Edição 83
Por Anderson Gomes
A maior parte dos resíduos sólidos tóxicos produzidos no país é constituída por lâmpadas, latas de inseticidas e de tintas, pilhas e baterias. Norma instrutiva do Ibama recém-publicada traz regras para coleta, acondicionamento, frequência de recolhimento e destinação desses equipamentos.
Diariamente, são recolhidasno Brasil aproximadamente 180 mil toneladas de resíduos sólidos, dos quais mais da metade desses resíduos é depositada em lixões a céu aberto, sem antes receber qualquer tipo de tratamento. Os dados são da última pesquisa nacional de saneamento básico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revela ainda que, atualmente, apenas 18% das cidades brasileiras contam com o serviço de coleta seletiva.
Do total produzido no país, cerca de 1% corresponde a resíduos sólidos tóxicos. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a maior parte desses resíduos é de restos de lâmpadas fluorescentes, latas de inseticidas e tintas, termômetros, pilhas e baterias.
Trata-se de um prejuízo econômico que passa dos R$ 8 bilhões por ano, afirmam especialistas. Taxado como lixo, esse material poderia ser reutilizado como matéria-prima, como insumo para produção de novos produtos, geração de energia e até mesmo fonte de renda para quem o recolhe.
Este cenário já evidencia a importância da destinação adequada do lixo e dos centros de reciclagem. A separação, por exemplo, permite a reutilização,a reciclagem, a agregação de maior valor ao material a ser reciclado e a geração de renda e melhores condições de trabalho para coletores de lixo. Além disso, a compostagem diminui a demanda de utilização dos recursos naturais, aumenta a vida útil dos aterros sanitários e gera menor impacto ambiental na dispensa final dos materiais.
A maior preocupação é quanto as ameaças à saúde e ao meio ambiente, provocados por diversas substâncias químicas presentes nas pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes, principalmente o mercúrio, o cádmio, o chumbo, o zinco-manganês e o alcalino-manganês.
Estudos científicos mostram que algumas dessas substâncias podem levar à anemia, a problemas neurológicos e ao desenvolvimento de câncer. No meio ambiente, o descarte das pilhas e baterias pode contaminar os lençóis freáticos, o solo e a alimentação.
Nesse sentido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em 2010, traz determinações importantes para o recolhimento e correto descarte dos resíduos, incluindo os elementos com nível tóxico, como pilhas, baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes e embalagens de agrotóxicos. As empresas receberam o prazo de dois anos para disponibilizarem pontos de recolhimento e tomarem as medidas cabíveis para providenciar a destinação adequada para esses equipamentos.
Legislação
Desde o ano 2000, o Brasil exige que os fabricantes produzam pilhas e baterias com quantidades mínimas ou nulas de metais poluidores como os citados anteriormente. A obrigatoriedade é parte da resolução n° 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de 1999. A resolução surgiu da necessidade de coibir os pronunciamentos de diversas empresas que insistiam em afirmar que o descarte de pilhas e baterias no meio ambiente era algo naturalmente aceitável e não nocivo à saúde humana e do meio ambiente.
Em 2004, a norma ABNT NBR 10.004 determinou que pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes são classificadas como resíduos perigosos e, por isso, devem ter coleta e destinação distintas. A NBR proíbe estas matérias de serem descartados no lixo comum, devido à alta toxicidade.
Previsto em lei, estabelecimentos comerciais que realizam a revenda destes produtos são obrigados a recebê-los e enviá-los para tratamento adequado. Estes materiais são separados entre os produtos tóxicos e os que podem ser utilizados na confecção de novos produtos, evitando o desperdício de matéria-prima e recursos naturais.
A Logística Reversa, que exige a obrigatoriedade de recolhimento de embalagens ou dos próprios produtos fabricados depois de usados pelo consumidor, está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidas (PNRS), que foi sancionada em 2010. O Decreto n°7.404/10 e a Resolução n°401/08 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) também fazem referência ao projeto. Pilhas e baterias estão entre os produtos citados no artigo 33 da PNRS. Também estão explícitos pela legislação os pneus, as lâmpadas fluorescentes e as embalagens de agrotóxicos.
