Haverá espaço para projetos de eficiência energética após a pandemia?

Enquanto o consumo de energia tem previsão de queda de até 12% em 2020 no Brasil, comparado com uma projeção de aumento de 5% de antes da pandemia (apesar de cada pais apresentar seus próprios indicadores, notaram-se de uma forma geral uma redução do consumo previsto), não era de se esperar que os projetos de eficiência energética tivessem interesse de investimento nesta época de aparente sobra de energia. Note que os indicadores dos nossos reservatórios aqui no Brasil também não são ruins e as energias renováveis seguem seus caminhos de crescimento. Há de se considerar a clara diferença conceitual entre eficiência energética e geração de energia renovável. Enquanto o primeiro conceito trata do necessário aumento do desempenho energético de qualquer atividade, o segundo considera a mudança da fonte da energia entregue para esta atividade, sendo os conceitos, portanto, absolutamente complementares, e naturalmente quanto melhor for a redução da energia consumida no projeto de eficiência, tanto menor será o investimento na fonte renovável.

Apesar do cenário acima exposto, a consultoria McKinsey em estudo recentemente publicado chama a atenção para a necessária consideração do tema da eficiência energética e oportunidades associadas. O relatório da consultoria considera o desafio e oportunidades para a reconstrução de uma economia abalada pela pandemia, porém, com as premissas de uma economia de baixo carbono. Almejada por muitos, praticada por poucos.

A questão inicialmente tratada considera o previsível paralelo da crise econômica de 2007/2008 com a atual crise da Covid-19 e a similaridade prevista quando da retomada da economia. Assim como na crise passada, estamos também experimentando uma redução das emissões de carbono e o que se espera neste ponto é evitar o incremento destas emissões que ocorreram em 2009, ou seja, estamos diante de um interessante desafio em descarbonizar a retomada da economia garantido os acordos de Paris de 2015 com os limites para aumento do aquecimento global entre 1,50 C e 2,00 C. Este parece ser o ponto chave: voltar aos níveis de produção anteriores, porém, com menor energia consumida. Uma grande oportunidade!

O atendimento a estas premissas de redução das emissões traria também interessantes benefícios às economias dos países com geração de investimentos e principalmente empregos. Mesmo considerando que nossa energia gerada no Brasil possui forte componente das renováveis como as hidráulicas, eólicas e outras, é importante considerar o cenário dos países europeus que, se viessem a investir valores da ordem de 75 a 150 bilhões de Euros em projetos de descarbonização de uma forma geral,  trariam resultados da ordem de 180 a 350 bilhões de Euros com geração de até três milhões de novos empregos, possibilitando redução de emissões de 15% a 30% até 2030. Ainda, o investimento em eficiência energética e energias renováveis em relação às fosseis incorre em maior geração de empregos na relação aproximada de 3:1.

Especificamente na implantação de projetos de eficiência energética em indústrias, o estudo aponta que investimentos da ordem de 1 a 5 bilhões de Euros incorrerão na criação de 15 mil a 100 mil empregos, com retorno entre 2 e 11 bilhões de Euros. As cifras parecem altas, mas deve-se considerar o recente acordo econômico de investimento para a era “pós-pandemia” firmado pelos membros da União Europeia no final de julho com valores superiores a 1 trilhão de Euros e ainda citando nominalmente os aspectos de energia limpa como um dos pontos a serem beneficiados e contemplados pelos investimentos.

São ainda apresentados no estudo da McKinsey bons benefícios em projetos de retrofit em residências na busca por eficiência energética, implementação de projetos de automação em prédios tornando-os “inteligentes”, aumento da robustez de redes elétricas de distribuição, sistemas de armazenamento de energia (storage), projetos de energias renováveis, retrofit de iluminação pública, veículos elétricos, e redes elétricas associadas, transportes coletivos rápidos, fabricação de veículos elétricos e infraestruturas associadas. 

Há de se considerar nesta necessária descarbonização outras oportunidades associadas a estes aspectos de redução das emissões nas áreas da pecuária, nas queimadas criminosas, na moralização do transporte público indecente, nas cidades mal planejadas, mal ocupadas e mal geridas e outros tantos. Temos um mar de oportunidades de investimentos em nosso país, que se mostra carente de políticas públicas coerentes e adequadas. Quem sabe aqueles que elegemos (e também aqueles por estes indicados) não possam também serem descarbonizados, entendendo que devem se unir pelo bem de todos. Estamos fartos de corrupção, incompetência e desmandos dos poderes. Ainda temos tempo para acertos, basta boa vontade e tolerância. Não há como perdermos mais esta oportunidade; claro que os europeus se interessam por bons projetos por aqui além daqueles da Amazônia que possuem muito apreço.

Por enquanto torcemos para que se considere um modelo econômico que atenda de verdade as oportunidades para os créditos de carbonos e a quebra do paradigma da eficiência energética que continua sendo um tema conjuntural e não estrutural no Brasil, apesar de bons esforços de parte da sociedade e alguns órgãos e agências públicas.

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