No primeiro trimestre de 2022, a expansão da geração distribuída (GD) está mantendo o ritmo de aceleração. Ao atingir a marca de 10 gigawatts (GW) de potência instalada no dia 29 de março, o País passou de 9 GW para 10 GW em apenas 67 dias. É fato que esse intervalo foi maior que o percorrido para alcançar o gigawatt anterior – nesse caso, um total de 42 dias -, mas a implementação de 1 GW em pouco mais de dois meses ainda é dado bastante positivo: é a segunda vez na história que crescemos 1 GW em menos de três meses.
Além disso, de acordo com a dinâmica brasileira, em todos os anos, o primeiro trimestre tem a evolução da atividade econômica dos mais distintos setores impactada por feriados, o que se aplica à GD, como observado em anos anteriores. Os três primeiros meses do ano também funcionam como um período de tomada de decisão para novos projetos e, levando em conta a sanção da Lei 14.300/2022 no início de janeiro, é assertivo afirmar que está em alta a contratação de projetos de minigeração e microgeração e que as instalações estão por vir.
Até o fim de dezembro, o Brasil deverá ultrapassar a marca de 15 GW, confirmando 2022 como o ano da “corrida ao sol”. Com o novo marco legal, há uma antecipação de projetos para garantir um melhor resultado do investimento até 2045, já que a lei prevê a gratuidade da cobrança da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) para quem ingressar no sistema de compensação até 6 de janeiro de 2023. Os sistemas implementados após esse prazo passarão a pagar um percentual da TUSD.
Nesse ponto, é importante reforçar que o início da cobrança da tarifa não será o fim da geração distribuída no País: geração própria de energia on grid continuará atrativa. Entre os fatores que corroboram essa afirmação, destaco, de início, as previsões de manutenção do custo elevado da energia, o que reforça que o investimento terá retorno financeiro.
Além disso, a relação da sociedade com a energia está passando por uma transformação em que dois eixos se destacam e favorecem a evolução da geração distribuída. Na pauta de segurança energética, trazer para as mãos de cidadãos e empresas um meio de geração própria de energia vai fazer cada vez mais sentido e, consequentemente, haverá maior adesão. Outro fator importante é a preocupação, cada vez mais disseminada, com o impacto ambiental que a geração de energia provoca e, mais uma vez, uma pauta em que GD tem espaço inabalável, já que emprega fontes renováveis.
Destaco ainda a democratização do acesso à energia como fator de vantagem, o que já se traduz em números. Com mais de 1,17 milhão de conexões totais, a geração distribuída nacional está dividida entre as classes de consumo residencial (43,6%), comercial (33,2%), rural (13,9%) e industrial (7,9%).
Ou seja, não é por obra do acaso que o País vai acrescentar cerca de 8 GW de geração distribuída em apenas um ano, até o fim de 2022, entregando o equivalente a meia Itaipu! Essa verdadeira revolução está se realizando com investimentos privados das mais diferentes grandezas: desde usinas de 5 megawatts até cidadãos que financiam um pequeno conjunto de placas fotovoltaicas para instalação residencial. A geração distribuída, no contexto brasileiro, é um meio de efetiva participação da sociedade nos rumos da política energética nacional.
Autor:
Por Guilherme Chrispim, presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).