Voltei da COP 27 com uma visão e missão claríssimas: o Brasil tem uma imensa responsabilidade e peso no processo de transição energética e temos a oportunidade e tarefa de criar um cenário de investimentos para energia renovável que vai ajudar não apenas o Brasil, mas também outros países a lutar contra os efeitos do aquecimento global. E nossos bons ventos serão uma das forças mais importantes neste processo. É um trabalho que já começou a ser feito e que agora precisa ser intensificado. Minha mala de Sharm El-Sheik voltou lotada de planos e vou contar um pouco aqui para vocês o que vislumbro para os próximos anos.
Olhando especificamente sob o ponto de vista das energias renováveis, a COP deste ano reafirmou o que já sabíamos: o caminho para atingir as metas de descarbonização passa pela transição energética por meio de fontes de baixo impacto ambiental. O conflito Rússia e Ucrânia deixou esse cenário ainda mais evidente porque adicionou o ingrediente da segurança energética. Investir em energias renováveis é também um caminho para que os países tenham uma independência maior dos grandes fornecedores de carvão e petróleo. Além disso, as inovações tecnológicas deixam as renováveis cada vez mais competitivas. Quando olhamos o futuro não resta dúvidas de que ele será feito de fontes de energia de baixo impacto ambiental, mas a preocupação é que a velocidade dessa transformação precisa ser maior. Por isso, é preciso pensar em políticas estruturadas de energias renováveis e criar ambiente adequado para investimentos no setor.
Como enxergo o Brasil neste cenário? Em primeiro lugar, é preciso entender que o Brasil tem um ‘problema’ diferente: temos excesso de oferta de energia renovável e uma demanda com crescimento lento para absorver o grande potencial de investimento que o país é capaz de atrair. A busca por investimentos em tecnologias renováveis de produção de energia tem trazido um ganho de escala global para tecnologias nascentes, como é o caso da energia eólica onshore, offshore e energia solar; e tem permitido fortes investimentos em novas tecnologias, como baterias para armazenamento de grande porte e a produção de hidrogênio verde. É neste contexto que o Brasil se insere fortemente, tendo em vista a competitividade e a abundância de seus recursos renováveis para a produção de energia, que responde por 70% do custo de produção do hidrogênio verde. Embora algumas questões associadas a ganho de escala no armazenamento e no transporte desta molécula precisem ser resolvidas, o hidrogênio verde será muito em breve uma forma de energia armazenável e transportável entre as economias globais, podendo ser produzido por países com abundância de recursos renováveis como é o caso do Brasil.
Desta forma podemos vislumbrar um cenário de forte expansão da demanda por energia elétrica no Brasil para os próximos anos, sendo a oferta em grande medida atendida pela energia eólica onshore e offshore, além da energia solar e outras renováveis. Vale lembrar que o Brasil possui um sistema interligado nacional de produção e transporte de energia e atualmente a nossa produção de energia em MWh e superior a 90% de energias renováveis, caso único em país de grande porte.
E como hidrogênio verde e eólica offshore se casam? Embora não haja necessariamente uma relação de causa e efeito, é importante considerar que o potencial de geração de uma offshore no mar é muito grande e poderia facilmente abastecer plantas de produção de hidrogênio verde para exportação ou consumo próprio de forma sustentável, em operações portuárias facilitadas e de baixíssimo impacto ambiental e social. É uma verdadeira mina energética de baixo impacto em nossas mãos. E as empresas já sabem disso. A “corrida” do hidrogênio verde já começou com assinatura de memorandos de entendimento de companhias e governo para investimentos em polos de produção de hidrogênio em portos. O futuro desse casamento é promissor.
Autora:
Por Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).