Com líderes do setor elétrico, T&D Energy eleva o debate sobre gestão de ativos com o compromisso da transição energética 

Por: Matheus de Paula

Realizado entre os dias 17 e 18 de abril, a terceira edição marcou o encontro de grandes players do mercado para discutir o presente e o futuro do setor elétrico brasileiro

Uma boa gestão de ativos é fundamental para a transição energética. A afirmação foi feita pelo Vice-presidente de Operações de Segurança da Eletrobras, Antonio Varejão Godoy, que esteve presente no T&D Energy 2024, evento que ocorreu nos dias 17 e 18 de abril, no Novotel Center Norte, em São Paulo (SP).  Na ocasião, Varejão, que participou do painel de abertura do encontro, ressaltou o compromisso  da  Eletrobras  com o desenvolvimento e modernização do segmento, por meio de políticas robustas que assegurem ao país uma transição energética capaz de promover a descarbonização dos principais setores econômicos, com ampliação das fontes renováveis na matriz energética brasileira. 

“Uma empresa (Eletrobras) que tem controle privado, mas que tem a preocupação básica e fundamental em trazer a segurança e também a transição energética. Ou seja, a Eletrobras tem investido principalmente nos seus ativos e, fundamentalmente, buscando a segurança para que, de fato, aconteça uma transição energética no país”, ressaltou Varejão, que também participou do painel sobre segurança e universalização energética das transmissoras e distribuidoras de energia. 

Primeiro painel de debates da terceira edição do T&D Energy

Participando dos debates, o Diretor Técnico da ABRATE, Geraldo Pontelo, também destacou a importância da preservação e da melhoria contínua nos ativos das distribuidoras, transmissoras e geradoras de energia. “Temos programado no PDE 2032 (Plano Decenal de Expansão de Energia) cerca de 165 bilhões em investimentos estimados, sendo que cerca de 105 bilhões são leilões de licitações e o restante são de renovação de ativos, seja por melhoria ou reforços autorizados. O contrato de concessão das transmissoras disciplina muito bem a obrigação de prestação de serviço adequado e, por conta disso, uma boa gestão de ativos, por isso temos técnicas para essas ações, como o monitoramento, onde você pode preservar com mais tempo o ativo e a operação, por exemplo”, ressaltou o dirigente da ABRATE.

Os debates contaram ainda com a participação do Superintendente de Distribuição da Cemig, Denis Mollica, e o pesquisador da Gesel, Roberto Brandão, que atuou como moderador da conversa. 

Resiliência energética  e os eventos climáticos extremos 

O impacto das mudanças climáticas, com o aumento acentuado de ocorrências climáticas extremas que afetam a segurança e o abastecimento de energia elétrica em todo o país, também esteve no centro das discussões do T&D Energy. Para isso, foi escalado um time de especialistas de peso, dentre eles, o Diretor de Engenharia da CPFL Energia, Caius Vinicius Sampaio Malagoli, que falou sobre os desafios operacionais enfrentados pelas distribuidoras para o rápido restabelecimento do fornecimento de energia, com uma equipe de suporte especializada de prontidão para o enfrentamento de condições climáticas adversas que resultam em danos ao sistema elétrico.

“No período de verão, normalmente nós temos de 70 a 80 ocorrências, 70 a 80% delas atendidas por equipe leve, que são serviços mais simples, como por exemplo troca de fusível ou estender um ramal de serviço e de 20% a 30% por equipe pesada, que são já pessoas transportadas por caminhões e são trabalhos mais complexos, tipo um poste caído. Em época de eventos extremos, essa lógica adverte, eu passo a ter 70 a 80% de casos que demandam a equipe pesada que vão e chegam naquele local onde descobrem que tem diversos postes caídos, porque uma árvore caiu sobre ele. Então, começamos a trabalhar ali para restabelecer essa rede e quando terminamos, não podemos atender o próximo evento, porque precisamos retornar para base para buscarmos mais poste e mais transformadores, por isso eu levo muito mais tempo para restabelecer”, explica.

Um dos desafios para o enfrentamento dessas condições climáticas severas, segundo Luis Alessandro Alves, Diretor de Implantação da Taesa, é o envelhecimento de ativos, como  as linhas de transmissão, que não foram feitas para suportar grandes vendavais, como vem ocorrendo, com frequência, em algumas regiões do país. “Nós temos ativos de 30, 40 e 50 anos, que são linhas de transmissão que não consideraram na elaboração de seus projetos os ventos de hoje, isso é nítido, e como vão ficar esses ativos?” Questiona o diretor, que responde adiante.

“Temos o procedimento de rede, o Módulo 3, que determina nosso serviço de transmissão. Nele, tem as questões de melhorias de grande porte, onde se enquadraria o reforço estrutural numa torre, então, é uma questão de reforço estrutural, visando a prevenção de eventos climáticos, versus o volume de ativos que nós temos no Brasil com idade superior há 30, 40 anos, onde o projeto, com certeza, está obsoleto. Então, é preciso um incentivo do regulador e também tempo de adequação das concessionárias de energia para poder atuar dessa forma”, pondera. 

Daniel Lima, COO da Evoltz, Bruno Isolani, Gerente de execução de operação da TAESA e a mediação do CEO América Latina da Prysmian, Raul GIl, complementaram o debate

Armazenamento de energia no Brasil

Outro tema que ganhou destaque no evento, foram os avanços e perspectivas do armazenamento de energia elétrica. “Ao que tudo indica, inclusive, nos próximos anos, com esse aumento cada vez maior da penetração das outras fontes renováveis variáveis, o papel das hidrelétricas deve ser muito mais em contribuir com essa modulação, com esses recursos de flexibilidade e controlabilidade. Logo, é muito importante mostrar que hoje o armazenamento no Brasil já existe e está representado pelas grandes usinas hidrelétricas”, afirmou a Consultora de Superintendência de Transmissão da EPE, Thais Teixeira, que também falou da importância da flexibilidade do armazenamento energético. 

