Otimismo do segmento está relacionado à projeção positiva para o setor da construção civil, estimado em 2,9% em 2024.
Por Edmilson Freitas
Espalhados pelas cidades, estradas, edifícios, casas, indústrias, automóveis, antenas e redes de transmissão e distribuição de energia, os fios e cabos são essenciais para o funcionamento de praticamente tudo que o homem construiu. É através deles que percorre a energia necessária ao funcionamento de praticamente todo e qualquer equipamento eletrônico, maquinário e uma infinidade de outros aparelhos.
Com uma demanda elevada de vários segmentos por diferentes tipos e modelos de cabos e fios, de baixa, média e alta tensão, de cobre ou alumínio, este setor, ano após ano, vem crescendo e se modernizando cada vez mais. Atualmente, de acordo com a Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos – Qualifio, existem cerca de 340 marcas de cabos e fios, conhecidas e registradas no país.
No setor elétrico, os cabos e fios representam um dos segmentos mais pujantes, dada a sua relevância e essencialidade. Com isso, a perspectiva do setor é por um crescimento acentuado no próximo biênio, em sintonia com as perspectivas de crescimento da economia em geral, em especial do segmento da construção civil, que segundo projeções do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Produto Interno Bruto (PIB) da construção deve crescer 2,9% em 2024.
“O segmento de energia está em um momento que eu classificaria como único na história do setor. Somos o centro da transição de combustíveis fósseis com emissões de CO2 para fontes limpas que nos levam a descarbonizar o mundo. A eletricidade é a fonte mais importante de energia para a transição energética e os cabos elétricos são o meio para promover essa mudança. Esperamos índice de crescimento do mercado elétrico em torno de quatro vezes o do PIB projetado para o Brasil em 2024 e 2025, ainda maior impulsionado pelo mercado de transmissão e de geração renovável”, afirma Marcondes Silvestre Takeda, gerente de produtos e aplicações do Grupo Prysmian, um dos maiores players em fabricação de cabos e soluções para o segmento elétrico do país.
De olho na expansão do mercado, o Grupo Intelli, que é um dos principais fabricantes de condutores de alumínio do país, pretende ampliar sua linha de produção para dar vazão ao aumento esperado da demanda. “Prosseguimos na nossa estratégia de expansão de capacidade fabril em todas as fases produtivas, desde a laminação do vergalhão, passando pela trefilação, encordoamento e isolamento. As expectativas são positivas, principalmente pelo fato de várias concessionárias de energia estarem projetando aumento de consumo em relação ao ano anterior – ainda que por motivos diversos. Algumas delas estão reforçando suas redes rurais, outras estão entrando no segundo ano pós revisão tarifária, o que também indica tendência crescente de consumo. Os recentes leilões de transmissão também tendem a aquecer a demanda”, detalha Lorenzo Spedicato, diretor de operações do Grupo Intelli.
Estratégia semelhante também está em curso na Boreal Cabos e Fios, empresa que possui atuação forte no mercado nacional de condutores de alumínio. “Nossos investimentos são projetados para um crescimento de produção em cerca de 25% do volume de metal processado atualmente. Pretendemos chegar ao volume de 6.000 t/ano após o término das instalações. Para isso, estamos investindo em máquinas e equipamentos para ampliação da capacidade fabril, de forma a acompanhar o aumento da demanda”, destaca o diretor comercial da indústria, Anderson Fuga.
De olho no boom esperado para o setor de construção civil, a Sil Fios e Cabos Elétricos também está bastante otimista. “A expectativa para os próximos dois anos é boa, tanto nas novas construções como em reformas. Como a parte elétrica faz parte do fim da obra, ainda há muito consumo previsto para acontecer de obras que estão em andamento. Certas regiões do país parecem um canteiro de obras, de tantas construções. E a reforma é uma necessidade, pois ainda existem muitas instalações elétricas precárias que já deviam ter sido reformadas para atender às necessidades atuais. Como o Brasil é um país continental, o consumo dos condutores elétricos segue essa proporcionalidade”, ressalta Nelson Volyk, gerente de engenharia de produto da Sil.
Descarbonização e o mercado de renováveis
Ponto chave para o cumprimento das metas de descabonização global, os principais atores do setor elétrico já estão em linha com as práticas ESG. Nas empresas do segmento, não faltam iniciativas a respeito do assunto, conforme a reportagem de destaque desta edição da Revista O Setor Elétrico. Com isso, empresas como a Condumax Fios e Cabos Elétricos já estão de olho no mercado de renováveis, em franca expansão no país.