O projeto ainda prevê a extinção dos lixões a céu aberto em todo o território nacional, até 2014. Entretanto, será necessário manter os aterros sanitários, para onde são destinados 10% dos resíduos sólidos não reaproveitáveis. A nova legislação criou propostas de compromisso e de responsabilidade também ao setor privado para que este estruture um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
As empresas receberam prazo de dois anos para disponibilizarem pontos de recolhimento. Outro ponto importante é o destino dos resíduos recebidos, que deverão ser encaminhados de maneira ambientalmente correta para os fabricantes e importadores. No texto há ainda outras exigências, como a proibição da fabricação e importação de pilhas e baterias com percentuais de substâncias tóxicas superiores aos estabelecidos em todo território nacional. Os fabricantes terão de realizar estudos para substituir mercúrio, cádmio e chumbo contidos nos produtos ou reduzir seu teor até os valores mais baixos viáveis tecnologicamente.
Dois anos? Vence quando? Quais são os percentuais mínimos? Algum exemplo? Falar mais sobre as exigências. De onde é essa norma instrutiva? É obrigatória? Pra quem deve ir esse relatório anual?
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também está acompanhando de perto o descarte de resíduos eletrônicos e materiais elétricos.O controle sobre a fabricação, o uso e o descarte de pilhas e baterias está regimentado por meio da Norma Instrutiva número 8, publicada dia 4 de setembro de 2012, no Diário Oficial da União. Pela norma, há uma série de regras para o descarte do material, transporte, reciclagem e acondicionamento, assim como a determinação para que os fabricantes e importadores elaborem um relatório anual, informando em detalhes os procedimentos adotados.
No texto, existe o alerta para a necessidade da ut
ilização de símbolos de identificação, como um “X”, por exemplo, na tampa dos recipientes de lixo, indicando que não se deve descartar o material naquele local. De acordo com a norma, a coleta de pilhas e de baterias descartadas deverá seguir uma série de regras, como o acondicionamento, a frequência de recolhimento do material, a destinação e as empresas envolvidas.
As embalagens também precisam sofrer alterações. Os fabricantes deverão informar sobre a adaptação às novas regras contidas na norma para o descarte e reciclagem. Deverão orientar o consumidor quanto à destinação correta, descartando o material em coletas seletivas próprias, que podem ser encontradas em postos de vendas e em fábricas, mas nunca em lixos comuns.
O transporte deverá ser feito por empresas especializadas, e os responsáveis pela coleta dos resíduos deverão informar ao órgão regulador todos os envolvidos no processo, assim como os locais de origem e destino. Todas as empresas envolvidas na etapa da reciclagem também são submetidas à norma fixada pelo Ibama.
Compostos químicos
A maioria das pilhas e baterias é descartadano lixo comum sem nenhum tratamento técnico específico. Em nosso país, a reciclagem de pilhas e baterias é baixa, influenciada principalmente pelo costume que as pessoas possuem de descartar todo tipo de material no mesmo lixo, inclusive pilhas e baterias usadas,em vez de levá-las aos postos de coleta das operadoras. Segundo um relatório da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), em2008, somente 1% das pilhas descartadas foi reciclado.
Entre todos este é o maior problema, de acordo com a opinião do engenheiro e professor de Circuito de Sistemas Digitais, do curso de Engenharia da Computação do IBTA (Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada), Nelson Massaia.Ele destaca que as pessoas de modo geral e os profissionais do segmento não sabem a destinação e o manuseio correto de pilhas e baterias.“Muito já foi dito e veiculado sobre os riscos de manuseio inadequado de pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes”. Porém, ainda existem pessoas sem informação, que ainda descartam seus componentes elétricos (pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes) no lixo comum. “É a oportunidade das cooperativas de coletores, muitas das quais fazem a separação e a destinação destes componentes”, afirma o professor.
Para Massaia, algumas pessoas preferem agir como se não fosse importante ou grave dispensar os resíduos eletrônicos e elétricos junto ao lixo comum, mesmo tendo acesso à informação:“há quem minimizeos riscos que existem, que são reais tanto para a saúde como para as condições ambientais do planeta” disse.
Outro grupo, mais numeroso, tem consciência dos riscos, mas não manipula corretamente estes componentes. “Mas como fazer a destinação correta? Faltam os meios para fazer o descarte correto: qual o local certo? A que empresa deve ser encaminhado o material? É preciso embalar? Quem pode fazer a separação ou seleção destes componentes?”, questiona Massaia. “A população precisa ser instruída”, afirma.
