Edição 101 – Junho de 2014
Por Michel Epelbaum
No dia 5 de junho foi comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente e inaugurada a “Década para a Energia Sustentável para Todos”. O discurso do Secretário Geral da ONU ressalta que o apetite de energia e o termostato mundial continuam a aumentar e é preciso esforço para a transformação. Esta data foi criada pela ONU durante a “Eco 1972”, e em 2014 se volta para as mudanças climáticas com o tema “Aumente sua voz, não o nível do mar”.
Não nos pareceu haver nesta data um movimento relevante e proporcional ao problema. Também a concorrência foi enorme: às vésperas da Copa do Mundo, em meio a um momento econômico mundial de atenção, alerta sobre falta de água e energia no Brasil, greves e manifestações sociais, até a Lei da Palmada ganhou mais atenção na mídia do que o meio ambiente. As menções sobre a data em dois dos principais jornais e revistas de São Paulo se resumem a propagandas pagas de ações ambientais de três grandes empresas.
Em abril de 2014 foi publicado o mais recente relatório do IPCC sobre as mudanças climáticas, reafirmando a sua concretização:
– Desde 1850, cada uma das três últimas décadas tem sido mais quente na superfície da Terra do que qualquer década anterior;
– Mais de 50% do aumento da temperatura do planeta entre 1951 e 2010 é atribuível ao homem, com mais de 90% de certeza;
– Camadas de gelo em torno dos polos estão derretendo, o nível dos oceanos está aumentando e eles estão se tornando mais ácidos;
– As emissões de gases de efeito estufa continuam aumentando e a atmosfera apresentou concentração em 2013 de 400 partes por milhão de CO2, esperando-se crescimento nos próximos anos;
– Eventos climáticos extremos como ondas de calor, inundações, secas e ciclones tropicais estão mais frequentes e severos. O próprio regime de chuvas neste ano no Brasil foi totalmente atípico.
Se a tendência atual se mantiver, a Terra pode terminar o século até 4,8 °C mais quente. E o setor de energia, especificamente quanto ao uso de combustíveis fósseis, é o maior responsável.
E, no nosso país, alguns retrocessos:
– Houve redução das emissões totais de gases de efeito estufa somente por conta daquelas oriundas do uso da terra/florestas, identificada no mais recente inventário publicado em 2013 (dados de 2010 x 2005), o que se mostra um pouco ilusória, pois é focada na redução de desmatamento ilegal. Mas houve aumento das emissões do uso da terra/florestas de 2010 frente a 2009, e também de todas as demais categorias em relação a 2005, destacando-se o uso de energia (21,4%);
– Apesar do “Pibinho” esperado para 2014, o crescimento real do consumo de energia neste período é bem superior (a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima crescimento de 4% no ano);
– A FIFA contratou uma empresa para fornecer 50 MW de energia por meio de geradores a óleo diesel para abastecer painéis publicitários e transmissões jornalísticas dos estádios da Copa do Mundo e do centro internacional da imprensa[G1] , considerando que o Brasil não deu garantias suficientes de suprimento, com base em relatório divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para não ficar somente nas más notícias, aí vão algumas boas intenções:
– O governo americano anunciou pacote para reduzir em 30% as emissões de CO2 das usinas termelétricas a carvão até 2030 (frente a 2005), que representa 38% das emissões do país, pela segunda vez tentando vencer a resistência interna a este assunto. As opções para redução podem envolver melhoria da eficiência energética, substituição por usinas a gás, investimento em energias renováveis e atualização das termelétricas existentes;
– Divulgação da intenção de assinar um novo acordo global de redução de emissões em 2015, na Conferência das Partes a ser realizada em Paris, substituindo o Protocolo de Kyoto que está em fase final (sem atingir os resultados pretendidos);
– O governo chinês pretende reduzir as emissões de CO2 de 40 a 45% até 2020 (relativos a 2005).
Apesar das resistências aos problemas ambientais, a gestão da energia está no centro das discussões mundiais e faz parte da solução, seja pelo aumento da eficiência, redução de custos, segurança de fornecimento, redução das emissões de CO2 ou evolução para origem renovável. Apesar do aparente “apagão” de prioridade ambiental no Brasil neste dia 5 de junho, as propostas do governo americano e chinês podem motivar a obtenção de um novo acordo global em 2015, que envolva os países emergentes, e que também seja dirigido para a melhoria da gestão da energia no mundo.
Que venha a Década da Energia Sustentável! Que a força esteja conosco!