Edição 92 – Setembro de 2013
Por Patrícia Jimenes
A energia eólica vem aumentando sua participação no contexto energético brasileiro. Desde a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), e, posteriormente, os sucessivos leilões de compra e venda deste tipo de energia, sua capacidade instalada passou de 25 MW, em 2005, para 1.886 MW, ao final de 2012, ano em que foram gerados 5.020 GWh de energia eólica – 86% acima da geração de 2011.
De acordo com informações divulgadas no site oficial do governo brasileiro, este vem se comprometendo a diversificar a matriz energética, organizando leilões que contratem energia pelo menor preço e que garantam a sustentabilidade ambiental. A energia eólica se mostra a mais competitiva a cada ano e vem ganhando espaço nos leilões.
Além de ser uma fonte renovável e competitiva, a energia eólica se apresenta como complementar à hidrelétrica, na medida em que os melhores ventos ocorrem nos períodos de menor regime de chuvas. A geração eólica auxilia na recomposição dos níveis dos reservatórios, ou seja, possibilita a formação de acúmulo de água para geração futura.
O Brasil é o País mais promissor do mundo em termos de produção de energia eólica, na avaliação do Global Wind Energy Council, organismo internacional que reúne entidades e empresas relacionadas à produção desse tipo de energia. Ao final de 2012, o País ocupava o 20º lugar no mundo em capacidade instalada de geração de energia a partir da força dos ventos. De 2005 a 2012, a capacidade instalada aumentou 70 vezes e foi a que mais cresceu dentre todas as fontes de energia. Não obstante o forte crescimento, a capacidade instalada brasileira representa apenas 0,6% da capacidade mundial.
Steve Sawyer, diretor do Global Wind Energy Council, afirmou em entrevista ao site da European Wind Energy Association (http://www.ewea.org/blog/2013/07/wind-energy-in-brazil-the-country-of-the-future/), que o Brasil está lutando para encontrar o equilíbrio certo entre a regulação de um monopólio natural, como o setor de energia e aproveitar as forças do mercado para o benefício de produtores e consumidores. “Não é um ponto de equilíbrio fácil de achar. No entanto, tenho grandes esperanças de que a política do governo vai estabilizar em médio prazo e que a indústria vai cumprir a meta do governo atual até 2020”.
A meta pode ser atingida. É o que dizem os mapas eólicos desenvolvidos pelo Centro Brasileiro de Energia Eólica, que de acordo o governo brasileiro, apontam que a incidência dos ventos no País apresentam boas características para a geração elétrica, com velocidade, baixa turbulência e uniformidade, o que possibilita fatores de capacidade de geração em alguns parques de até 50%.
No mundo, o fator de capacidade médio de geração eólica não chega a 20% (operação abaixo de 1800 horas por ano, para o total das 8.760 horas anuais), enquanto que, no Brasil, o indicador foi de 34% em 2012. O potencial brasileiro de energia eólica é estimado em um pouco mais de 140 GW, avaliado para torres de 50 metros de altura. Estima-se que o potencial possa mais que dobrar se forem consideradas torres de mais de 100 m de altura.
O crescimento do setor e a capacidade de geração de energia eólica foram temas centrais do 3º Brazil Wind Power, maior evento da área de energia eólica da América Latina, que reuniu autoridades, empresários e entidades de classe, nos dias 29, 30 e 31 de agosto, no Centro de Convenções Sulamérica, no Rio de Janeiro. A cerimônia de abertura contou com um talk show com a participação do Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; do governador do Estado da Bahia, Jacques Wagner; do presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim; do diretor do Greenpeace, Marcelo Furtado.
O evento foi promovido pela ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), do GWEC (Conselho Mundial de Energia Eólica, com sede em Bruxelas) e do Grupo CanalEnergia. Está inserido na agenda anual de eventos de energia eólica e tem o apoio da AWEA (Associação Americana), EWEA (Associação Europeia), dentre outros.
