“Trago a pessoa amada em três dias”

Ed. 57 – Outubro de 2010

Por Dácio de Miranda Jordão

Esta é uma mensagem que se vê com bastante frequência escrita nos muros da vida.

Quem a lê deve imaginar que quem a escreveu deve acreditar ter poderes extra normais capazes de mudar radicalmente o comportamento de outrem.

Mudar comportamento é uma das tarefas mais difíceis e complexas do ser humano. Muito se tem feito e escrito sobre isso, mas os resultados não são garantidos e muitas vezes se é surpreendido por atitudes inesperadas e que estariam completamente contra todo o esforço empreendido para que o sentido das ações fosse o contrário.

Analisando, poder-se-ia criar uma situação utópica em que esses poderes pudessem ser utilizados para mudar o comportamento, por exemplo, com relação à segurança das instalações elétricas em atmosferas explosivas. Isso resultaria em um universo industrial hipotético, com nível de segurança igual ao que é normalmente tão propalado nos discursos e palestras que se ouve nos eventos sobre segurança, tais como: SIPAT, seminários e congressos de segurança do trabalhador e tantos outros. Esse universo hipotético seria o universo do “… que bom seria se …”, como por exemplo:

– Que bom seria se a classificação de áreas fosse feita somente por profissionais qualificados, com conhecimento comprovado nessa atividade, pois assim seriam excluídos todos os curiosos e oportunistas que causam tantos problemas de segurança e que na maioria das vezes sequer são percebidos;

– Que bom seria se todos os equipamentos elétricos e eletrônicos assim como seus componentes e acessórios fossem comercializados somente com o certificado de conformidade válido;

– Que bom seria se a montagem dos equipamentos elétricos e eletrônicos, bem como seus acessórios e componentes, pudesse ser executada somente por profissionais qualificados, com experiência e conhecimento comprovado nessa atividade;

– Que bom seria se a manutenção e a operação dessas instalações e equipamentos fossem feitas somente por profissionais qualificados com experiência e conhecimento comprovado nessas atividades;

– Que bom seria se todas as empresas que possuem áreas classificadas praticassem de forma rotineira a obrigatória inspeção de suas instalações, com base na ABNT NBR IEC 60079-17;

– Que bom seria se as decisões sobre segurança Ex fossem baseadas em razões de segurança e proteção ao trabalhador e não predominantemente políticas ou econômicas;

– Que bom seria se as autoridades (MTE) realmente cumprissem com o seu papel e fiscalizassem as instalações de modo a criar uma cultura de atendimento à legislação, sob pena de sofrer sérias punições que poderiam influenciar inclusive na sobrevivência da própria atividade industrial;

– Que bom seria se as experiências com acidentes do passado não fossem esquecidas tão rapidamente e se aproveitasse todo o ensinamento trazido pela sua análise e investigação.

Como menciona Michel Llory em seu livro: Acidentes industriais – o custo do silêncio (Multimais Editorial – Funenseg 1999):

“Segundo um documento da Secretaria Internacional do Trabalho e do Programa sobre o Meio Ambiente das Nações Unidas, 97% dos acidentes poderiam ser previstos”.

No caso do acidente com a nave espacial Challenger, que, em 1986 explodiu após 73 segundos de seu lançamento, conforme consta do relatório “Rogers”, o engenheiro da empresa terceirizada, que forneceu o reservatório que continha o oxigênio e o hidrogênio, combustíveis para a nave, havia alertado sobre o risco do lançamento com a temperatura ambiente muito baixa no Centro Espacial Kennedy e recomendava abortar o lançamento. Esse engenheiro declarou, doze horas antes da partida: “se alguma coisa acontecesse, ele não gostaria de ter que explicá-la diante da comissão de inquérito” (Rogers, 1986).

Já está também amplamente demonstrado, por meio de milhares de investigações e análise de acidentes, que sempre ocorrem eventos chamados “precursores” que antecedem o acidente. São como sinais, advertências, avisos. E esses sinais muitas vezes passam completamente despercebidos pelos seus participantes, ou o que é pior, por vezes são ignorados, desprezados, é feita “vista grossa”. Podemos incluir como fatores que poderiam ser considerados como precursores ao acidente: o não atendimento à legislação; a instalação de equipamento Ex sem certificado de conformidade; o emprego de profissionais não qualificados para a manutenção, operação e montagem Ex; descaso com treinamento; etc. (alguns desses fatores se superpõem).

Ou seja, na verdade estamos lidando com questões muito complexas, que envolvem comportamento humano. Como explicar que, após os sinais (incidentes) claros, evidentes, mesmo assim aqueles que detêm o poder de decisão, que podem mudar o rumo dos acontecimentos não se sensibilizam e continuam agindo como se nada fosse acontecer?

Talvez somente com os conhecimentos e poderes “extra normais”, como comentado no início desta coluna, poderíamos chegar a um comportamento coletivo ideal, que prestigiasse realmente a segurança do trabalhador, em respeito a todos os preceitos previstos na legislação vigente.

E nesse caso, o “slogan” poderia ser:

“Trago o trabalhador de volta para casa sem nenhum acidente após cada jornada de trabalho”

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