção e comparar economicamente qual é mais viável.
Figura 1a) Tela do TUPAN 2015 sem medidas de proteção e 1b) com medidas de proteção.
*Hélio Eiji Sueta é doutor em Engenharia Elétrica e secretário da CE-003.064-10.