Concessionárias de transmissão: gestão da O&M em cabos subterrâneos AT

A coluna técnica deste mês é especial porque eu tenho a satisfação de escrevê-la em parceria com o colega Rogério Pereira de Camargo*. O Eng. Rogério Camargo tem uma longa experiência com O&M em concessionárias de transmissão e junto comigo irá compartilhar um pouco do seu conhecimento sobre O&M de linhas de transmissão subterrâneas de alta tensão.

Os cabos subterrâneos, em sua maior quantidade, eram instalados em um nível de tensão até 138 kV e operados pelas concessionárias de distribuição. Mesmo as poucas exceções de linhas de transmissão subterrâneas (LTS) que possuíam níveis de tensão maiores (345 kV) eram também operadas por concessionárias de energia tradicionais no mercado brasileiro. Esses empreendimentos eram, em quase sua totalidade, instalados em áreas urbanas, em que há restrição de espaço para a instalação de linhas aéreas. Com o aumento da carga em diversas capitais brasileiras e a necessidade de reforço no sistema de transmissão, tem aumentado, nos últimos leilões de transmissão da Aneel, o número de empreendimentos de linhas de transmissão subterrâneas com níveis de tensão igual ou acima de 230 kV. Ocorre que, historicamente, os empreendimentos de cabos subterrâneos eram, até então, de propriedade de controladores que detinham conhecimento técnico e controle da gestão da O&M dos cabos subterrâneos construídos com anos de experiência além de uma maior quantidade de ativos. Desde 2013 e com aumento expressivo nos últimos leilões de transmissão, foram licitados diversos lotes de empreendimentos contendo cabos subterrâneos, como consequência, vários investidores com pouca experiência na gestão de ativos de cabos subterrâneos entraram neste mercado e encontram-se, atualmente, com projetos em andamento ou assumiram a operação comercial há pouco tempo.

Diferentemente do que era prática do setor no passado, em que as concessionárias tradicionais com experiência neste tipo de ativo projetava, instalava e realizava a gestão da O&M das LTSs por anos, atualmente vivemos um novo momento em que o mercado de transmissão é bastante dinâmico, onde alguns controladores, liquidam seus ativos de forma mais rápida ao longo do contrato de concessão. Diante deste cenário de novos players, sem experiência e histórico de manutenção, controlando ativos que contêm cabos subterrâneos, merecem destaque alguns pontos importantes que podem contribuir com o SEB, bem como servir de ponto de atenção a estes novos controladores: – Importância de dados cadastrais de alta confiabilidade. Diferentemente da linha de transmissão aérea, as linhas de transmissão subterrâneas (LTS) não são visíveis, logo, caso exista dúvida é essencial fazer a checagem do traçado da linha; – Garantia de que as LTS estejam bem sinalizadas.

As falhas nos cabos subterrâneos são em sua maioria causadas por terceiros, ou seja, interferências de outras obras que podem danificar a isolação e tirar a LTS de operação, causando impactos financeiros e, em alguns casos, de suprimento de energia; – Equipamentos e equipe para localização da falha e reparo. É necessário possuir equipamentos de localização de falha e de teste de tensão aplicada em frequência de ressonância para comissionar os trabalhos, bem como mão de obra especializada para realizar os testes e também para fazer as confecções das emendas e/ou terminações ou ter contrato com empresa especializada para realizar os trabalhos; – Gestão dos sobressalentes: possuir procedimento e equipe dedicada para fazer a gestão de sobressalentes. Essa atividade torna-se vital pela complexidade dos sobressalentes. As emendas e terminações têm características especificas e, dependendo do fornecedor, possuem fitas e/ou resinas com validade determinada inferior a todo o conjunto, logo, devem ser gerenciadas para sempre estar em plenas condições de uso. Outro agravante do “Spare parts” é a sua indisponibilidade no mercado brasileiro. Para níveis de tensão igual ou acima de 230 kV não é raro o tempo médio da entrega pelo fornecedor ser de até seis meses depois do pedido de compra feito.

Diante deste cenário e, para contribuir com os gestores da O&M de empreendimento que possuem cabos subterrâneos, sugerimos a seguinte ação:

Elaboração de plano de gestão da LTS

Este plano deve ser dividido em três grupos de ações: Ações para mitigar a falha considerando que grande parte da origem das falhas é causada por terceiros, o plano deve conter ações específicas para mitigar esse problema, introduzindo inspeção visual diária no traçado para checar e orientar terceiros sobre possíveis riscos de escavação e dano ao cabo. Também é preciso realizar trabalho conjunto com os prestadores de serviços públicos locais que podem interferir com o traçado do cabo subterrâneo: companhia de água e esgoto, prefeitura, companhia de gás, distribuidora de energia elétrica, companhias de telefonia e internet móvel, concessionárias rodoviárias, entre outras. O objetivo é informar e mitigar os riscos de interferências e a boa convivência entre todos.

Dentro ainda das ações para mitigar falha, deve ser elaborado um plano para realizar manutenções preditivas de descargas parciais. A medição de descargas parciais é fundamental para detectar defeitos ocultos no isolante dos cabos e acessórios e tem se mostrado a melhor técnica para prevenir desligamentos não programados. Também deve ser realizada manutenção preventivas nos Link Box e caixas de passagem ao longo do traçado.

Ações quando houver falha

Sabemos que os cabos isolados de alta tensão possuem, em sua grande maioria, alta confiabilidade e sua falha não é comum, porém, como qualquer elemento elétrico ele não é a prova de falhas, logo, a equipe técnica de O&M deve estar preparada para fazer a localização da falha, que pode ser extremamente complexa, tendo em vista que a LTS está enterrada e também possuir materiais e mão de obra adequada para fazer o reparo e o comissionamento dos serviços. A localização da falha em cabos subterrâneos exige equipamentos especiais que não são fabricados no Brasil e que deve atender as características técnicas da LTS, ou seja, equipamentos que operam adequadamente na média tensão podem não funcionar nas linhas de alta tensão, logo é imprescindível que o gestor da LTS onheça os equipamentos adequados e as técnicas de localização com equipe bem treinada. O guia do IEEE 1234 trata desse assunto e também a brochura técnica 773 do Cigré. Outro ponto de destaque a qualificação da mão de obra para realizar o reparo após a localização da falha. Confeccionar emendas e terminações de alta tensão exige vasta experiência, caso contrário o reparo não será bem executado e poderá falhar no teste pós reparo ou pior (quando se opta por não realizar o teste de tensão aplicada) após a energização ou durante a operação do circuito. O teste de tensão aplicada conjuntamente com medições de descargas parciais após o reparo tem a finalidade de validar que os serviços foram bem executados e que o sistema pode ser energizado. A IEC 60840 e a IEC 62067 definem os parâmetros de testes para as classes de tensão de 36kV até 150kV e até 500kV respectivamente.

Ações de gestão das peças sobressalentes

Gestão muito cuidadosa no controle dos sobressalentes, tendo em vista que eles são vitais e com tempo de aquisição demorada.

Figura 1 – Equipamento de teste de tensão aplicada e frequência ressonante (esquerda) e emenda de 230kv, sendo confeccionada (direita).
Figura 2 – Equipamento e gráfico de descargas parciais online.

 

Conclusão

O mercado de transmissão no Brasil mudou muito nos últimos anos. Novos controladores possuem ativos importantes e vitais para os suprimentos de energia principalmente em grandes centros. Linhas de transmissão subterrâneas estão sendo instaladas e geridas por novas empresas e é fundamental que o O&M seja realizado de forma adequada. O objetivo deste artigo é compartilhar algumas boas práticas de gestão dessas LTS.

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