Encontrar soluções que contribuam para que o setor elétrico mantenha sua trajetória de evolução constante, de forma a assegurar, com qualidade e segurança, o suprimento de energia elétrica para o país: a missão do CIGRE-Brasil, um think tank voltado justamente para contribuir para o progresso do setor, vem se mostrando cada vez mais importante diante da combinação de desafios que se apresentam, neste momento, ao setor elétrico. No exercício de sua vocação, o CIGRE-Brasil, além de viabilizar discussões de alto nível, servindo de ambiente qualificado para esse propósito, oferece a expertise dos técnicos que atuam sob sua coordenação à busca de alternativas que conduzam o setor elétrico em sua trajetória de expansão e aprimoramento.
O momento vivenciado atualmente pelo setor elétrico é desafiador. O segmento vem passando por mudanças significativas na sua configuração, impostas pela necessidade de contribuir para uma transição energética eficaz, em face dos riscos que as mudanças climáticas impõem ao planeta. A complexidade desse desafio, entre os muitos que se apresentam, dá a medida da importância dos esforços empreendidos pelos grupos de trabalho, reunidos sob o guarda-chuva do CIGRE-Brasil. Esses grupos agregam a nata do corpo técnico do setor elétrico em mesas de discussões e debates ou viabilizam pesquisas voltadas para encontrar caminhos que conduzam o setor elétrico sempre adiante.
Uma das frentes às quais o CIGRE-Brasil se dedica é encontrar soluções que mantenham o elevado nível de eficiência na operação do sistema elétrico brasileiro, conhecido pela sua complexidade. A disseminação em grande escala das fontes renováveis intermitentes – geração fotovoltaica e eólica – provoca mudanças substanciais na operação do sistema elétrico. Somente neste ano, as fontes solar fotovoltaica e eólica foram responsáveis, por exemplo, por 49,23% e 44% dos 4.284 megawatts (MW) de capacidade instalada acrescidos ao parque gerador nacional. A intermitência das duas fontes exige iniciativas que garantam a segurança e a confiabilidade do sistema elétrico. Demanda, também, uma discussão a respeito de critérios para o despacho energético considerando-se a nova configuração da matriz elétrica.
Acrescenta-se a isso o fato de que a transição energética deverá contribuir para a expansão dos chamados Recursos Energéticos Distribuídos (Reds), que envolvem tecnologias de geração, armazenamento e redução do consumo de energia localizadas nas áreas de uma determinada concessionária de distribuição, normalmente junto a unidades consumidoras. Estes recursos abrangem atividades e tecnologias como eficiência energética, geração distribuída de eletricidade, veículos elétricos, redes elétricas inteligentes, MMGD, autoprodução de energia e energia solar térmica.
Essas mudanças exigem uma maior flexibilidade na operação do sistema elétrico interligado para que se mantenha uma sintonia fina entre a demanda de produção de energia e a otimização do sistema de transmissão. A gestão eficiente do sistema, considerando-se essas condições, evitará possíveis variações de tensão e frequência, como ocorre em rampas de carga e em desvios de previsões, capazes de afetar significativamente a qualidade do fornecimento de energia.
Em um dos fóruns realizados pelo CIGRE-Brasil em que se reuniram lideranças do setor elétrico, algumas sugestões foram apresentadas para fazer frente a estes desafios. Uma delas é a possibilidade de as distribuidoras realizarem, de forma descentralizada, mas coordenada com o órgão operador, o controle do despacho das unidades de geração intermitentes conectadas às suas redes. A colaboração e a interação em tempo real mais intensas entre as distribuidoras e as transmissoras de energia elétrica, garantidas pela digitalização, também é outra medida sugerida pelos líderes reunidos pelo think tank.
Entre os estudos realizados pelos grupos de trabalho, destacou-se uma pesquisa que apontou que as turbinas Francis, uma das mais utilizadas na geração hidrelétrica no país, podem vir a proporcionar uma garantia na flexibilidade pretendida para a operação dos sistemas a médio prazo, quando forem capazes de operar em 100% de sua capabilidade após a intervenção dos fabricantes, garantindo às usinas hidrelétricas o papel de oferecer energia firme para o sistema. No sistema elétrico brasileiro, existem mais de 400 turbinas desse tipo, que respondem por aproximadamente 75% da capacidade de geração hidrelétrica. Essa turbina é conhecida pela sua flexibilidade e pela capacidade de operar em faixas de quedas e com potências nominais diferenciadas. O estudo, realizado por um grupo de trabalho do CIGRE-Brasil, mostrou que uma modernização das hidrelétricas existentes com turbinas de ampla faixa operacional garantiria, a médio prazo, uma melhor resposta às variações resultantes da participação crescente das fontes intermitentes.
O associado do CIGRE-Brasil insere em seu portfólio profissional a experiência de estudos e pesquisas em ambiente colaborativo, usufruindo da companhia dos melhores profissionais do mercado.
*João Carlos de Oliveira Mello (diretor-presidente), Antonio Carlos Barbosa Martins (diretor técnico), Maria Alzira Noli Silveira (diretora de assuntos corporativos) e André Luiz Mustafá (diretor financeiro)