Infraestrutura elétrica desafia expansão do mercado de data centers

Por: Matheus de Paula

Grandes empresas do segmento apontam fatores como fornecimento de energia renovável, barata e de qualidade, como determinantes para a implantação de novas plantas

Reunindo atributos como localização estratégica, abundância de fontes de energia renováveis, vasta disponibilidade territorial, alta demanda de serviços de computação em nuvem, armazenamento de dados e processamento de informações, o Brasil vem atraindo cada vez mais empresas de data centers para o seu território. Dados do Ministério de Minas e Energia indicam que o segmento registrou um crescimento atípico de fornecimento de energia para projetos de Data Center. Os pedidos para este segmento indicam uma demanda máxima que pode chegar a 9 GW até 2035, considerando 22 projetos registrados nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.

Abrigando milhares de servidores funcionando 24 horas por dia, exigindo não apenas eletricidade para processamento de dados, mas também para refrigeração e manutenção da infraestrutura, esse desenvolvimento acelerado, no entanto, impõe desafios à infraestrutura elétrica. Estima-se que os data centers sejam responsáveis ​​por cerca de 1% a 2% do consumo global de eletricidade, e essa demanda tende a crescer com o aumento da computação em nuvem e da inteligência artificial.

Concentrando a maior parte dos investimentos do setor, o estado de São Paulo vem buscando alternativas para possibilitar a conexão dessas novas cargas ao sistema, de forma segura e sustentável. Parceira neste desafio, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) vem realizando, desde 2023, estudos para identificar as alternativas mais viáveis para a ampliação das redes de transmissão de energia elétrica no estado.

Um desses estudos, finalizados em fevereiro de 2024,  indicou soluções para aumentar a confiabilidade do sistema de transmissão na região metropolitana de São Paulo, considerando o aumento projetado da demanda dos data centers, estimado em cerca de 500 MW. Já em dezembro de 2024, outra análise recomendou um conjunto de reforços na rede elétrica das regiões de Campinas, Jundiaí e Bom Jardim, liberando uma margem adicional de 1.000 MW para novos projetos.

De olho na expansão do mercado, a Elea Data Centers planeja investimentos descentralizados, fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo. No entanto, essa ampliação de atuação enfrenta desafios significativos, que vão desde a disponibilidade de infraestrutura adequada até a garantia de uma matriz energética confiável e sustentável.

“A expansão dos data centers no Brasil tem seguido uma lógica estratégica, partindo dos grandes hubs, como São Paulo, e se expandindo para outras regiões. Hoje, já temos forte presença em cidades como Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília. A crescente demanda por inteligência artificial e a tecnologia de nuvem tende a acelerar essa desconcentração de pólos de data centers, pois a fase de treinamento dos modelos de machine learning não exige proximidade com o usuário final (estar perto de São Paulo),  mas sim acesso a energia estável e de baixo custo”, explica o diretor de investimentos da Piemonte Holding, companhia de investimentos especializada em infraestrutura digital e fundadora da Elea Data Centers,Victor Almeida. 

O diretor explica que o fornecimento de energia barata e de qualidade, é hoje um dos principais fatores considerados para a instalação de uma planta de data centers. “Com o avanço da inteligência artificial, essa descentralização tende a se intensificar, pois a fase de treinamento dos modelos de machine learning não exige proximidade com o usuário final, mas sim acesso a energia estável e de baixo custo. Isso abre novas possibilidades para investimentos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No entanto, a escolha da localidade para novos data centers precisa considerar três fatores essenciais: terrenos adequados, fornecimento de energia confiável e infraestrutura de conectividade robusta”, analisa Almeida. 

Regulação

Além dos desafios impostos à infraestrutura elétrica, de acordo com Luis Tossi, vice-presidente da ABDC (Associação Brasileira de Data Centers), o crescimento acelerado do segmento de data centers também exige a adoção, em curto prazo, de medidas regulatórias, assim como evidencia a necessidade de maior oferta de mão de obra qualificada, capaz de acompanhar o crescimento do setor.

“Ainda não há uma regulação específica para o mercado de data centers, o setor opera, sobretudo, com base em normas genéricas e boas práticas, alinhadas às exigências do cliente final – especialmente as big techs. Além disso, as regulamentações de segurança e ambientais, comuns a diversas indústrias, também se aplicam ao nosso segmento. Temos alguns outros desafios significativos, e um dos principais é a escassez de mão de obra qualificada. O mercado, de modo geral, enfrenta essa dificuldade. Não é que não existam profissionais, mas a demanda cresce em um ritmo mais acelerado do que a oferta. Por isso, um dos papéis da associação é justamente contribuir para a formação de novos especialistas”, afirma o vice-presidente.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) também acompanha de perto esse crescimento. Em 2024, com o lançamento do Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo do SIN (PAR/PEL), que tem como objetivo compreender o desempenho elétrico do Sistema Interligado Nacional (SIN), em uma perspectiva de segurança, qualidade e custo para os próximos 5 anos, a entidade destacou a crescente demanda de data centers no Brasil. 

