Nos dias 12, 13 e 14 de setembro de 2023, a capital paulista se tornou o epicentro das discussões mais relevantes sobre o panorama da transição energética no país. Sob o tema “Política Industrial Sustentável e Transição Energética Justa: O Brasil como Protagonista”, a 14ª edição do Brazil Windpower, reconhecido como o principal evento de energia eólica da América Latina, reuniu cerca de 6.500 visitantes nos três dias de congresso, mais de 160 debatedores e quase 50 horas de painéis divididos pelas três arenas montadas na São Paulo Expo, além de mais de 100 empresas expositoras.
Confira o que foi destaque*:
Primeiro dia
O tema transição energética justa marcou os discursos de autoridades e de executivos durante o primeiro dia de evento. Logo na abertura, Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, destacou a importância de um setor que gera mais de 300 mil empregos diretos.
“O Brasil conta com mais de 26 watts de potência instalada, mais de R$ 200 bilhões investidos e com impacto de mais de R$ 500 bilhões no PIB. Nosso objetivo é manter essa capacidade de entrega e ser o celeiro de energias limpas e renováveis”, disse o ministro.
Enquanto isso, Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte, lembrou que para ser sustentável é preciso ser justo e inclusivo. “Temos um compromisso de fazer essa discussão com a sociedade, se quisermos que o Brasil avance na questão das energias renováveis”, afirmou.
Hoje, o Brasil conta com mais de 800 parques eólicos instalados em 12 estados brasileiros, que somam cerca de 25 gigawatts de capacidade instalada, beneficiando mais de 100 milhões de pessoas. Para se ter ideia, foi superado, globalmente, a marca de 1 terawatt de energia eólica, número que levou 40 anos para ser alcançado.
“Precisamos ser oito vezes maiores nos próximos anos, um desafio longo para a indústria. O Brasil tem uma oportunidade única porque é um exportador de comodities essenciais para a energia eólica”, destacou Ben Backwell, CEO da Global Wind Energy Council (GWEC), ainda na abertura do evento.
Aliás, a contribuição do Brasil é de muita importância no processo de transformação energética. “O Brasil tem uma diversidade de recursos energéticos que colocam o país num cenário único”, enfatizou Mariana Espécie, diretora do Departamento de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia. “É uma expansão que precisa ser planejada em conjunto”, acrescentou Angela Livino, Presidente Interina da EPE.
Hidrogênio Verde
Entre os diversos temas abordados no dia, o hidrogênio verde teve destaque. A possibilidade de o Brasil se tornar uma das principais potências na produção em hidrogênio verde, e, ao mesmo tempo, estar atento à necessidade de uma regulamentação para acelerar esse crescimento pautou o painel “Regulação, Cadeia Produtiva e os Hubs em Desenvolvimento no Brasil – Pacto de Hidrogênio”.
“O hidrogênio verde é uma realidade, mas está sem regulação. Precisamos criar um marco regulatório. O tempo é curto e precisamos acelerar”, salientou Elbia Gannoum, presidente-executiva da ABEEólica.
Segundo dia
O presente e, principalmente, o futuro do offshore no Brasil centralizaram as atenções do segundo dia do Brazil Windpower. Em um dos vários painéis, autoridades de Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, quatro dos estados considerados protagonistas do tema energia renovável, mostraram como estão preparados para impulsionar as eólicas offshore. No entanto, foi consenso entre todos os participantes a necessidade de um marco regulatório federal.
Isso, segundo os participantes, é fundamental para que o Brasil se torne uma referência global no assunto. “Essa transformação energética é uma necessidade urgente para o nosso país”, destacou Jaime Calado, secretário do Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte.
Considerada uma das apostas para a transição energética, a energia eólica offshore tem um potencial energético de cerca de 700 gigawatts (GW), podendo ampliar em 3,6 vezes a capacidade de energia já instalada no Brasil, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Globalmente, estima-se que 260 GW na nova capacidade eólica offshore podem ser adicionados até 2030. Para isso, estão previstos investimentos na ordem de US$ 1 trilhão. Mas, no Brasil, a fonte ainda dá seus primeiros passos. Ainda de acordo com a CNI, o Ibama contabilizava 78 pedidos de licenciamento para projetos deste tipo até o final de agosto, somando 189 GW de potência instalada. Essa é quase a capacidade total de energia já instalada centralizada no País e conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Ainda durante o segundo dia, outros dois temas foram explorados no evento: mercado de carbono e hidrogênio renovável. Durante o painel “Mercado de carbono – Regulação e potencialidades do Brasil”, especialistas lembraram que essa não é uma agenda apenas ambiental, mas, também, econômica, social e comportamental. Isso, segundo os participantes, interessa a empresas, estados, países e investidores. “O mercado de carbono pode impulsionar as energias renováveis e as novas tecnologias para o setor”, comentou Fernanda Guedes, especialista em Novas Tecnologias na ABEEólica.