Para o diretor-executivo do Grupo CanalEnergia, Rodrigo Ferreira, o Brazil Windpower traduz o crescimento da energia eólica no Brasil. “A cada ano o evento aumenta consideravelmente e hoje é o maior evento da eólica no hemisfério Sul”.
Investimentos e leilões
A energia eólica vive agora nova etapa de competitividade no País, com previsão de investimento de mais de R$ 40 bilhões até 2020. Essa nova fase, iniciada em 2009, totaliza a contratação de 6,7 gigawatts (GW) de potência, ao preço de R$ 100 por megawatt-hora (MWh).
Os primeiros investimentos foram feitos em 2004, com subsídios do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), com o objetivo de trazer novas tecnologias e formas renováveis de produção de energia, entre elas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), biomassa e eólica.
O Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante a abertura do 3º WindPower disse que a energia eólica é a fonte de geração que mais cresce no Brasil. “A expectativa, de fato, é a de contratar, pelo menos, 2 mil MW por ano até 2020, acrescentando, desde 2012, mais 20 mil MW de energia eólica ao sistema, o que mobiliza recursos superiores a US$ 50 bilhões”, declarou Lobão.
De fato, os 2 GW de contratação por ano é um pleito contínuo da ABEEólica. Nesse ano, no leilão de Reserva, que aconteceu em agosto, já foram contratados 1,5 GW, e a fonte ainda participará dos leilões A-3 e A-5, fazendo com que a expectativa de ultrapassar a marca dos 2 GW fique mais próxima da realidade. “O resultado desse leilão comprova que o modelo adotado para a expansão do sistema elétrico continua atrativo para os investidores”, comentou o ministro.
Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o número total de energia contratada foi promissor. “O leilão foi muito satisfatório e a
tingiu o nosso objetivo que era adquirir um montante significativo de energia a valores mais competitivos”, comemorou.
O executivo também discorreu acerca da possibilidade do País se tornar competitivo no setor de energia nuclear. “O Brasil ainda aparece como uma atração considerável com relação à energia nuclear. É uma das poucas nações que mantém todos os elementos naturais necessários para a produção desse tipo de energia. Além das usinas presentes no Rio de Janeiro, outra está sendo construída e a previsão é que passe a ser operada em 2018”, comunica Tolmasquim, que foi o principal assessor de Dilma, quando ela era ministra da Energia no início de 2000.
Ele também comentou que o momento agora é da energia eólica, mas que a solar se tornará uma realidade. “Atualmente a energia eólica é mais barata que a solar, mas os avanços tecnológicos podem mudar essa realidade. É uma questão de tempo”, preconiza.
A Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), apostando no crescimento do setor no País lançou o Certificado de Energia Renovável para usinas de vento, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e centrais a biomassa.
As entidades parceiras também criaram non Selo de Energia Renovável para usuários livres que utilizem projetos certificados.
Segundo Elbia Melo, presidente executiva da entidade, o público-alvo, por enquanto, serão os grandes consumidores de energia. “Todavia, as associações já estão pensando em como obter o selo também para os consumidores do mercado regulado”, afirma.
De acordo com Elbia, o objetivo é fazer com que as fontes renováveis quebrem barreiras que insistem em impedir a expansão do mercado livre, composto por grandes consumidores de energia. “O mercado potencial estimado para a inserção dessas fontes no ambiente livre de contratação é estimado em 22GW. Todavia, em se tratando de energia eólica, como a curva de geração das plantas difere da curva de carga dos consumidores, são enormes as dificuldades para o desenvolvimento dos projetos desse setor”, completa.
O potencial eólico no País soma 300 GW e está concentrado, basicamente, no Nordeste e no Sul, com destaque para os estados da Bahia, do Rio Grande do Norte, Ceará e Rio Grande do Sul. O número foi revisto este ano, com base na nova tecnologia implantada. O primeiro levantamento, realizado em 2001, identificou potencial para geração eólica da ordem de 143 GW.