“Já temos no País 1.800 pontos de recolhimento de pilhas e baterias. Falta ainda que os consumidores se habituem a entregá-las”, comentou Zilda Veloso, gerente de Resíduos Perigosos do Ministério do Meio Ambiente. Ela ainda ressaltou a presença de metais pesados prejudiciais ao meio ambiente. “Principalmente as pilhas comuns e especialmente aquelas compradas no comércio irregular”, alertou.
De acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), é possível descartas pilhas e baterias em aterros sanitários, desde que estes sejam empreendimentos sustentáveis. A dificuldade é que no Brasil, apenas 10% dos aterros são sustentáveis, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), órgão ligado à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista.
As pilhas e baterias são compostos principalmente por mercúrio, chumbo, cobre, zinco,cádmio, manganês,níquel e lítio. São muitos elementos químicos maléficos à saúde do ser humano e nocivos ao meio ambiente.
A pilha nada mais é que uma miniusina portátil que transforma energia química em energia elétrica. Seu funcionamento é como uma bomba de elétrons, removendo-os de um polo positivo (catodo) e empurrando-os para um polo negativo (anodo). A reação química que consome/libera elétrons no interior da célula, é denominada reação de oxidação-redução. Enquanto está ocorrendo a reação, há um fluxo constante de íons, com obtenção de uma corrente elétrica. Já a bateria é um conjunto de pilhas interligadas convenientemente, composta por catodos e anodos múltiplos.
Há vários tipos de pilhas que se diferenciam não só no tamanho, como também nas utilidades e matéria-prima. As principais, no entanto, são as pilhas alcalinas (feitas de alcalina e manganês), e as comuns (fabricadas com zinco e manganês).Veja os outros tipos de pilhas e baterias e os efeitos que seus elementos podem causar às pessoas:
• De níquel-metal-hidreto: utilizadas em celulares, telefones sem fio, filmadoras e notebooks. A elevada exposição humana a esses elementos pode causar irritação gastro intestinal, náuseas, vômitos, diminuição de apite, vertigens, dor de cabeça, palpitação, dermatite e asma.
• De zinco: podem ser usadas em celulares, telefones sem fio, filmadoras e notebooks. Em contato com o corpo humano, há sintomas como sensações depaladar adocicado e secura na garganta, tosse, fraqueza, dor generalizada, arrepios, febre, náusea e vômitos.
• De lítio: também utilizadas em celulares, telefones sem fio, filmadoras e notebooks. Se tiver sua embalagem danificada, os elementos que compõem esta bateria, como o lítio metálico e o dióxido de manganês, podem provocar alteração do sistema nervoso central, visão turva, ruídos nos ouvidos, vertigem, debilidades e tremores.
• De íon-lítio: aplicadas principalmente em celulares, telefones sem fio, filmadoras, ipods e notebooks. Compostas por íon-lítio, em vez de lítio metálico e óxido de cobalto litiado, essas baterias podem ocasionar os mesmos problemas que a bateria de lítio, porém, o maior problema é a possibilidade de, caso uma bateria de íon-lítio falhar, ela poder se incendiar.
• De chumbo: baterias utilizadas em automóveis, além de indústrias e também empregadas em filmadoras. É altamente tóxico. Pessoas expostas a este produto podem ter o cérebro e o sistema nervoso prejudicados, o sistema circulatório dos rins pode ser afetado, o sistema digestivo e reprodutor também, elevação da pr
essão arterial e até mesmo uma mutação genética.
• De níquel-cádmio: usadas em telefones sem fio, celulares, barbeadores, etc. O cádmio é um agente cancerígeno, que provoca mutações genéticas nas células alterando sua função e pode causar danos ao sistema reprodutivo.
• De óxido de mercúrio: usadas em instrumentos de navegação e aparelhos de instrumentação e controle. Este elemento químico pode provocar efeitos danosos na pele e mucosas, náuseas violentas, vômito, dor abdominal, diarreia com sangue, danos aos rins e até morte. Em outros casos, a intoxicação pode ser crônica com sintomas como tremores, vertigens, irritabilidade e depressão, associados à salivação, estomatite e diarreia, falta de coordenação motora, perda de visão e audição e deterioração de células nervosas.
Cientificamente comprovado, os três últimos tipos são os mais danosos ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos, devido aos seus componentes químicos. A necessidade de
devolvê-las aos fabricantes para um destino adequado é essencial. Já os outros tipos têm um impacto menor na saúde e no meio ambiente, porém, em grandes quantidades são tão nocivos quanto qualquer outro material tóxico.
