O veículo eletrificado é um tema mais que centenário. Surgiu na segunda metade do século XIX, quando a Siemens, a GE e o próprio Thomas Edison, entre outros incentivadores, começaram a desenvolver a ideia do veículo eletrificado, autossuficientes, alimentados por acumuladores e os conectados, com suprimento de energia elétrica de uma fonte externa, alimentada por meio de condutores ao nível do piso, ou cabo aéreo, em catenárias, como nos trens, subways, bondes e trólebus.
Ocorreu que, no início do século XX, a grande produção de combustíveis fósseis, oriunda da exploração do petróleo nos Estados Unidos, com preços baixos, desestimulou os veículos eletrificados e logo foram suspensas as pesquisas sobre os acumuladores elétricos. Assim praticamente “adormeceu” a sua industrialização. No entanto, os estudos e aperfeiçoamentos da motorização elétrica conectada continuaram e desde então, vem sendo utilizada e a cada dia são mais eficientes no transporte de passageiros e cargas.
Estes veículos voltam agora com destaque no cenário mundial, em parte estimulado pelo Elon Musk da TESLA, com alta tecnologia e soluções de inteligência , trazendo inclusive a versão hibrida com motorização a combustão, compartilhada com propulsão elétrica, com regeneração de energia e opcional recarga. Esta tecnologia contribui com o enorme apelo pela redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), que promovem a preocupante crise climática. Obtém-se assim uma redução significativa de emissões de GEE que deverá ser avaliada, em cada região, a partir da sua matriz energética, sendo que as localidades com predominância de energias renováveis, terão as maiores reduções.
Destaca-se que muitas cidades, apresentam em seus Inventários de Emissões, significativo percentual oriundo da mobilidade urbana, que precisa ser reduzido.
Cita-se que países, como a Polônia, que utilizam carvão mineral na geração de energia elétrica, praticamente não terão ganho ambiental. Já o Brasil, neste caso, tem uma posição privilegiada, pois na nossa matriz energética pouco mais de 6% é de origem não renovável, com o carvão e combustível fóssil.
Não há dúvida da eficiência energética dos veículos eletrificados. Avalia-se que aproveitam em torno de 90% da energia disponível, enquanto os de motores a combustão apenas 30% a 40%. Sua manutenção é também muito menor, pois, têm apenas cerca de 50 partes moveis enquanto os a combustão possuem acima de 400.
Se de um lado os veículos eletrificados chegam sinalizando a redução nas emissões de gases nocivos, é-nos apresentado um outro problema, que são as baterias, com sua vida útil no entorno de 8 anos, demandando após este prazo, passar por um reaproveitamento, e posterior de descarte. pela redução da capacidade de armazenamento. Poderão também ser redirecionadas para outras finalidades que exijam menor desempenho.
O descarte descontrolado de baterias poderá causar um grave passivo ambiental, diante da sua composição com metais, como lítio, cobalto e níquel, entre outros componentes. Urge então uma legislação específica para a sua coleta, armazenamento, opções para a reutilização no pós uso, assim como estudos para o reaproveitamento dos metais com elevado risco na manipulação e no seu desligamento, em face das tensões elétricas. Existe, portanto, um desafio e uma oportunidade para estudos da engenharia, objetivando a minimização dos custos do reprocessamento.
O desenvolvimento de competências e de mão de obra qualificada é outro desafio a ser encarado, devendo a temática fazer parte das grades curriculares nos treinamentos em vários níveis.
Estes desafios que são expostos, merecem a atenção especial das Instituições competentes bem como da iniciativa privada, que poderá extrair oportunidades, diante da necessidade da modernização da indústria automobilística, demandando mais tecnologia.
O impacto da recarga dos veículos eletrificados e híbridos, nos sistemas existentes das distribuidoras de energia elétrica, segundo estudos realizados pela CPFL, ao atingirem 10% da frota de veículos, representará um aumento de ordem de 1,6% do consumo, o que será facilmente assimilado, sem a necessidade de reforço na infraestrutura. Contudo, não podemos desprezar a eventualidade do aumento da demanda no “horário ponta do consumo”, que poderá ser equacionado com tarifas diferenciadas, ou por controle inteligente em Smart Grids, com o gerenciamento das estações de recarga, tanto para os consumidores em condomínios privados como os públicas e nos eletro postos.
As concessionárias deverão, a partir da Resolução da ANEEL 819 de 19 de julho de 2018, emitir normas especificas, como feito pela COPEL, na Norma Técnica, NTC 902210, Estações de Recarga de Veículos Elétricos, definindo as potências em função do tempo de recarga, assim como os parâmetros de simultaneidade para os postos de recarga e indicar outras condicionantes.
É necessário definir e implementar a unidade consumidora. Sugerimos que seja dedicada e exclusiva para pontos de recarga nos condomínios e nos eletros postos públicos, que poderão ser terceirizados.
As novas construções deverão implementar as unidades consumidoras, a partir dos parâmetros definidos nos Códigos de Obras Municipais, em todas as edificações e nos atuais postos de abastecimento automotivo, tanto para veículos eletrificados como para os híbridos, uma vez que já estão presentes em nossas cidades e em um cenário de algumas décadas, poderemos não ter mais veículos alimentados por combustíveis fósseis. Devemos considerar também, que se prevê, diante das mudanças de hábitos, em futuro próximo, o transporte privativo individual poderá ser significativamente substituído pelos veículos acessíveis por aplicativos, por assinatura e pelo extraordinário “autônomo”, desenhados para novo mundo que já vivemos.