Em evento da ANEEL, Marcos Madureira falou sobre os desafios do segmento de distribuição para manter o fornecimento de energia durante eventos climáticos extremos
presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE), Marcos Madureira, apresentou o trabalho realizado pelas distribuidoras nos últimos anos para melhorar o serviço e destacou as iniciativas do segmento para aprimorar a resiliência das redes durante eventos climáticos extremos. O tema foi debatido no workshop “Resiliência de Redes frente a Eventos Climáticos de Elevada Severidade”, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) na quinta-feira (22).
Madureira disse que as distribuidoras vêm investindo sistematicamente em inovações e melhorias na infraestrutura de rede e, ainda assim, o segmento segue sendo o que mais contribui para a modicidade tarifária. “O segmento de distribuição é onde existe a própria mão do regulador para buscar fazer com que os ganhos de eficiência possam ser traduzidos em modicidade tarifária. Porque nós temos, sim, avançado na qualidade e no trabalho prestado aos consumidores com custos cada vez menores”, analisou.
Já na abertura do evento, o diretor geral da ANEEL, Sandoval Feitosa, observou que 2023 foi o ano mais quente em todo o registro histórico mundial. No Brasil, o ano foi marcado pelo aumento dos fenômenos climáticos extremos, como temporais e ondas de calor. “Essa é uma realidade com a qual nós temos que nos adaptar daqui para frente”, advertiu, lembrando o aumento de ocorrências desde julho.
Sandoval destacou também os impactos das mudanças climáticas sobre o setor elétrico, em especial nos segmentos de distribuição e transmissão. “Todos os registros mostram, indiscutivelmente, que nós temos um problema. E quando digo “nós”, eu incluo aqui não apenas as distribuidoras, as transmissoras, mas as defesas civis dos estados, dos municípios, corpo de bombeiros, prefeitos e governadores. Porque eventos dessa magnitude, não há condições para que as distribuidoras e transmissoras tenham capacidade a altura. É necessária atuação de todos os entes federados.” E completou: “Aqui, eu posso afirmar e reafirmar que as distribuidoras e transmissoras, exatamente pelo espírito de já ter vestido essa camisa tanto de um segmento quanto do outro, a preocupação principal do profissional da área de energia é reestabelecer o serviço.” finaliza.
Melhorias no serviço e união dos agentes
Iniciativas da Abradee com a Agência de Comércio e Desenvolvimento dos Estados Unidos (USTDA, na sigla em inglês) buscam na experiência internacional formas de aumentar a resiliência e a capacidade de se antecipar aos eventos extremos. No entanto, como parte dos investimentos é repassado à tarifa, a aplicação de novas tecnologias esbarra nos subsídios que elevam o preço da energia no mercado regulado.
“É hora de pensar no que de fato traz benefícios ao consumidor. Se precisamos ter redes mais resilientes e métodos de trabalho mais adequados, precisamos olhar quanto custa, como vamos colocar isso de uma maneira segura e confiável sem aumentar o preço da energia elétrica. Para isso, temos que olhar para a composição da tarifa”, disse. Por isso, o presidente da Abradee pediu união dos agentes e órgãos do setor.Marcos Madureira
A união também foi abordada pelo presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Luiz Eduardo Barata. Para ele, as distribuidoras são a linha de frente do sistema elétrico, em contato direto com o consumidor, mas não podem resolver tudo sozinhas. “Não são só as concessionárias de distribuição. São as concessionárias de distribuição, mas também são os entes políticos que são responsáveis pela administração das cidades e dos estados”, considerou.
Uma queixa frequente e que ilustra o caso é a queda de árvores sobre a rede elétrica. Sobre este exemplo, Barata ponderou: “É muito comum e muito fácil apontar logo o dedo para a distribuidora, dizer que a distribuidora atende mal, que ficou dias sem luz. Acontece o seguinte: a responsabilidade pela poda das árvores não é das distribuidoras”.
O sistema elétrico em debate
O evento contou com representantes de empresas dos segmentos de distribuição e transmissão de energia comentando suas iniciativas de prevenção e resposta às oscilações do clima. O foco foi a troca de informações e experiências sobre como mitigar os efeitos das ocorrências e, em caso de falhas no fornecimento, como retomar os serviços de forma rápida e segura.
Ampliando o debate, órgãos de pesquisa sobre o clima falaram sobre a detecção de eventos. Nesse ponto, frisou-se que, além de detectar, é preciso divulgar informações sobre possíveis ocorrências. Também foi realizado um painel exclusivo com institutos de pesquisa especializados no setor elétrico, que deram suas percepções sobre a resiliência do sistema às mudanças climáticas e mostraram os principais pontos de atenção.