* por Sergio Roberto Santos
A norma técnica ABNT NBR 5419:2015 – Proteção contra descargas atmosféricas determina que as edificações sejam protegidas contra os riscos de perda do patrimônio cultural e apresenta as medidas necessárias para que isso aconteça.
Embora seja um assunto distante do dia a dia da maioria dos profissionais que trabalham com a Proteção contra Descargas Atmosféricas (PDA), vale a pena utilizar este espaço para refletir sobre este tema. Seja a proteção de edificações, ou a proteção de objetos, como quadros, esculturas e livros, temos aqui uma ótima oportunidade de interação entre arquitetos e engenheiros eletricistas.
A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, substituiu a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural Brasileiro, incorporando o conceito de referência cultural e a definição dos bens passíveis de reconhecimento, sobretudo, os de caráter imaterial¹.
A proteção dos bens culturais materiais, sujeitos à destruição tanto pelas descargas atmosféricas diretas, quanto pelas consequências de surtos de tensão e corrente, causados por descargas indiretas, é um grande desafio para os especialistas na PDA, já que envolve o projeto do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) e das Medidas de Proteção contra Surtos (MPS) em prédios e instalações elétricas muito antigas, como igrejas, castelos, museus etc., onde as características arquitetônicas não devem ser modificadas.
Em sua parte dois, Gerenciamento de risco, a norma ABNT NBR 5419:2015 define a perda de patrimônio cultural com o índice L3, sendo ela causada por descargas atmosféricas diretas na estrutura (S1) ou linhas de energia e sinal a ela conectadas (S3). Já o risco de esta perda acontecer recebeu o índice R3, risco de perda de patrimônio cultural, sendo tolerável um risco da ordem de 10-4, muito baixo, já que o risco zero seria algo totalmente utópico.
Embora muitos possam pensar que as medidas para a proteção contra perda de vidas humanas (L1), risco tolerável de 10-5, possa ser suficiente para também proteger os bens de valor cultural, devemos lembrar que esses não se auto locomovem, são passíveis de serem atingidos diretamente por um raio e, na sua maioria, são altamente vulneráveis ao fogo.
Além da proteção dos bens culturais em si, as MPSs evitam que os sistemas de preservação de bibliotecas, museus, igrejas e pinacotecas falhem durante ou após uma descarga atmosférica, evitando prejuízos e preservando o patrimônio.
A internet apresenta vários exemplos de museus destruídos por descargas atmosféricas² (foto). A norma ABNT NBR 5419:2015 não foi omissa em relação ao valor intrínseco da cultura para a nossa qualidade de vida, trazendo as ferramentas necessárias para que o patrimônio cultural brasileiro seja protegido contra as descargas atmosféricas. Cabe agora a quem de direito, arquitetos e engenheiros, levar às nossas autoridades a informação de que destruições causadas por raios não são meras fatalidades.
*Sergio Roberto Santos é engenheiro eletricista e membro da comissão de estudos CE 03:64.10 do CB-3 da ABNT.