A distribuição de energia que queremos (e precisamos!)

Tradicionalmente, os sistemas de energia, especialmente a distribuição, são unidirecionais, baseados na geração centralizada, previsível e controlável/ ou despachável. Essa foi a lógica de construção e consolidação do Setor Elétrico Brasileiro- SEB, até muito recentemente, inclusive. 

Ocorre que, diante da atual tendência no setor, a geração de energia ganhou predominância local, ou seja, conectada diretamente às redes de distribuição, e essa tendência tornou-se a tônica da expansão da capacidade instalada nacional, forçando as empresas de distribuição a lidarem com a bidirecionalidade da energia e realizar ajustes nos planos, controle e gestão das redes de energia. 

Isto, geralmente, é denominado como recursos energéticos distribuídos (DER – Distributed Energy Resources) e, no caso específico das energias renováveis, fontes renováveis distribuídas de energia (DRES – Distributed Renewable Energy Sources).

Como já falamos nas colunas anteriores, o “problema” (ou a nova realidade) é mundial.

Dentro deste contexto, visualizamos o fenômeno igualmente mundial de transformação das distribuidoras tradicionais de energia elétrica, as chamadas Distribution Net Operators (DNOs) em Distribution System Operators (DSOs).

Os DSOs, desempenham um papel fundamental na facilitação e integração dos DERs nas redes elétricas, dentre elas:

Integração na Rede Elétrica: DSOs têm a responsabilidade de facilitar a conexão de DERs à rede elétrica. Isso envolve a criação de procedimentos e requisitos claros para a interconexão, garantindo que os sistemas distribuídos sejam integrados de maneira segura e eficiente.

Monitoramento e Controle Ativos: DSOs podem implementar sistemas de monitoramento em tempo real para rastrear a produção de energia em DERs, permitindo um gerenciamento mais eficiente da rede, com capacidade de resposta a flutuações na geração e na demanda.

Comunicação Avançada: A implementação de tecnologias de comunicação avançada permite que os DSOs se comuniquem de forma eficiente com DERs. Essencial para coordenar a operação da rede e garantir uma integração harmoniosa de múltiplas fontes de energia.

Planejamento da Rede: Os DSOs podem desenvolver estratégias de planejamento que considerem a expansão dos DERs, com a avaliação da capacidade da rede para acomodar novas DERs, e a identificação de pontos críticos e planejar investimentos necessários.

Flexibilidade Operacional: DSOs podem adotar práticas que permitam maior flexibilidade operacional, incluindo a capacidade de ajustar rapidamente a rede para lidar com variações na geração distribuída, como picos solares ou variações no vento.

Incentivos e Tarifas: DSOs podem trabalhar em conjunto com reguladores para desenvolver incentivos e tarifas que promovam DERs, de forma a incluir tarifas de injeção na rede, compensação líquida e outros mecanismos que tornem os DERs mais atrativos economicamente e remunerem adequadamente as DSOs.

Atualização da Infraestrutura: À medida que os DERs crescem, os DSOs podem investir na modernização da infraestrutura para acomodar as características específicas dessa forma de geração, considerando-se a atualização de sistemas de controle, a implementação de redes inteligentes e a integração de tecnologias avançadas.

Essa transição para um modelo mais dinâmico e descentralizado no setor de energia, destacando a necessidade de adaptações, por parte das DSOs, para incorporar efetivamente os DER e atender às novas demandas do sistema, indicam a tendência evolutiva que requer uma abordagem de planejamento, controle e gestão diferente dos padrões tradicionais.

A discussão sobre a modernização do setor elétrico e a preparação da regulação para o futuro deve certamente incluir a transição gradual do complexo modelo atual de governança do setor para um novo modelo, considerando-se como aspectos críticos as mudanças na forma de geração de energia, sejam as fontes, sejam as formas, e na estrutura do mercado – preço e contratos. 

Em última análise, a visão de remuneração das DSOs, condizente com o valor agregado para o sistema, destaca a importância de reconhecer e recompensar adequadamente o papel das distribuidoras no setor elétrico como um todo, principalmente, pela urgente necessidade de separação das atividades de distribuição e comercialização de energia. 

Neste sentido, a comercialização de energia, atualmente, realizada no mercado cativo, pelas distribuidoras, seja executada por uma nova empresa separada da empresa de distribuição. Essa separação visa, fundamentalmente, criar uma competição mais eficaz no mercado, com a nova empresa de comercialização competindo com as comercializadoras já estabelecidas no Ambiente de Contratação Livre (ACL).

Essa proposta indica uma abordagem gradual e planejada para a transição do modelo tradicional para um modelo (mais) descentralizado e orientado para o consumidor de energia. Ao final, o objetivo é promover eficiência, competição e a incorporação dos DERs, alinhando-se a práticas observadas em mercados mais avançados.

Todavia, essas considerações refletem a complexidade da transição de DNO para um modelo de DSO e destacam a importância de profundas modificações regulatórias, tecnológicas e operacionais para acomodar as urgentes mudanças no setor, especialmente diante da crescente presença de REDs.

Fontes:

Thymos WHITE PAPER – A SUSTENTABILIDADE DA DISTRIBUIÇÃO por meio de Operadores de Sistema de Distribuição (São Paulo, 20 de Junho de 2023).

GESEL – Grupo de Estudos do Setor Elétrico – Os desafios tecnológicos impostos às distribuidoras de energia elétrica.

Uso de novas tecnologias digitais para medição de consumo de energia e níveis de eficiência energética no Brasil – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

Modernização do Setor Elétrico: atuação da ANEEL e perspectivas regulatórias para osetor elétricobrasileiro – ANDRÉ PEPITONE DA NÓBREGA DIRETOR–GERAL DA ANEEL (03 de maio de 2021)

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