Diretoria da SBQEE*
Se olharmos para o início da utilização da energia elétrica pela humanidade, basicamente, a qualidade era medida pela disponibilidade ou não da mesma. Ou seja, o único indicador era quanto tempo tínhamos uma fonte de energia elétrica disponível.
Com a evolução dos sistemas, aumentou-se a percepção de que somente o indicador de disponibilidade da energia elétrica não era suficiente para medir a qualidade, pois diversos equipamentos começaram a falhar, ter vida útil reduzida, aumentar o consumo etc. Desta forma, outros indicadores como valor ficaz da tensão, distorção harmônica, flutuação de tensão, desequilíbrio de tensão etc., foram surgindo. E os problemas nem sempre eram de fácil resolução, haja vista que o sistema elétrico estava evoluindo rapidamente. Já no início da década de 1990, surgiam os primeiros eventos internacionais para reunir especialistas e fomentar discussões sobre estes assuntos.
Estas mesmas questões motivaram a criação de um evento nacional dedicado ao tema Qualidade da Energia Elétrica, o qual congregasse academia, indústrias, concessionárias de energia, centros de pesquisa, entre outros. Assim, em 1996, foi realizado o primeiro Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica. A partir da sexta edição, a qual ocorreu em 2007, o evento começou a ser chamado de Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE). Esta conferência é realizada bienalmente e já esteve presente em todas as regiões do Brasil. A conferência se consolidou rapidamente e hoje é o maior evento dedicado ao assunto em toda a América do Sul, recebendo contribuições não só do Brasil, mas também de diversos países vizinhos.
Desde a criação da CBQEE, até a atualidade, o sistema elétrico mudou muito. No princípio, se tinha uma ideia de que boa parte dos problemas eram advindos das cargas, sejam elas intermitentes, não lineares etc. Além do mais, nos sistemas de geração e transmissão, havia poucos elementos perturbadores – podemos ressaltar a linha de transmissão em corrente contínua, a qual transporta a energia da parte paraguaia de Itaipú para a região metropolitana de São Paulo –, e poucos compensadores estáticos. Portanto, os trabalhos focavam muito em cargas (tanto como geradoras de distúrbios, quanto como a sensibilidade que elas tinham aos distúrbios presentes na energia elétrica) e em soluções mitigadoras. Todavia, atualmente, o cenário está bem diferente, a saber:
- As cargas que eram sensíveis a problemas na rede elétrica estão cada vez mais imunes a estes;
- Por outro lado, as cargas não lineares, que eram encontradas quase que exclusivamente em ambientes industriais, hoje, estão presentes nas residências. Podemos citar equipamentos eletrônicos (computadores, televisões, celulares etc.), lâmpadas a LED, equipamentos com conversores de frequência (refrigeradores, máquinas de lavar e ar-condicionado), entre outros;
- Voltando-se ao sistema de geração, a energia eólica e solar hoje são realidade, trazendo maior diversidade e segurança para a matriz energética brasileira. São fontes renováveis e de baixo impacto ambiental. No entanto, possuem conversores de frequência para compatibilizar a intermitência da fonte primária de energia (velocidade do vento e incidência solar) com os padrões necessários à conexão na rede elétrica;
- O sistema de transmissão também teve muita mudança, podendo-se destacar a entrada de novas linhas de transmissão em corrente contínua e inserção de compensadores estáticos;
- Quanto à distribuição, está havendo uma revolução com as denominadas “smart grids”. Estas impactam em melhores indicadores de qualidade de serviço, ajuste de demandas, além de contemplarem a inclusão de fontes de geração distribuídas;
- Por fim, com o aumento da capacidade de processamento dos computadores, destaca-se também o avanço das simulações, contemplando inteligência artificial e simulações que utilizam dados reais obtidos em campo.
Desta forma, com o aumento da complexidade dos sistemas, problemas que, na primeira edição, eram praticamente irrelevantes, como a responsabilidade das causas dos distúrbios na Qualidade da Energia Elétrica, hoje, estão em foco.
Durante todos estes 23 anos de existência da CBQEE, o sistema elétrico evoluiu significativamente e a CBQEE está sempre acompanhando esta evolução. Na XIII CBQEE, realizada de 01 a 04 de setembro de 2019, no Instituto de Tecnologia Mauá, em São Caetano do Sul (SP), temas como processamento de sinais, compartilhamento de responsabilidade e impacto de renováveis foram os temas da vez. Mais de 250 conferencistas participaram dos quatro dias de evento que, além de sessões técnicas e plenária, contou com um minicurso sobre questões relevantes do Módulo 8 do PRODIST.
Mais informações e inscrições em: www.sbqee.org.br/cbqee
Grande abraço!