“No PAR/PEL 2024, o ONS destaca que um possível crescimento do setor de data centers, demanda discussões sobre diferentes aspectos do setor elétrico brasileiro, como questões regulatórias, requisitos de conexão, modelagem dos estudos sobre o setor, avaliar o impacto do segmento de datas centers no planejamento e a necessidade de mais flexibilidade na operação do SIN”, explica o ONS. 

Investimentos e novos projetos

Lançado em janeiro de 2025, a Equinix construiu seu terceiro data center no Rio de Janeiro, o RJ3, com o investimento de US$ 94 milhões (cerca de R$ 500 milhões). O novo empreendimento está localizado em São João de Meriti, na região metropolitana do Rio, a cerca de 30 quilômetros de Botafogo.

Victor Arnaud, Presidente da Equinix no Brasil, destaca a importância deste projeto. “O Rio de Janeiro é um mercado estratégico para a Equinix, pois é um dos principais pontos de interconexão do Brasil, especialmente devido à sua proximidade com cabos submarinos internacionais que conectam a América Latina a outros continentes. O investimento de US$ 94 milhões no nosso terceiro data center na cidade reflete nosso compromisso em fortalecer a infraestrutura digital do país e atender à crescente demanda por interconectividade, baixa latência e processamento de dados”.

Além do investimento tecnológico, segundo o presidente, o RJ3 foi projetado para operar com padrões de eficiência energética e sustentabilidade, alinhado ao compromisso global da Equinix com energia 100% renovável. “O RJ3 conta com os mais altos padrões de eficiência energética e sustentabilidade, alinhados ao compromisso global da Equinix com energia 100% renovável. Com esse investimento, reforçamos o papel do Rio de Janeiro como um polo digital estratégico para empresas que buscam expandir sua presença na região, aproveitando a interconexão com outros mercados globais e garantindo maior resiliência e performance para suas operações”, esclarece Arnaud.

Em 2024, a Equinix teve uma receita de US$ 8,7 bilhões | Foto: Equinix

Em julho do mesmo ano, foi a vez da Elea Data Centers expandir sua atuação. A empresa anunciou a aquisição de dois data centers na Grande São Paulo, localizados em São Bernardo do Campo (SPO2) e Barueri (SPO3). Esses dois empreendimentos permitirá à entidade acrescentar mais de 100MW de capacidade de energia ao seu portfólio.

De acordo com Victor Almeida, diretor de Investimentos da Piemonte Holding, a escolha desses locais foi em virtudes estratégicas. “São Bernardo foi escolhido por sua ampla disponibilidade de energia e infraestrutura estável, é um local ideal para um data center de alta qualidade e de alta capacidade energética, especialmente para aplicações de Inteligência Artificial (IA). Já Alphaville se destaca como o maior hub de data centers da América Latina, oferecendo conectividade estratégica e baixa latência para empresas que necessitam de alto desempenho”, afirma.

A empresa também firmou uma parceria com a Enel para garantir 50 MW de energia em Alphaville para o próximo ano, com planos de expansão a médio e longo prazo. A previsão de conclusão dos investimentos em Alphaville é para 2026, enquanto os projetos em São Bernardo devem ser finalizados entre 2027 e 2028.

Data center SPO1, localizado na cidade de São Paulo – Foto: Elea Data Centers

Sustentabilidade e energias renováveis 

Com cada vez mais presença na infraestrutura digital, as empresas de data centers têm um papel importante na busca por operações mais sustentáveis. Alinhadas às práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), companhias como a Elea Data Centers e a Equinix vêm adotando compromissos ambientais, sociais e de governança para reduzir seu impacto no meio ambiente e promover a diversidade e inclusão

“A Elea Data Centers foi pioneira no setor de data centers no Brasil ao adotar energia 100% renovável em toda a sua operação, utilizando fontes eólicas e solares certificadas. A empresa também garante que 40% dos cargos de liderança sejam ocupados por mulheres ou minorias. Para reforçar seu compromisso com a redução da pegada de carbono, a ELEA é signatária do I-Masons Climate Accord (Coalizão de empresas que visa reduzir as emissões de carbono na infraestrutura digital. O acordo foi lançado em 2022)”, conclui  Victor Almeida, diretor de investimentos da Piemonte Holding.

Seguindo na mesma direção, a Equinix pretende zerar suas emissões de carbono até 2030, com o compromisso de utilizar energia renovável em todas as suas plantas. “A Equinix tem metas ambiciosas para zerar suas emissões líquidas de carbono até 2030, alinhadas à metodologia Science-Based Targets (SBTi). Para isso, investimos globalmente em energia renovável – atualmente, quase a totalidade da eletricidade consumida em nossos data centers já vem de fontes limpas. No Brasil e no mundo, utilizamos fontes de energia renováveis, como solar e eólica. Nossos data centers são projetados para maximizar a eficiência energética, com iniciativas que vão desde a utilização de resfriamento avançado até a otimização do consumo de eletricidade”, completa Victor Arnaud, Presidente da Equinix no Brasil.

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