Presente no painel que debateu o tema, a consultora da CELA – Clean Energy Latin America, Ana Zornitta, reclamou da alta carga tributária para importação de produtos e novas tecnologias de armazenamento, em especial, importadas da China, que é um dos maiores líderes no assunto.

“Quando importamos os sistemas de armazenamento, principalmente da China, a qual dependemos muito, enfrentamos uma carga tributária de mais de 100%, e quando comparamos com outras alternativas renováveis, até mesmo termelétricas, hidrelétricas, esse valor é muito menor. Então, é uma diferença grande, em termos de viabilidade, só que ainda não conseguimos viabilizar esse processo, por falta de regulamentação. Não tem ainda um órgão regulatório que dê segurança para os investidores. Precisamos decidir quem será o armazenador, comercializador, gerador, transmissor e distribuidor, ainda há muitas dúvidas sobre isso”. 

Apesar dos entraves, a expectativa é pouco positiva para a expansão do segmento de armazenamento no país, avalia a consultora. “A gente vê, no futuro, a possibilidade disso acontecer (transformação), mas hoje, infelizmente, ainda estamos um passo atrás. Temos um roadmap regulatório, só que está para ser finalizado lá em 2027, e até lá, o mercado, principalmente internacional, já passou bastante à nossa  frente, se comparado ao Estados Unidos, Austrália, por exemplo”, alertou.

Participaram também do debate Tatiane Pestana, Gerente executiva de regulação e relacionamento com agentes da ONS, William Alves de Souza, Gerente de engenharia, automação e sistemas da distribuição da Cemig e a mediação de Rogério Camargo, Diretor técnico da Mata de Santa Genebra Transmissão

Palestras especiais

A Diretora de Gestão de Ativos da Eletrobras, Lilian Ferreira Queiroz, esteve presente no T&D, onde ministrou palestra sobre a gestão e monitoramento de ativos da empresa. “Recentemente, aconteceu a fusão das quatro subsidiárias, então temos em nosso portfólio uma capacidade instalada de 22% em todo o país e também 28% da energia elétrica produzida no Brasil. Como a gente vai equilibrar o custo, o risco e o desempenho? Tem o momento em que precisamos identificar os ativos e onde vamos expandi-los, ou seja, se eu estou decidindo trocar ativos, comprar ativos novos, eu tenho que trabalhar fortemente nas minhas especificações, nos meus projetos, e aqui, eu tento ter uma parceria muito grande, tanto das concessionárias, quanto de fabricantes e desenvolvedores, para que tenhamos  ativos de qualidade” comentou Lilian.

Para um monitoramento mais completo e eficiente desses ativos, a Eletrobras utiliza diversos recursos tecnológicos, conforme explica a diretora de técnicas e tecnologias da empresa.  “Temos um acompanhamento e monitoramento de ativos com sensores. Ou seja, todos os transformadores e reatores de uma das nossas subsidiárias, eles já são 100% monitorados e a gente monitora a bucha, a gente monitora óleo, a gente monitora tudo”, concluiu. 

 Lilian Ferreira Queiroz fala sobre o gerenciamento de ativos da Eletrobras no T&D Energy

Feira de negócios

Com mais de 17 estandes, a feira de exposição do T&D Energy repetiu as edições anteriores e ofereceu ao público presente a oportunidade de conhecer as melhores e mais recentes inovações das principais empresas provedoras de tecnologia do setor elétrico, proporcionando o cenário ideal para novos negócios e relacionamentos e networking. “A experiência foi muito positiva, nós estamos no evento desde a primeira edição, porque é bastante relevante, haja vista que podemos encontrar todas as pessoas do setor. A gente vem acompanhando a evolução do evento e sua relevância aumentando, inclusive para as distribuidoras, com o tema da resiliência energética. Então, a gente pode acompanhar palestras interessantes e de bastante importância para o setor”, afirma o gerente de vendas da S&C Electric Company, Adelson Pereira.

Ao todo,  foram 49 palestrantes e 17 patrocinadores, que puderam conhecer as melhores e mais inovadoras soluções práticas da engenharia e infraestrutura do setor

Em relação às oportunidades de negócios e de networking, o gerente executivo de vendas da Itaipu, Alexandre Rios Lopes, considera o T&D Energy uma referência nacional. “Essa é nossa segunda participação e foi de alto aproveitamento, um público qualificado, interessado nas temáticas das palestras e com um direcionamento bastante específico para tratar do nosso produto, que são os transformadores. Isso prova que o modelo que foi instituído, via congresso, é muito assertivo para as empresas do setor elétrico e a oportunidade de network é sempre marcada com bons resultados”, afirmou. 

Estande da Itaipu Transformadores no T&D Energy

Um dos palestrantes da edição, o engenheiro sênior da Treetech, Rafael Prux Fehlberg, destacou o nível técnico das palestras do T&D. “As apresentações e debates que eu acompanhei, foram excelentes e de nível técnico muito interessante. Também, me surpreendeu, a quantidade de gente, todas as palestras, normalmente, lotadas”.

Avaliação semelhante foi feita por Ronaldo Tarcha, diretor-geral da Roxtec. “Eu tenho certeza que a tendência desse evento é crescer ainda mais em qualidade e em quantidade, trazendo mais informações e tecnologias para o mundo das subestações”.

Feira de exposição da terceira edição do T&D Energy

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