Outro painel detalhou a importância do hidrogênio renovável para o processo de descarbonização. Os segmentos da indústria que já usam, por exemplo, o hidrogênio verde são a siderurgia brasileira, com o minério de ferro, o fertilizante verde e os combustíveis sintéticos. “Existe um mercado doméstico gigante que precisamos aproveitar”, lembrou Rodrigo Santana, Diretor de Operações da Atlas Agro.
Onshore: Petrobras e WEG anunciam parceria
“A Petrobras assume hoje a posição de maior desenvolvedora de projetos de energia eólica do Brasil”. Com esse discurso, Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, mostrou a importância do tema para a empresa e aproveitou para dar mais detalhes da parceria com WEG, multinacional brasileira especializada na fabricação e comercialização de motores elétricos, transformadores, geradores e tintas.
O anúncio contempla o desenvolvimento conjunto de um aerogerador onshore de 7 MW de potência instalada, o primeiro desse porte a ser fabricado no Brasil. “Vai ser muito importante para os investimentos em energia eólica no Brasil”, celebrou Harry Schmelzer Jr., presidente Executivo da WEG.
Terceiro dia
Os painéis do terceiro e último dia do Brazil Windpower mostraram um setor eólico pronto para receber investimentos, com infraestrutura e tecnologia suficientes para transformar o país em uma potência global, mas que, ao mesmo tempo, vive a ansiedade pela aprovação do Projeto de Lei 576/2021, que disciplina a exploração e desenvolvimento de energia a partir de fontes de instalação offshore. Na visão de especialistas, com esse marco regulatório, haverá um ambiente jurídico seguro e será o passo mais importante para “destravar o crescimento da indústria eólica no Brasil”.
“Acreditamos no Brasil. Antes, não tínhamos nada. Agora há um PL quase aprovado. Mas, como toda empresa global, os investimentos são focados onde existam oportunidades de forma sustentável”, disse André Leite, diretor de Eólicas Offshore para América Latina da Equinor. Durante sua participação no painel “Regulatório – Uso de Cessão”, um dos mais aguardados deste dia, o executivo pediu um “ambiente regulatório claro e amigo”.
Ainda no mesmo painel, Mariana Espécie, diretora do Departamento de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia, reforçou o comprometimento do Governo Federal nesta transição energética. “Antes mesmo da aprovação do PL, já estamos constituindo um grupo de trabalho para pensar em políticas públicas. Trata-se de um tema que envolve muitos órgãos de diferentes ministérios. Além disso, queremos nos aproximar cada vez mais do setor privado e aprender com quem tem experiência.”
País pronto para receber investimentos
Enquanto autoridades e executivos das principais empresas do setor aguardam ansiosos pela aprovação do projeto de lei, o que se vê é um Brasil pronto e com um nível de maturidade capaz de colocar o país no papel de protagonista de transição energética global.
A questão é “como atrair esse investimento estrangeiro e envolver ainda mais os players locais nesse momento?” Essa preocupação foi tema de outro painel realizado no último dia do Brazil Windpower. Além dos bancos estatais, alguns privados já estão de olho no setor de energia renovável. O Pan American Energy, por exemplo, está investindo R$ 3 bilhões no Complexo Eólico Novo Horizonte, na Bahia, com capacidade instalada de 423 MW.
Em outro painel, “As Rotas de Mercado e as Novas Tecnologias de Energia”, ficou claro que a grande meta para todos os players envolvidos no processo de energia eólica no Brasil é a descarbonização e a luta contra as mudanças climáticas. “A gente precisa pensar para além de marcos regulatórios, mas termos incentivos para a indústria fazer a transição e incentivo para quem consome’, afirmou Gabriela da Rocha Oliveira, Head Renewable Generation Latam da Shell.
Próxima edição
A 15ª edição do Brazil Windpower já tem data marcada: de 22 a 24 de outubro de 2024, sendo realizada novamente no São Paulo Expo. Mais detalhes do evento e informações sobre inscrições devem ser divulgados ao longo dos próximos meses, no site do congresso.
*Com informações de Brazil Windpower.