Enchentes nas grandes cidades: como proteger as nossas redes de distribuição elétrica?

Em maio de 2024, o Brasil inteiro acompanhou aflito o que ocorreu com os nossos colegas do Rio Grande do Sul, especialmente em Porto Alegre, cujo sistema subterrâneo da capital teve de ser desligado por conta das enchentes. Quem me acompanha sabe o quanto defendo a ampliação das redes subterrâneas no Brasil, e deve estar se perguntando: essas infraestruturas não são infalíveis contra esse tipo de evento climático? 

Para quem não está muito habituado com as especificações técnicas dos sistemas subterrâneos de distribuição elétrica, cabem algumas explicações: esse tipo de infraestrutura é submersível, ou seja, podem permanecer debaixo d’água, desde que seus cabos, acessórios e transformadores tenham sido projetados para tal. O grande ponto de atenção são os circuitos secundários, onde a conexão com os consumidores (ponto de entrega) no medidor de energia, não são projetados para operar debaixo d’água. Portanto, quando a água atinge esses sistemas, eles precisam ser desligados por questões de segurança da população.

Foi exatamente o que aconteceu no centro de Porto Alegre, cujo sistema de abastecimento elétrico é subterrâneo, e foi corretamente desligado pela equipe do Grupo Equatorial Energia ao ser atingido pelas inundações. Para religar os circuitos com segurança, foi necessária uma força-tarefa que contou, além da competente equipe da Equatorial (CEEE-D), com a participação de muitos profissionais especializados, oriundos da Enel, Light e da equipe técnica da BAUR do Brasil. 

Pelo que tudo indica, eventos como esses tendem a continuar castigando as cidades. Em 2022, o mundo registrou um número significativo de desastres naturais, com inundações liderando de forma isolada a lista com 176 ocorrências. Desde o ano 2000, os desastres relacionados a inundações aumentaram 134%.

Mas, afinal, as redes subterrâneas são mesmo mais resilientes do que as aéreas, frente a eventos climáticos extremos como esses? Respondendo a essa pergunta, um estudo da Power Delivery Intelligence Initiative (PDi2), que avaliou o desempenho de sistemas de cabos subterrâneos em áreas afetadas por supertempestades, como o furacão Sandy, concluiu que apenas 8% dos cabos foram impactados diretamente pelas enchentes, enquanto 75% das pesquisas revelaram algum grau de impacto nos ativos de transmissão, principalmente em equipamentos aos quais os cabos estavam conectados​​.

Os dados da pesquisa da PDi2 também mostram que 100% das falhas em sistemas de cabos dielétricos sólidos ocorreram nas terminações, e não nas emendas ou nos cabos. Identificou-se contaminação por sal nas terminações e para-raios, bem como lama e lodo com propriedades corrosivas remanescentes após tempestades e inundações​​.

O relatório conclui que as redes subterrâneas, mesmo nas situações de inundações, continuam sendo significativamente mais vantajosas que as redes aéreas nas questões técnicas avaliadas.

Como já discutido em outras edições desta coluna, as redes subterrâneas, ao reduzirem as interrupções e os danos causados por desastres naturais, podem levar a economias substanciais em termos de reparos e de perda de produtividade. Em um contexto de mudanças climáticas, onde a frequência e a intensidade de desastres naturais tendem a aumentar, o investimento inicial pode ser justificado pela durabilidade e resiliência aprimoradas da infraestrutura elétrica.

Mais do que nunca, o Brasil precisa repensar suas malhas de distribuições elétricas, visto que temos apenas 0,4% de redes subterrâneas instaladas, em comparação com as redes aéreas. No entanto, para que essa transição seja bem-sucedida, é essencial que nós, como sociedade, mudemos esse quadro com um plano sistêmico de enterramento de redes, a fim de impulsionar a resiliência e a confiabilidade das nossas redes de distribuição. A colaboração entre governos, empresas de energia e a sociedade civil será crucial para construir uma infraestrutura elétrica robusta e preparada para o futuro!

Sobre o autor:

Daniel Bento é engenheiro eletricista. Membro do Cigré, onde representa o Brasil em dois grupos de trabalho sobre cabos isolados. É diretor executivo da Baur do Brasil | www.baurbrasil.com.br

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