Em junho deste ano, a indústria eólica completou 2 GW de capacidade instalada para gerar energia, distribuídos por 71 parques. Até o fim de 2016, a meta é inserir no sistema elétrico nacional 8,4 GW de potência eólica, o que significará 5,4% de participação na matriz elétrica brasileira, contra os atuais 1,5%. “Vai crescendo ao longo dos anos e deve chegar, em 2020, a um patamar de 15% de participação da fonte eólica, se nós mantivermos esse ritmo de contratação. A previsão é vender em leilões cerca de 2 GW por ano. O cenário do setor é bastante favorável em termos de perspectivas futuras porque, além de inserir essa fonte na matriz, nós trouxemos a cadeia produtiva e de suprimentos, como um todo”, afirma a presidenta executiva da ABEEólica.
Como se trata de uma fonte intensiva em capital e tecnologia, o número de fabricantes de equipamentos no País passou de dois, em 2008, para 11, no ano passado.
Para Elbia Melo, o País já realizou quatro leilões subsequentes e com um importante nível de contratação da fonte eólica para o mercado regulado. “Esse é um indício de que essa indústria está em franco crescimento. Consequentemente passará a atrair mais investimentos, tornando o mercado mais otimista”.
A presidente executiva lembra ainda que 2013 é um ano decisivo para o setor. “Nesse ano é que serão definidos os players fabricantes de equipamentos que se manterão no País, bem como as bases que serão estabelecidas para tornar a indústria forte”.
Energias alternativas e renováveis – zero impacto ambiental e potencial crescente
Apesar de ser considerada uma fonte de energia limpa e renovável, a geração de eletricidade hidrelétrica ainda enfrenta muitas críticas, relacionadas a impactos socioambientais. Muitos críticos apontam que a solução para a crescente demanda está no investimento em energias alternativas, como a eólica e a solar, que renováveis, não necessitam de devastação de grandes áreas. Contudo, a dúvida que surge é se essas fontes são o suficiente para abastecer o País.
É importante ressaltar que quando se fala em fontes limpas de energia, não se trata apenas da energia solar ou eólica. Elas são parte das fontes limpas, que incluem também a hidrelétrica, nuclear e de biomassa.
Apesar de produzir dejetos radioativos, a nuclear (que não é renovável) não emite gás carbônico (CO2) na atmosfera. As usinas de biomassa (que queimam bagaço de cana, por exemplo) também são consideradas limpas uma vez que emitem na atmosfera o CO2, que já havia sido absorvido pelas plantas.
De acordo com o site na Agência Nacional de Energia (Aneel) o Brasil mantém atualmente 96 usinas eólicas em operação, com uma potência total de 2.109.341,10 kW. Números esses que conflitam com o site da ABEEólica, que divulga com destaque que o Brasil tem 119 usinas instaladas no Brasil, com capacidade instalada (MW) de 2.788, produzindo dessa forma uma redução de 2.397.350 de CO2 (T/ano). De qualquer forma a visão dos especialistas é bem otimista com relação a evolução da energia eólica no País.
Bahia se destaca no setor eólico brasileiro
A Bahia ganhou importância na geração de energia eólica nos últimos anos. No 5º leilão de energia de reserva, realizado no último dia 23 de agosto pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, dos 66 projetos contratados com potência de 1.505 MW, 28 estão na Bahia, com potencial contratado de 567,8 MW, o que equivale a mais de R$ 2 bilhões em investimentos. Em leilões, a Bahia já tem contratado 2,2 GW, e projeções de investimento da ordem de R$ 10 bilhões no setor até 2017.
Foi com essa apresentação que o governador do estado, Jaques Wagner recebeu, no evento Brazil Windpower, a homenagem “Embaixador do Vento”. Segundo os organizadores da cerimônia, o chefe do Executivo baiano tem defendido o setor nacionalmente e busca aumen
tar a competitividade e discutir com o Ministério das Minas e Energia e junto à presidente Dilma Rousseff gestões para ampliar cada vez mais o segmento, o que o credenciou a receber essa honraria.