Eficiência energética: um vetor da transição

Por: Clauber Leite*

A transição dos países para economias de baixo carbono é considerada uma das principais alternativas para o enfrentamento das mudanças climáticas, com a substituição de fontes fósseis de energia por renováveis, como eólica e solar. Mas, além das condições da oferta, o aumento da eficiência no uso final da energia pode ser uma forma complementar competitiva e relativamente simples para se lidar com o problema. Os desafios, para tanto, passam por questões como o custo das tecnologias e as exigências normativas. 

No caso das indústrias, os motores elétricos respondem, em média, por quase 70% da energia elétrica utilizada. Felizmente, esses equipamentos têm evoluído de maneira constante, graças ao desenvolvimento tecnológico, as formas de construção e aos materiais utilizados. Estimativas indicam que, entre 1960 e 2016, a eficiência energética desses equipamentos saltou de uma média de 6,3%, para 96,5%. Além disso, mesmo entre os mais novos, a diferença entre aqueles de alto rendimento chega a 6% na comparação com os de pequeno porte e de 2% em relação àqueles maiores. 

A lógica é semelhante no caso das lâmpadas, cuja diferença ao longo das últimas décadas se deu principalmente devido à mudança tecnológica, com a passagem dos modelos incandescentes para as fluorescentes e, mais recentemente, para a popularização das unidades de LED, que produzem mais lúmens por watt consumido. Com a melhor relação custo-benefício atualmente, essas lâmpadas chegam a representar uma economia de 50% a 80% na comparação com as similares da categoria anterior, as fluorescentes.

Em paralelo, os consumidores observaram uma evolução semelhante no caso das geladeiras, com os refrigeradores dando lugar a aparelhos com separação entre o congelador e a geladeira, seguidos pela tecnologia de frost free e, agora, pelos sistemas inverters. Mais moderna, aparelhos com essa tecnologia chegam a consumir até 30% menos de energia elétrica, na comparação com versões mais antigas.

O desafio é que, por mais significativo que seja o aumento de eficiência energética dos equipamentos, o comportamento dos usuários influencia diretamente na quantidade de energia efetivamente usada. O fato é que, ao mesmo tempo em que a iluminação ficou mais eficiente, a lâmpada de 60W que reinava isolada no centro do cômodo, por exemplo, deu lugar a várias unidades alinhadas, compondo a decoração do ambiente, de acordo com o gosto ou necessidade de cada consumidor. O resultado é que o gasto de energia certamente é inferior, mas não na mesma proporção que o aumento de eficiência verificado, uma vez que agora, na prática, os ambientes estão muito mais iluminados.  

No caso do ar-condicionado, a maior preocupação diz respeito à perspectiva de aumento do uso, tendo em vista inclusive o aumento da frequência das ondas de calor causadas pelas mudanças climáticas. Nesse contexto, estimativas da Agência Internacional de Energia indicam que, se não houver avanços regulatórios e tecnológicos relevantes, a demanda por eletricidade para climatização deve crescer cerca de 50% até o ano de 2030.  

Além disso, no caso dos refrigeradores, a evolução da renda e a redução relativa dos preços dos eletrodomésticos permitiram que, em paralelo à mudança tecnológica, muitas famílias pudessem adquirir equipamentos de maior porte. Além disso, boa parte da população brasileira ainda está longe de poder participar plenamente dessa evolução: em muitos casos, as famílias mais pobres têm acesso apenas a equipamentos de segunda mão, tecnologicamente defasados. 

O custo das novas tecnologias também tem um impacto importante nas melhorias do parque industrial, principalmente nas pequenas e médias empresas, com pesquisas mostrando que a idade média das instalações industriais nacionais é de 17 anos. Os motores elétricos acompanham essa média.

Outro problema é que o aproveitamento pleno dos benefícios tecnológicos depende diretamente das condições de uso. Ainda no caso dos motores, não basta a indústria dispor dos equipamentos mais modernos disponíveis. Se a carga estiver subdimensionada, ou seja, muito abaixo do que o motor pode aguentar, ele pode apresentar baixa eficiência, consumindo mais energia do que o necessário. Por outro lado, se houver excesso de carga, é grande a possibilidade de sobreaquecimento e diminuição da vida útil do motor, de forma que a eficiência também é prejudicada. Outro fator a ser considerado é a ventilação do motor: a obstrução do sistema de refrigeração leva a um aquecimento desnecessário, aumentando as perdas. Reparos mal executados também podem ser prejudiciais. 

Uma das principais alternativas para garantir que a evolução da eficiência energética dos equipamentos reflita no consumo final de energia, é a exigência de padrões mais rigorosos de desempenho para os equipamentos vendidos no país. Atualmente, itens considerados obsoletos em vários países do resto do mundo, não só ainda são usados em muitas residências e empresas brasileiras, como continuam a ser vendidos, prejudicando tanto o meio ambiente quanto a competitividade empresarial, além de impactar nos gastos das famílias com a conta de luz. 

No mais, uma transição energética efetiva, por parte dos consumidores, exige uma estratégia mais inclusiva, que envolva a atualização, mais investimentos em pesquisa e inovação, campanhas educativas e outros estímulos para a adoção de tecnologias mais eficientes. Apenas com uma abordagem integrada poderemos enfrentar, na ponta do consumo, os desafios impostos pelas mudanças climáticas de maneira mais eficiente e sustentável.   

* Clauber Leite é coordenador técnico do Instituto E+ Transição Energética.   

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