Edição 109 – Fevereiro de 2015
Por Juliana Iwashita
Diariamente, somos informados sobre os níveis das represas e sobre o provável racionamento de água, porém, relativamente pouco se fala sobre possíveis racionamentos de energia. Será que já não era hora de o governo começar a agir e não apenas aumentar as tarifas? Segundo a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE), a produção de energia acumulada no mês até o dia 17 de fevereiro desse ano foi 12,8% inferior ao acumulado no mesmo período do ano passado. Reflexo do problema hídrico, isso impacta diretamente nas contas de energia, uma vez que as termoelétricas estão sendo utilizadas a todo vapor para tentar contrabalancear a redução da geração hídrica.
A partir de março, aumentos da ordem de 50% são esperados nas contas de energia das indústrias no Estado de São Paulo e isso, com certeza, impactará toda a cadeia produtiva e a nós consumidores. Mas então por que não começar a promover ações mitigadoras para antecipar os problemas? Seria uma decisão tão difícil assim para o governo? Agir efetivamente sobre a conservação de energia poderá gerar impactos ainda mais negativos na economia brasileira?
Observa-se que o consumo de energia per capita no Brasil continua a crescer enquanto nos Estados Unidos observamos uma redução. E isto por quê? Porque promovem ações de conservação de energia e políticas rígidas de incentivo ao uso de equipamentos e construções eficientes. Este é o caminho. Não cortar 20% do consumo indiscriminadamente como tivemos de fazer no apagão de 2001.
Creio que já é tempo de tomarmos consciência e agir proativamente. A iluminação representa aproximadamente 20% de todo o consumo de energia, portanto, tem um grande papel nesse cenário e hoje dispomos de tecnologias muito mais eficientes que podem reduzir significativamente o consumo. A tecnologia Led está disponível e cada vez mais acessível, assim como diversos sistemas de controle da iluminação.
Medidas governamentais mais eficazes, porém, necessitam ser implantadas de forma consistente. A seguir são elencadas dez medidas sugeridas pela Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (Abilux) ao governo, que impactariam positivamente o cenário energético, rumo à conservação de energia:
- Troca dos cinco milhões de pontos de iluminação pública existentes com lâmpadas a vapor de mercúrio (50 lúmens por watt) por luminárias modernas com Leds (>100 lúmens por watt) com controles inteligentes;
- Mudança no programa de subsídios ou gratuidade na substituição de lâmpadas incandescentes (14 lúmens por watt) com a entrega de lâmpadas fluorescentes compactas (50/60 lúmens por watt) por lâmpadas Led (80/100 lúmens por watt);
- Entrega de casas do programa Minha Casa Minha Vida e programas similares já com o ponto de luz com luminárias e lâmpadas eficientes e de longa vida instalado;
- Tornar o Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações compulsório para edifícios a serem construídos e em reforma;
- Tornar obrigatória para governos a compra de produtos com o selo Procel ou a etiqueta do Inmetro “A” que garantem um mínimo de eficiência, desempenho e segurança;
- Estabelecer prazo de quatro anos para que todos os edifícios federais estaduais e municipais façam uma auditoria energética e modernizem seus equipamentos de iluminação;
- Tornar obsoletas até 2020 as lâmpadas a vapor de mercúrio, de luz mista e de indução magnética e, desde já, aumentar a alíquota de impostos destes modelos;
- Tornar obsoletos os reatores magnéticos para lâmpadas fluorescentes, pois os eletrônicos economizam cerca de 70% de energia;
- Criação de linhas de financiamento a produtos e projetos de iluminação eficiente para as cidades para iluminação pública, prédios públicos e edificações em geral;
- Reduzir a carga tributária em todos os níveis de produtos que utilizem Leds como lâmpada, módulos e luminárias, assim como drivers e controles para Leds.
Será que caminharemos nesse sentido? Ou estarão esperando as águas das represas acabarem para termos de apagar as luzes também?