No organismo, esses elementos tóxicos podem bloquear grupos funcionais essenciais para a atuação de biomoléculas, deslocar outros metais presentes no organismo e modificar conformações de sítios ativos e a estrutura quaternária de proteínas.
A resolução CONAMA n°401/08 estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado.
Reciclagem
O índice de reciclagem de baterias e pilhas no Brasil ainda é irrelevante, mas está progredindo. De acordo com dados do relatório anual da Abinee, o Brasil produz e comercializa aproximadamente 1,2 bilhão de pilhas e 400 milhões de baterias por ano.
Além disso, no último dia 19 de dezembro, a Agência Nacional de Telefonia (Anatel), divulgou balanço apontando que o mês de novembro/2012 foi encerrado com 260 milhões de linhas celulares ativas. Isso sem contar eventuais manutenções, tablets, aparelhos MP3 e outros eletrônicos que utilizam milhões de baterias que podem ser descartadas a qualquer momento.
Em agosto de 2011, o Ministério do Meio Ambiente divulgou, em conjunto com a Abinee, um relatório apontando que em 2010 o País recolheu 8 milhões de baterias, porém reciclou apenas 0,1% desse total. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lembrou ainda que uma pesquisa realizada no Brasil mostrou que 17% da população brasileira ainda guarda lixo eletroeletrônico em casa.
Ciente da situação alarmante, a Abinee iniciou um plano de Logística Reversa, que completou um ano em novembro de 2011. Neste período, 120 toneladas de pilhas e baterias foram recolhidas nos 1.054 postos de coleta espalhados em todo o Brasil.
A iniciativa atende ao estabelecido na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que determina que todas as pilhas e baterias de uso doméstico devem ser devolvidas aos comerciantes, e que estes, por sua vez, encaminhem o material, por meio de transportadora específica e certificada, a uma empresa que faz a reciclagem desse material.
De acordo com a regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o objetivo da Logística Reversa é implementar a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Fica definido que é obrigatória a estruturação e a implementação de sistemas para as cadeias produtivas de pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, lâmpadas de descarga (a vapor de sódio e mercúrio e de luz mista), agrotóxicos (resíduos e embalagem), pneus, produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
Na iniciativa privada, destaca-se o projeto Papa-Pilhas do banco Santander, que recolhe pilhas e baterias desde 2006. De acordo com um relatório emitido pela instituição, até 2010 foram recolhidas 470 toneladas em 2.833 pontos de coleta. São Paulo foi o estado que mais coletou: foram 101,8 toneladas, 59% do total. O Rio de Janeiro ficou em segundo lugar, com 21,6 toneladas representando 13% do total, os outros Estados, juntos somaram 48,3 toneladas (28% do total).
O material depositado no recipiente Papa-pilhas é conferido, recolhido e transportado para uma empresa que separa os elementos. As pilhas e baterias são desencapadas e os metais são queimados em fornos industriais, evitando a emissão de gases poluentes.
A reciclagem desses materiais resulta na produção de óxidos e sais metálicos que podem ser reutilizados como matéria-prima para a criação de outros produtos. Passando por diversos processos – como aspectos técnicos e operacionais, administrativos, gerenciais, econômicos, de desempenho na produtividade e qualidade na prevenção, segregação, redução, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação e destinação ambiental adequada – um projeto responsável de gerenciamento dos resíduos sólidos deve incorporar:
– Prevenção e redução da geração;
– Reutilização e reciclagem;
– Tratamento e destino adequado dos diferentes materiais reutilizáveis/recicláveis;
– Tratamento adequado dos resíduos orgânicos;
– Destino final ambientalmente adequado dos rejeitos;
– Recuperação de áreas degradadas pela disposição inadequada.
De acordo com empresas que reciclam pilhas e baterias, o processo se resume basicamente a:
• Descarregamento, seleção e separação – Antes de iniciar a reciclagem é preciso selecionar os produtos com alguma semelhança de matéria-prima.
• Corte de pilhas – A primeira separação feita é da carcaça (normalmente de plástico) e do restante. O material que não pode ou não é aproveitado para as empresas que fazem reciclagem de plástico, por exemplo.
