Não pretendemos tratar diretamente sobre os aspectos sectários, religiosos, futebolísticos, político-partidários ou quaisquer outros fanatismos do cotidiano, mas sim, daqueles que permeiam os aspectos técnicos do nosso complexo setor elétrico brasileiro.
Não bastasse a recente tragédia no Rio Grande do Sul, neste 11 de setembro (ops!), assistimos impotentes o Brasil em chamas, com altos impactos no meio ambiente e na saúde pública. As notícias dos fatos são sempre relacionadas às “mudanças climáticas”.
Assistimos também a ANEEL, nesse mesmo período, anunciando a tarifa vermelha na conta de luz, decisão técnica devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Decorrente dessa redução da capacidade das hidrelétricas, se faz necessário o aumento da produção das usinas térmicas, com uso de combustíveis fósseis, o que representa, automaticamente, maiores impactos no custo da energia gerada.
Os mais desatentos podem se perguntar: “mas por que o contínuo aumento da produção de energia proveniente das fontes eólica e solar não estão compensando o esvaziamento das hidráulicas, tornando a energia mais barata?”
Assunto já bastante discutido, este é, na verdade, o espiral da “morte” das distribuidoras de energia, considerando que quanto maior for o número de GD’s instaladas em consumidores, menor será a energia distribuída pelas distribuidoras/concessionárias. Cabe ressaltar que, de forma tragicômica, são justamente as distribuidoras, as responsáveis pelo fornecimento da infraestrutura para receber a energia gerada pelos consumidores e suas GD’s, que, inclusive, provocam impactos negativos na qualidade da energia elétrica. Os consumidores que não possuem GD irão dividir a conta da manutenção da rede elétrica.
A necessária robustez do sistema elétrico nacional (e qualquer outro sistema elétrico) depende, dentre outras variáveis, da potência de curto-circuito e alta disponibilidade, características não presentes, por enquanto, nas fotovoltaicas e eólicas. A equação não possui solução imediata e requer avaliação de múltiplas variáveis, tratadas pelo planejamento energético nacional, com investimentos públicos, constantemente protelados e prazos não cumpridos.
Consumidores já não toleram as condições impostas pelo lado do fornecimento e arcam com custos adicionais para manterem suas atividades produtivas.
Os impactos ambientais são sentidos dramaticamente em todas as esferas, ano após ano, sem políticas de Estado para a solução dessas questões. Merecíamos ter um esforço de guerra para combater esses já conhecidos efeitos. Gestores públicos que qualificam a situação de inesperada e apontam o dedo a outrem, não são, definitivamente, o esperado pela sociedade. Talvez apontá-los para seus próprios espelhos, possa ser a melhor saída.
Sobre o autor:
Por: Eng José Starosta – Diretor da Ação Engenharia e Instalações Ltda – [email protected]