Estaríamos vivendo um transiente?

De acordo com a IEEE1159, os transientes são definidos, em uma tradução direta e coloquial, como: ”a parte da mudança de uma variável que desaparece durante a transição de um regime permanente para outro”. A imagem a seguir ilustra o conceito.

 

Transiente de tensão com duração aproximada de 2 a 3 ciclos.

 

Teriam estes seis meses que estamos vivendo alguma semelhança a este fenômeno eletromagnético tão familiar àqueles que operam e que sofrem com os sistemas elétricos de potência? Seria mais uma simples ocorrência na presença humana na terra? E de causas naturais?

Vivíamos no Brasil até o carnaval um regime permanente com uma distorção harmônica de tensão tolerável – se bem que já se podia observar algum desequilíbrio entre as “três fases”, mas com limites de operação aceitáveis e tudo indicava que a potência aparente seria mantida, mesmo com fator de potência não muito bom, afinal capacitores já haviam queimado por conta de ressonâncias nas subestações do Planalto. As informações das redes elétricas não interligadas ao nosso sistema se mostravam instáveis dando mostras de colapso e perda de estabilidade, mas como de costume, deixamos o carnaval passar sem preocupação de blindagens contra os campos eletromagnéticos que poderiam interferir no nosso regime permanente. Eles chegaram, como esperavam os técnicos mais céticos, e começaram a distorcer a nossa forma de onda de forma implacável. Fomos obrigados a acionar a rejeição de carga para manter o sistema parcialmente vivo. A falta de sincronismo das três fases e atuação inadequada dos antigos governores dos geradores levou o sistema à operação em regime de contingência.

As equipes de heróis da operação e manutenção das plantas, por mais preparadas que fossem, não foram capazes de segurar o distúrbio que já era sentido por todo o sistema interligado. Não haviam sido instalados para-raios, DPS, blindagens, aterramentos, fontes redundantes, nem relés nem fusíveis e nem EPIs as equipes possuíam. Muitos equipamentos poderiam operar na solução parcial de alguns problemas, mas estavam parados por falta de peças de reposição, aguardando a licitação pelo DCU: “departamento das compras unificadas”. Enquanto isso, as três fases perdiam totalmente o sincronismo e como que, em uma disputa para o adiantamento de seus ângulos de fase, perderam também a coordenação do isolamento e o curto-circuito da primeira fase com as outras duas foi inevitável. Não houve coordenação na proteção e a atuação dos relés foi intempestiva e aleatória. Mesmo em regime desequilibrado, as componentes não foram simétricas e bilhões de Reais foram para o lixo sem o “DCU” se dar conta, e outros tantos serão necessários para investimentos em novas fontes. Talvez alguém invente alguma geração distribuída para retomar um regime permanente adequado e equilibrado. O mais lamentável desta história toda foi a queima dos transformadores que, apesar de velhos, não eram obsoletos e ainda tinham muita energia para transformar. Tudo por falta de sincronismo das três fases. Que falta!

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