por Hélio Eiji Sueta*
A análise de risco conforme a ABNT NBR 5419-2: 2015 é uma ferramenta muito importante para a definição das medidas de proteção contra os efeitos danosos das descargas atmosféricas. Os programas e planilhas desenvolvidas baseadas na parte 2 da norma auxiliam bastante nesta tarefa, que é árdua se realizada à mão. Esta ajuda é importante, porém, os profissionais que atuam nesta área não podem deixar de estudar e entender bem a norma, procurar sempre a melhor solução para cada caso estudado e não confiar apenas no resultado da planilha.
O objetivo deste artigo é fornecer e colocar em discussão alguns pontos da análise de risco conforme a ABNT NBR 5419-2: 2015 para a otimização de parâmetros, e assim, procurar as melhores medidas de proteção para que a estrutura sob estudo fique com os seus riscos com valores toleráveis.
Dependendo do tipo de utilização de cada estrutura, um parâmetro pode ter mais peso ou não. Por exemplo, em estruturas industriais, áreas classificadas com perigo de explosão têm um peso muito grande na análise de risco. Em edificações tipo residencial, a área de exposição equivalente (AD), a localização (CD) e a densidade de descargas atmosféricas para terra (Ng) têm um peso significante, assim como em estruturas para uso comercial, onde o número de pessoas e o local onde estas pessoas transitam na estrutura também têm um peso considerável.
Iniciando pelas estruturas industriais, considerando que a indústria possua áreas classificadas, a divisão por zonas de estudo é essencial para a otimização da análise de risco. Assim como o caso de um hospital, onde geralmente definimos zonas de estudo diferentes para UTIs e salas de operação, quartos de internação, salas de consultas, parte administrativa, eventualmente, áreas externas, no caso da indústria com áreas classificadas, a divisão por zonas é muito importante.
Dependendo da exposição da indústria aos raios, se considerarmos a indústria inteira como área classificada, os riscos, certamente, serão muito acima dos toleráveis. Neste caso, um estudo detalhado de classificação de áreas deve ser feito por um especialista, definindo quais zonas são 0, 1 ou 2 e/ou 20, 21 ou 22.
Como exemplo, vamos considerar um galpão industrial de 30 metros de largura, 80 metros de comprimento e 15 metros de altura, e que neste galpão trabalham 300 pessoas, onde 290 (na maioria das simulações) trabalham internamente ao galpão e 10 circulam nas redondezas (até três metros das paredes) do galpão na área externa. Consideramos também que uma linha de energia aérea de Baixa Tensão de 300 metros alimenta o galpão e que não existe nenhum tipo de perigo especial em relação à pânico ou dificuldade de evacuação no caso de alguma falha devido às descargas atmosféricas.
No caso de estruturas com risco de explosão, com Ng de 4, sem medidas de proteção, o risco R1 é altíssimo (5865 x 10-5) e com todas as principais medidas de proteção, ainda o R1 fica com valores acima do tolerável (32 x 10-5). Uma solução para uma indústria com risco de explosão seria confinar ao máximo o setor considerado como área classificada (zona 0 ou 20) e criar uma zona de estudo específica para ela. Neste caso, considerar o mínimo de pessoas possível na área classificada e ficando o menor tempo possível também nesta área. No exemplo estudado, consideramos uma terceira área com 10 pessoas ficando 2600 horas por ano nesta área classificada com perigo de explosão. O R1 caiu para 0,8 x 10-5 e, portanto, com valor tolerável.
Neste mesmo caso, se a indústria estiver instalada em local com Ng igual a 15, uma solução seria restringir ainda mais a permanência de funcionários na área classificada, por exemplo, três horas por dia, cinco dias por semana ou automatizar processos, diminuindo o número de com valores toleráveis.
No caso de estruturas tipo residencial (prédios ou casas) e comerciais (shopping centers, por exemplo), a análise do número anual “N” de eventos perigosos é muito importante. Assim, a densidade de descargas atmosféricas para a terra (Ng), a área de exposição equivalente (AD) e a localização da estrutura (CD) são os parâmetros a serem avaliados com mais cuidados.