• Moagem – Na moagem, é feita a separação de alguns metais como o aço, que também segue para outras empresas que reciclam o material. Neste processo, surge o pó químico.
• Reator químico – Essa é a fase em que o pó químico passa por reações químicas como precipitações, que podem formar diferentes compostos químicos. A escolha do produto vai depender da necessidade do mercado.
• Filtragem e prensagem – Uma nova separação é feita, dessa vez entre líquidos e sólidos, utilizando-se de filtros e prensa.
• Calcinador – Em uma espécie de forno, os elementos sólidos são aquecidos.
• Nova Moagem – Com os p
rodutos condensados, é feita uma nova moagem.
• Produto final – Resultado processo são sais e óxidos metálicos usados por indústrias de tintas, cerâmicas e outros tipos de produtos químicos.
• Tratamento de efluentes – Todo o processo recebe tratamento de efluentes e de gases para deixar o processo o mais limpo possível.
Lâmpadas fluorescentes
De acordo com a última pesquisa de avaliação do mercado de eficiência energética realizada pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), da Eletrobras, o Brasil é o 10º maior consumidor mundial de lâmpadas florescentes. Segundo o levantamento, o item é encontrado em 27% dos lares brasileiros e promove, além da melhoria da iluminação, redução de cerca de 80% do consumo de energia – quando comparado à lâmpada incandescente.
O grande volume deste produto causa preocupação com a sua destinação, ao final de sua vida útil, ou interrupção de utilização, seja por defeito, mau funcionamento ou quebra. O descarte inadequado das lâmpadas fluorescentes é altamente nocivo para o meio ambiente e para a saúde do ser humano. Uma lâmpada deste tipo é basicamente composta por vidro, pó de fósforo e metais pesados como cádmio, mercúrio e chumbo. O mercúrio é classificado como resíduo perigoso e altamente contaminante, o que exige adequado descarte. Apenas uma lâmpada fluorescente contém, em média, 10 mg de mercúrio e pode contaminar 20 mil litros de água, atingindo solos e provocando diversos males à saúde.
A Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM) realizou uma pesquisa e concluiu que, embora uma lâmpada quebrada libere pequena quantidade de mercúrio, o problema ambiental pode ser gerado pelo efeito acumulativo e persistente de componentes químicos provenientes de muitas lâmpadas.
Quando tem seu recipiente rompido, a lâmpada fluorescente emite vapores de mercúrio que são absorvidos por organismos vivos. Além disso, o descarte em aterros faz com que estes resíduos contaminem o solo e mais tarde os cursos d’água.
Em caso de quebra, a Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (ABilumi) orienta que não sejam utilizados equipamentos de aspiração durante a limpeza. É salutar que se abram todas as portas e janelas do ambiente para aumentar a ventilação. O consumidor deve se ausentar por cerca de 15 minutos do aposento e somente após este tempo coletar os cacos de vidro que devem ser postos em um saco plástico.
A organização recomenda ainda que sejam utilizados aventais e luvas. A utilização de papéis e panos umedecidos pode facilitar a remoção de cacos menores. Junte o pano ou papel utilizado ao material recolhido no plástico e feche-o bem para evitar a liberação do mercúrio no ar. Após a finalização do procedimento é recomendado lavar bem as mãos em água corrente e com sabão.
Em números reais, o Brasil consome aproximadamente 100 milhões de lâmpadas fluorescentes por ano e apenas 6% passam por algum processo de reciclagem, segundo dados da ABCM. Desde 2006 vigora em Porto Alegre uma resolução do Conselho Municipal de Meio Ambiente que determina que, empresas que produzem ou comercializam lâmpadas, pilhas e baterias, ofereçam postos de coleta e destino adequado aos materiais. Caso não cumpram a regra, os estabelecimentos serão multados.
No Rio de Janeiro, a lei nº 5131, publicada no Diário Oficial em 14 de novembro de 2007, estabelece que fabricantes, distribuidores, importadores, revendedores e comerciantes de lâmpadas fluorescentes situados no Estado do Rio de Janeiro, são obrigados a colocar à disposição dos consumidores, recipientes para a sua coleta.
Um parágrafo único descreve que os postos de coleta deverão ser instalados em locais visíveis e de modo explícito, contendo instruções para alertar e despertar a conscientização do usuário sobre a importância e a necessidade da correta destinação dos produtos, assim como os riscos que representam à saúde e ao meio ambiente quando não tratados adequadamente.
