Brasil lidera grupo de trabalho para discutir padrão internacional de produção de hidrogênio verde

Entre os dias 28 de agosto e 02 de setembro, acontece em Paris a edição de 2022 do “CIGRE Session”, um dos principais eventos globais para especialistas em sistemas de energia, conduzido pelo Conselho Internacional de Grandes Sistemas Elétricos (CIGRÉ). Entre os tópicos abordados, a busca pela descarbonização do setor através do hidrogênio não poderia ficar de fora, com o Brasil se colocando em uma posição de destaque no assunto. Isso porque, durante a realização do congresso, ocorrerá o processo de validação do Grupo de Trabalho Internacional de Certificação do Hidrogênio, idealizado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). 

A iniciativa brasileira, já pré-aprovada junto ao Conselho, visa instituir e viabilizar a criação de um padrão internacional de requisitos que definam e garantam as características do hidrogênio de baixa emissão de carbono. Para Ricardo Gedra, gerente de Análise e Informações ao Mercado na CCEE e coordenador do projeto, a importância desse grupo de trabalho se dá, em grande parte, pelo movimento de comercialização e importação do item que, na visão do engenheiro, tende a ser uma commodity no futuro. “Com isso, é importante que ele seja padronizado, uma vez que não é possível comercializar um produto que não possua um padrão”, destaca.

Referência em energias renováveis, o Brasil vive uma tendência de aumento das iniciativas na busca por hidrogênio descarbonizado – item que ainda se encontra em fase de pesquisa e de desenvolvimento de soluções mais baratas, considerando que a tecnologia de produção deste produto ainda é cara. Segundo estudo divulgado pela empresa de consultoria empresarial McKinsey & Company em novembro de 2021, estamos entre os países mais competitivos para a produção de hidrogênio verde no mundo. Em junho deste ano, vimos um novo avanço: foi assinado o primeiro pré-contrato para a criação do Hub do Hidrogênio Verde no Ceará, que ficará localizado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). O documento firmado pela empresa australiana Fortescue prevê a instalação de uma usina produtora de hidrogênio verde no setor 2 da ZPE Ceará.

Como ocorre a produção de hidrogênio verde

Considerado o elemento químico mais abundante na natureza, o hidrogênio é um recurso energético com potencial para resolver um problema enfrentado por diversas organizações e governos ao redor do mundo: a alta emissão de gases causadores do efeito estufa. Contudo, sua obtenção só pode ser feita a partir de processos que envolvem outros elementos. Os procedimentos mais comuns são realizados por meio de combustíveis fósseis e geram o chamado hidrogênio cinza por conta das emissões de CO2 resultantes destes processos. 

Ao substituir essa técnica por outra que utilize fontes renováveis, gera-se uma produção energética mais sustentável, conhecida popularmente como hidrogênio verde. Essas produções podem ser realizadas de diversas maneiras, sendo a mais usual a que envolve a eletrólise da água – resultado da separação das moléculas da água (H2O), por meio de uma corrente elétrica, em moléculas de hidrogênio (H2) e oxigênio (O2). Sobre esse método, Ricardo Gedra cita outro ponto fundamental para ilustrar a importância da certificação: “Se uma empresa que compra esse hidrogênio quer usá-lo para descarbonizar, é importante que ela tenha certeza de que a descarbonização realmente aconteceu. A certificação entra nesse momento para garantir que houve um processo limpo em toda a cadeia produtiva”.