“A tendência é o aumento significativo na geração de fontes renováveis, como solar e eólica. Nossa empresa está alinhada a essa propensão e tem estudado soluções específicas para atender às necessidades desse mercado em crescimento. Estamos focados em oferecer cabos e fios de alta qualidade, durabilidade e eficiência energética, contribuindo para a expansão das energias renováveis no Brasil. Considerando as tendências do mercado, é fato que a eletrificação, a descentralização e a descarbonização irão gerar demandas por novos produtos, que envolvem investimento em P&D associado à prática da sustentabilidade na produção do setor”, afirma Antonio Carlos Ferreira, diretor executivo das empresas Condumax e Incesa.
Frente a este desafio, o executivo defende maior agilidade na atualização das normas técnicas brasileiras que tratam da qualidade, segurança e eficiência energética. “À medida que novos produtos e tecnologias são desenvolvidos, especialmente aqueles que buscam atender às demandas por maior eficiência energética, sustentabilidade e integração de sistemas renováveis, a falta de normas atualizadas que contemplem essas inovações pode se tornar um entrave significativo. Isso afeta não apenas a comercialização desses novos produtos no mercado brasileiro, mas também a competitividade das empresas nacionais no cenário global. Enfrentar esses desafios requer uma abordagem colaborativa entre o setor privado, órgãos de normatização e regulamentação, e outras partes interessadas, para garantir que o Brasil possa acompanhar as rápidas inovações tecnológicas do setor elétrico global”, complementa Ferreira.
O desafio da normatização também é mencionado pela Boreal como entrave para a expansão de novas tecnologias associadas à fabricação de condutores de alumínio. “As normas internacionais já preveem os cabos de alumínio em diversas aplicações, em alguns locais são permitidos até em usos residenciais. As normas brasileiras restringem o uso de alumínio em algumas aplicações, porém, atualmente, com o avanço dos materiais e melhorias de toda cadeia de materiais elétricos, é possível ampliar a normatização dos cabos de alumínio”, defende Anderson Fuga.
Qualidade e fiscalização
A necessidade de maior controle e fiscalização dos órgãos competentes quanto à fabricação e comercialização de fios e cabos de baixa qualidade no mercado nacional foi uma queixa unânime entre os executivos ouvidos por O Setor Elétrico. Segundo os empresários, a concorrência desleal, com produtos fora das especificidades regulamentadas no país, é um dos principais desafios enfrentados pelo segmento.
“O uso de práticas ilícitas, como a venda de cabos “desbitolados”, por exemplo, permite a prática de preços abaixo do mercado, os quais só são possíveis, pois as empresas que usam essas práticas deixam de atender especificações técnicas e normas regulatórias exigidas pelos órgãos de regulação. Essa conduta prejudica toda a cadeia, comprometendo os valores de ética e conformidade do setor, impactando, principalmente, a segurança do cliente final”, alerta Antonio Carlos Ferreira, da Condumax.
Para além da concorrência desleal, a comercialização de cabos de baixa qualidade também representa impacto na eficiência energética do país. “O entrave não está relacionado às especificações e normativas, mas no desafio imposto pelo mercado com a presença significativa de concorrentes que não estão, na prática, em conformidade com essas normas, principalmente em relação aos cabos de baixa tensão (até 750V) utilizados nas instalações elétricas internas de força e iluminação (principalmente residenciais e comerciais) e, agora mais recentemente, nos cabos de corrente contínua para instalações de módulos fotovoltaicos utilizados nas geração distribuída de energia solar. Somado ao impacto negativo na saúde da concorrência, temos o prejuízo econômico imposto ao consumidor, o qual terá um consumo maior de energia pela utilização dos cabos não conformes e, o mais grave, o risco de incêndio pelo aquecimento excessivo destes cabos”, ressalta Takeda, da Prysmian.
Na mesma linha, Sil, Boreal e Intelli também apontam para a mesma dificuldade. “O maior desafio para os próximos anos é a entrada de diversas novas empresas no mercado, gerando uma disputa desigual devido ao baixo nível de qualidade”, completa Anderson Silva. A comercialização informal de produtos elétricos é ainda listada pelos executivos. “Certamente, um dos grandes desafios é a concorrência desleal, tanto por parte de empresas que ainda vendem na informalidade, quanto por venderem produtos fora de normas e desbitolados”, completa Lorenzo Spedicato, da Intelli.