Manutenção de ativos! Por muitos anos considerada como o mal necessário dentro das organizações, ganhou relevância, ou melhor, foi colocada no seu devido lugar, por agregar valor ao negócio. Neste moderno conceito deixou de ser custo para ser um item estratégico. A série de normas NBR ISO 55000, lançada há poucos anos com o objetivo de as organizações melhorarem a gestão dos seus ativos, foi fundamental para a manutenção se revelar como na história infantil, em que anteriormente era um Patinho Feio, e na verdade era um lindo cisne.
E o Cisne Negro onde fica nesta história? Vamos falar no final desta coluna como a Lógica do Cisne Negro (Nassim Taleb) pode impactar na manutenção das redes subterrâneas.
Porém, antes disso, na ISO 55000 podemos identificar a aplicação de um aspecto relevante para as empresas, com um inventário dos seus ativos. Neste trabalho, os cabos elétricos isolados de média tensão, que muitas vezes estão instalados de forma subterrânea, passaram a ser “descobertos” pelas empresas.
A identificação do portfólio de ativos, desenvolvido pelo inventário, permite a classificação dos itens críticos. Essa classificação é realizada com base em quatro critérios, sendo eles: valor gerado ao negócio; lucro cessante pela falha; risco envolvido na perda do ativo; custo de manutenção e reposição.
Os cabos isolados de média tensão que foram “descobertos” no inventario devem ser classificados como críticos, tendo em vista que eles conduzem a energia que faz a empresa funcionar, ou seja, agregam muito valor. Além disso, na condição de falha, toda ou parte da operação da empresa para de funcionar, o que causa um custo de indisponibilidade muito elevado.
O divisor de águas entre a manutenção “antiga” (Patinho Feio) e a moderna manutenção foi que a ISO 55000 exige alinhamento da gestão dos ativos com a estratégia da organização. Logo, na gestão moderna, ela passou a ter um papel relevante no plano estratégico.
De acordo com a ISO 55000, deve ser elaborado um Plano Estratégico de Gestão de Ativos, conhecido pela sigla SAMP (termo em inglês). Este plano deve conter a estratégia, o ciclo de vida estabelecido para o portfólio de ativos e os indicadores que permitirão acompanhar a evolução do estado de conservação.
Para monitorar a estratégia, podemos aproveitar o conceito do ciclo PDCA disseminado por William Edward Deming, que apresenta um resultado efetivo na gestão de processos, sendo baseado em indicadores que acompanham a performance do estado de conservação dos ativos.
Os indicadores de performance evidenciam o nível de risco em que se encontram estes ativos, subsidiando o gestor responsável para direcionar as ações de forma assertiva e otimizada, obtendo maior confiabilidade, com menor risco operacional.
Agora, tratando da Lógica do Cisne Negro, Taleb o definiu com base no conceito de que, em um momento da história os Ornitólogos já haviam observados milhões de cisnes da cor branca, portanto, havia o conceito inquestionável de que todos eram brancos, até o momento em que foi descoberto na Austrália um cisne negro, quebrando o conceito estabelecido.
Desta forma, Taleb definiu a Lógica do Cisne Negro, como sendo um evento diferente de todo o registro histórico, que causa um impacto extremo no conceito existente e que, após ocorrido, leva as pessoas a criarem explicações a respeito do fenômeno, como se o mesmo fosse previsível.
Trazendo este conceito para os cabos isolados de média tensão, é comum os gestores observarem o comportamento passado da alta confiabilidade, e por esse motivo cria-se o conceito do cisne branco. Contudo, a observação passada não assegura que não ocorra o Cisne Negro, que seria uma falha em cabos, quebrando o conceito que até então era inquestionável do cisne branco.
Portanto, a ISO 55000 auxilia a evitar que a Lógica do Cisne Negro impere nas organizações, pois ela evidencia o risco existente em todos os ativos, inclusive aqueles que por muitos anos foram deixados em segundo plano como os cabos isolados de média tensão.