Edição 121 – Fevereiro de 2016
Por José Starosta
Disponibilidade de energia e planejamento de longo prazo é uma atividade de Estado que depende de uma série de variáveis. Aqueles que buscam pelas respostas analisam diversos cenários da economia para definir a oferta, buscando os modelos e melhores saídas técnicas e econômicas aplicáveis e viáveis.
O comportamento do consumo de energia nas diversas classes (ver Figura 1) e uma composição de cenário talvez inimaginável pelos planejadores com forte recessão e seca de reservatórios (ver Figura 2), aliado a medidas populistas de redução de custo de energia com impulso no consumo residencial no primeiro momento e súbito aumento de tarifas, nos leva a uma situação no mínimo inusitada. A forte produção térmica para compor a matriz de geração hidrelétrica fez os preços de energia subirem, não só pelo modelo das bandeiras tarifárias, mas pelo aumento das tarifas aplicado pelas distribuidoras que foram socorridas para o cumprimento dos contratos e que agora passam os custos aos consumidores. Note que, em meados de 2015, a situação dos reservatórios passou a melhorar em relação a 2014, e ao final, em dezembro de 2015, apesar de nada confortável, efetivamente estava melhor que em 2014 ao ponto de as autoridades do governo anunciarem para os próximos meses a mudança de bandeira da vermelha para a verde. Apontar a mudança da bandeira para primeiro de abril é “maldade”.
Consumo anual – GWh
Figura 1- Consumo de energia elétrica anual por classes – Brasil. | Fonte: EPE
Capacidade equivalente dos reservatórios
Figura 2 – Capacidade de reservatórios. | Fonte: ONS
Em números redondos, ainda cerca de 7% de nossa matriz energética foi gerada no final de 2015 com energia suja (óleo e carvão) caracterizando os custos marginais de operação térmicos (CMO) para valores de até R$ 360/MWh na região Nordeste. Nas outras regiões, ao final de 2015, o CMO estava entre R$ 130/MWh e R$ 170/MWh. O PLD exceto no Nordeste está na faixa dos R$ 30/MWh e a energia no mercado livre pode ser encontrada hoje a R$ 80/MWh. Tudo isso nos aponta para um cenário de sobra de energia no mercado e nos leva a situações que merecem reflexões que podem afetar a operação de nossas instalações, causando ainda desequilíbrios de mercado e outros impactos:
- O mercado livre de energia, que se manteve parado no período de seca, volta a respirar, pois possui mercadoria barata e disponível;
- Em contraponto, as distribuidoras começam a fazer suas contas com forte expectativa de perda de mercado e dificuldades na operação;
- A geração distribuída é uma realidade com terreno fértil a ser desenvolvido;
- Esperam-se novas fontes de energia contribuindo com a nossa matriz em valores da ordem de 14 GW;
- Enquanto isso, mais uma vez, a eficiência energética, fonte mais barata e sustentável, espera a sua vez no Brasil. Estamos desperdiçando a oportunidade de trocar a geração de energia suja por projetos de eficiência energética, mais baratos na implantação, na operação e sem custos de distribuição.
Será que as distribuidoras, neste cenário, terão capacidade de manter os sistemas de distribuição que atendem aos consumidores cativos, mas também aos livres, dentro de expectativas aceitáveis? Será que obteremos melhoria nos indicadores de qualidade de energia, tão desejados? E os indicadores de qualidade de energia que ainda não são considerados como os transientes e afundamentos, será que as distribuidoras terão condições de atender ao novo indicador de qualidade de energia previsto pelo módulo 8 – “fator de impacto” (FI)? Como será a expectativa? A resposta parece clara. Ou mudamos o modelo e os mecanismos atuais ou eles acabarão conosco. Não teremos energia disponível e confiável em nossos pontos de acoplamento, será o “ponto de desacoplamento comum” (PDC)!