O Ng é obtido nos mapas que estão na norma ou, de preferência, no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde se obtêm valores mais precisos (http://www.inpe.br/webelat/ ABNT_NBR5419_Ng).
Os parâmetros AD e CD são fixos para cada estrutura? O que significa a última frase da página 35 da parte 2 da ABNT NBR 5419: “Uma avaliação mais precisa da influência dos objetos ao redor pode ser obtida considerando a altura relativa da estrutura em relação aos objetos nas cercanias ou o solo dentro de uma distância de 3 x H da estrutura e assumindo CD = 1”?.
Localização da estrutura que as comissões nacionais podem fornecer métodos mais detalhados para avaliar o impacto dos edifícios nas redondezas e o ambiente geológico.
Consideremos duas estruturas, conforme a figura 1 a) e b): a Estrutura 1 com 20 x 30 metros e 20 metros de altura e a Estrutura 2 com 10 x 20 metros e três metros de altura. A área de exposição equivalente da Estrutura 2 (AD2 = 854m²) está no interior da AD1 da Estrutura 1, bem próxima à periferia da área de exposição equivalente da Estrutura 1, que vale 17909m² (Figura 1a). O número de eventos perigosos ND para uma estrutura é avaliado pela equação;
ND=Ng×AD×CD×10
Para a análise de risco da Estrutura 1, podemos considerar:
ND2=Ng×(17909 – 854)×1×10 = Ng×17055×10
sendo 17055 a diferença entre AD1 e AD2.
Na equação de ND2, consideramos a influência da Estrutura 2 na área de
exposição da Estrutura 1, assumindo CD = 1. Teremos, neste caso, quase o dobro de eventos perigosos considerados (1,9 vezes).
Neste caso, não foi uma “vantagem” descontar a área de exposição equivalente da Estrutura 2 para o estudo da estrutura 1, porém pode-se ter casos que esta ação pode diminuir os riscos. Um exemplo seria se tivéssemos 12 estruturas com as dimensões da Estrutura 2 com suas áreas de exposição equivalentes dentro da área de exposição equivalente da Estrutura 1. Neste caso, um novo N seria igual a N ×7661×10-6, que já seria inferior ao ND1.
Consideremos agora a análise de risco para a estrutura 2. No primeiro caso, esta está toda dentro do Volume de Proteção (ver Figura 1a). Assim, o CD valerá 0,25:
ND3=Ng×854×0,25×10 = Ng×213,5×10
ou
N = N ×(praticamente ZERO)×1×10-6= N ×0×10-6
Neste caso, as descargas atmosféricas, na teoria, não cairão diretamente na estrutura 2, somente na
- Mas, como fica a análise de risco da Estrutura 2? As Componentes de risco que dependerem do ND terão valor ZERO. Assim, os riscos estarão menores se isto for considerado.
No caso de a Estrutura 2 estar, como neste exemplo, a aproximadamente 10 metros da estrutura 1, ela poderá estar fora do Volume de proteção, mas sua área de exposição equivalente pode estar dentro da Área de exposição equivalente da Estrutura 1. Assim, o CD ainda valerá 0,25:
ND5=Ng×854×0,25×10 = Ng×213,5×10
ou
ND6=Ng×854×1×10 = Ng×854×10
Uma parte das descargas que iria cair na Estrutura 2 (se fosse isolada) pode cair na Estrutura 1, mas o ND6 ficou quatro vezes maior que o ND5. Neste caso, não tem sentido considerar o CD igual a 1 (pensando na observação da norma).
Em resumo, devemos ou não considerar as áreas de exposição equivalente de outras estruturas e/ou objetos que estejam dentro da área de exposição equivalente da estrutura que estamos estudando?
Um ponto a refletir…
Hélio Eiji Sueta é chefe adjunto da Divisão Científica de Planejamento, Análise e Desenvolvimento Energético do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.
Uma resposta
Faltaram as figuras 1a e 1b.