Com cerca de mil participantes, o Congresso de Inovação na Distribuição de Energia foi realizado entre os dias 05 e 06 de junho, em São Paulo
A transição energética e seus impactos no setor elétrico brasileiro foi o foco do Congresso de Inovação na Distribuição de Energia (CIDE), evento organizado pelo Grupo O Setor Elétrico, em parceria com o Instituto Abradee da Energia. Durante dois dias, especialistas de diversas áreas do segmento de distribuição se revezaram em painéis e palestras, abordando temas como modernização do setor, os avanços em smart grids e em sistemas de armazenamento, resiliência energética diante das condições climáticas extremas, incorporação de novas e disruptivas tecnologias, dentre outros assuntos que integram a agenda dos stakeholders que compõem a cadeia de GTD – Geração, Transmissão e Distribuição de energia elétrica.
Para o presidente da ABRADEE, Marcos Madureira, a realização do CIDE 2024 mostra a importância de evidenciar as discussões mais importantes no cenário da distribuição de energia elétrica no Brasil. “A troca de conhecimentos, a discussão de tendências e a apresentação de inovações são essenciais para que o setor continue a evoluir e a atender às demandas de uma sociedade cada vez mais digital e sustentável”, considera Madureira.
Na primeira mesa de abertura do evento, o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Ricardo Tilli, aproveitou a oportunidade para anunciar a realização de consulta pública sobre sistemas de armazenamento de energia, prevista para o início do segundo semestre deste ano. “Minha expectativa é que a ANEEL inicie a consulta pública no começo do segundo semestre e finalize a primeira parte da regulamentação até dezembro de 2024. A questão da outorga é importante, pois precisamos definir que tipo de outorga essas baterias terão e onde elas estarão localizadas. A primeira premissa é que baterias não geram energia, então elas não podem ter uma outorga de gerador”, adiantou Tili.
Participando do painel com o tema “O que nos reserva o futuro da distribuição de energia?”, o diretor da Neoenergia, Fabiano da Rosa Carvalho, falou do papel das distribuidoras para a expansão da geração de energia no país e defendeu maior isonomia nos contratos de concessão. “Durante muitos anos, as distribuidoras foram quem garantiram a expansão da geração através dos contratos de longo prazo. Hoje, já existe a figura do contrato de reserva de capacidade que pode vir a sanar, vamos dizer assim, uma forma de que tanto o mercado regulado quanto o livre paguem pela expansão, mas tem um conjunto de contratos legados que precisa de um tratamento. E esse tratamento envolve mais isonomia, quer dizer, como é que você distribui melhor esses custos”, explicou Carvalho.
Novos insights
Um dos momentos mais aguardados do evento foi a participação do renomado publicitário Nizan Guanaes, que convidou o público a fazer uma reflexão sobre a importância da inovação e adaptação para as transformações do futuro, baseado em três pilares: o que deve ser mantido; as transformações necessárias; e por fim, que futuro deve ser construído?.
O publicitário chamou a atenção dos congressistas para as possibilidades infinitas de utilização dos ativos do setor elétrico, como os postes, por exemplo, que estão espalhados pela cidade, para criar maior interação com a comunidade e apoiar causas sociais. “O setor elétrico está no meio da cidade, em todos os lugares, então, precisamos fazer com que as pessoas se lembrem que nossos serviços funcionam, porque do contrário, elas esquecem”, comenta.
Resiliência energética versus condições climáticas extremas
Ainda no primeiro dia do Congresso, o ex-vice-presidente da Florida Power & Light (FPL), empresa norte-americana fornecedora de energia, compartilhou as experiências vivenciadas nos Estados Unidos para o enfrentamento de eventos climáticos extremos, no que tange à resiliência das redes e dos sistemas elétricos.
Como forma de combater futuros eventos climáticos extremos, a Florida Power & Light criou em 2006 o “Storm Secure Program”, uma iniciativa que substitui linhas de energia aéreas por linhas subterrâneas para melhorar a confiabilidade da rede elétrica. “O programa faz parte dos esforços da FPL para fortalecer sua rede contra tempestades. As linhas subterrâneas são menos suscetíveis a danos causados por árvores e outros detritos, além disso, uma rede mais resistente para eventos climáticos extremos, é também mais eficiente para o uso diário”, disse.
Inteligência artificial (IA)
Tema cada vez mais recorrente nas discussões do setor elétrico, a inteligência artificial (IA) foi destaque no CIDE, com a participação de Domenico Machado, Industry Advisor Energy do Google Cloud, que apresentou uma variedade de serviços que a ferramenta de IA da empresa oferece ao setor elétrico, que passa pela infraestrutura em nuvem, cujo objetivo é hospedar dados e aplicativos de forma segura e escalável. O executivo citou ainda outras funcionalidades para o setor elétrico, tais como: manutenção preditiva; atendimento ao cliente; redução de perdas de rede; e otimização da geração de energia.