Reciclando as lâmpadas
Para que um processo de reciclagem seja considerado eficiente, deve abranger desde um serviço de informação que oriente os geradores de resíduos, desde como transportar as lâmpadas para que não quebrem, até a garantia de que todo o mercúrio seja removido dos componentes de recicláveis e que os vapores deste elemento químico sejam contidos durante o processo de reciclagem.
O ambiente de manuseio deve contar com analisadores portáteis para monitorar a concentração de vapor de mercúrio de acordo com a medição da Occupational Safety and Health Administration (OSHA), de 0,05 mg/m³), assegurando assim a operação dentro dos limites de exposição ocupacional.
O processo de reciclagem mais usado e em operação em várias partes do mundo pode ser resumido em duas fases:
• Fase de esmagamento:
As lâmpadas descartadas são introduzidas em processadores especiais para esmagamento e os materiais constituintes são separados por peneiramento, separação eletrostática e ciclonagem em cinco classes distintas:
1- Terminais de alumínio – pinos de latão;
2- Componentes ferro-metálicos;
3-Vidro
4- Poeira fosforosa rica em mercúrio;
5- Isolamento baquelítico.
Nesta fase, as lâmpadas são desfeitas em pequenos fragmentos, por meio de um processador (britador e/ou moinho). Assim, é possível separar a poeira de fósforo contendo mercúrio dos outros elementos constituintes. As partículas esmagadas restantes são conduzidas a um ciclone por um sistema de exaustão, em que as partículas maiores, tais como vidro quebrado, terminais de alumínio e pinos de latão, são ejetadas do ciclone, separadas por diferença gravimétrica e por processos eletrostáticos.
A poeira fosforosa e demais particulados são filtrados no interior do ciclone. Em outro mecanismo, de pulso reverso, a poeira é retirada desse filtro e transferida para uma unidade de destilação para recuperação do mercúrio.
A partir dessa etapa, o vidro, em pedaços de 15 mm, pode ser limpo, testado e enviado para reciclagem. A concentração média de mercúrio não pode atingir o máximo de 1,3 mg/kg. Depois de reciclado, o vidro pode ser usado, por exemplo, para a fabricação de produtos para aplicação não alimentar.
Depois de limpos, o alumínio e os pinos de latão podem ser enviados para reciclagem em uma fundição. A concentraç&a
tilde;o de mercúrio nesses itens não deve exceder o limite de 20 mg/kg. Já a poeira de fósforo é normalmente enviada a uma unidade de destilação, onde o mercúrio é extraído, recuperado e pode ser reutilizado. A poeira fosforosa pode ser reciclada e reutilizada na indústria de tintas, por exemplo.
O único componente da lâmpada que não é reciclado é o isolamento baquelítico existente nas extremidades da lâmpada.
Um dos maiores avanços tecnológicos para a reciclagem de lâmpadas é apresentado pela empresa Mercury Recovery Technology (MRT), estabelecida em Karlskrona, na Suécia. O processador da MRT trabalha a seco, em sistema fechado, incorporado em um “container” de 6,10 m de comprimento. Todo o sistema é operado a vácuo (sob pressão negativa) para evitar a fuga de mercúrio para o ambiente externo (emissões fugitivas).
• Destilação de mercúrio
Esta fase do processo de reciclagem promove a recuperação do mercúrio contido na poeira de fósforo. O material é aquecido até a vaporização do mercúrio (temperaturas acima do ponto de ebulição do mercúrio, 357 °C). O material vaporizado no processo é condensado e coletado em recipientes especiais ou decantadores. O mercúrio obtido ainda passa por nova destilação para remover totalmente as impurezas.
Neste tipo de processo tecnológico, é empregada uma câmara de vácuo para a fase de destilação. Buscando a pureza de mercúrio da ordem de 99,99%, as partículas orgânicas carregadas pelos gases durante a vaporização do mercúrio são conduzidas a uma câmara de combustão onde são oxidadas.
O custo para a reciclagem e descontaminação do gerador de resíduos depende do volume, distância e serviços específicos escolhidos pelo cliente. Uma tradicional empresa do ramo no Brasil, cobra pelos serviços de descontaminação valores de R$ 0,60 a R$ 0,70 por lâmpada. Não estão inclusos neste preço os custos de frete (transporte), embalagem e seguro contra acidentes.