Arena Inovação
Uma das novidades do CIDE 2024 foi a “Arena Inovação”, um espaço dedicado às startups do setor elétrico, que puderam apresentar aos participantes da feira duas soluções e serviços inovadores para o segmento de distribuição. No total, 15 startups utilizaram o espaço para compartilhar seus projetos. Felipe Ramalho, Customer Success da Energia das Coisas, levou ao evento soluções para controle de energia, gerenciamento de gastos e monitoramento de consumo e desperdícios.
“A Energia das Coisas combina a coleta de dados elétricos de instalações com o armazenamento em nuvem e aplicativos desenvolvidos para oferecer uma experiência relevante aos usuários de energia, especialmente aqueles de baixa renda. Isso ajuda os usuários a entender como consomem energia e a ajustar seu consumo de acordo com sua capacidade financeira para pagar a conta de energia” explicou Ramalho.
Também foram apresentadas soluções para monitoramento e otimização de energia (Enline) aplicativos e soluções tecnológicas para o planejamento da manutenção de árvores e limpeza de faixa (Imagery), utilização de dados de medidores, tanto inteligentes quanto convencionais (Fox IoT), dentre outras.
Trabalhos técnicos
Outra novidade desta edição foi a apresentação de trabalhos técnicos por acadêmicos e profissionais do setor. Um dos trabalhos de destaque apresentados foi o do fundador da CONPREN Nova Energia, Luiz Carlos Santini, com o estudo “Eletrificação da economia e eficiência energética”, que trata do impacto dos veículos elétricos nas redes de energia, no Brasil e em outros países.
O gerente Corporativo de Pesquisa e Desenvolvimento da Neoenergia, José Antonio de Souza Brito, apresentou no evento o GODEL Conecta, sistema para avaliação da capacidade da rede elétrica para conexão de geração distribuída. “Trata-se de um aplicativo que disponibiliza mapas interativos de capacidade de acomodação de geração distribuída à rede elétrica como recurso de auxílio ao planejamento de expansão e avaliação de pedidos de conexão de minigeradores distribuídos, proporcionando ainda melhorias no atendimento ao cliente auxiliando-o na consulta e prospecção de seus empreendimentos”, detalhou.
Feira de negócios
Com 27 estandes e 32 patrocinadores, a feira de exposição do CIDE levou aos participantes do evento as grandes novidades tecnológicas da indústria do segmento de distribuição de energia, criando um ambiente rico para novos negócios e captação de clientes.
Participando como expositor no evento, o managing partner da Fu2re Smart Solutions, André Sih, avaliou como produtiva e estratégica a participação da empresa no evento. “Tivemos a oportunidade de fortalecer negócios juntamente com nossos parceiros NVIDIA e Advantech. Considero o investimento realizado muito positivo, tanto pelas oportunidades que surgiram, quanto pela chance de acompanhar palestras de pessoas proeminentes do setor elétrico”.
O coordenador de marketing da Landis+GYR, Vinicius Belmonte, também avaliou positivamente a participação da empresa no CIDE. “O evento nos permitiu encontrar nossos parceiros, trocar conhecimentos e explorar novas possibilidades de negócio. Apresentamos nosso portfólio atual, destacando o Magno, o Revelo e Soluções Inovadoras para o Gerenciamento de Frota Elétrica. Estamos ansiosos para a próxima edição”.
O nível técnico do público presente no evento, bem como a qualificação dos visitantes da feira, foram destacados pelo Gerente Geral da S&C Electric Company, Marcelino Costa. “Quero dar destaque ao público muito qualificado que esteve presente no CIDE e também em escala muito maior quando comparado à edição anterior. Fiquei feliz com as palestras nacionais e internacionais que elevaram as discussões técnicas para o mais alto nível.”
Avaliação semelhante foi do diretor comercial da PEXTRON, Uriel Horta. “O CIDE superou todas as expectativas. A organização, as palestras e o local foram excelentes, trazendo resultados positivos para a Pextron com ótimos contatos e leads. Acredito que a próxima edição será ainda maior, dado o interesse de muitas empresas em participar”.
Já o gerente corporativo de P&D da Neoenergia, José Brito, chamou atenção para o ambiente de estímulo e para as oportunidades de apresentação de programas de desenvolvimento e inovação. “Um evento que deu para mostrar as soluções tecnológicas que contribuem para a modernização do setor elétrico”.
A próxima edição está prevista para 2026 e a evolução da programação pode ser acompanhada no site do evento: www.cidebrasil.com.br