No mundo atual ditado pelas novas tecnologias, inovar tornou-se regra para empresas e indústrias atenderem as demandas do mercado. As transformações em produtos, serviços e sistemas têm ocorrido em espaços de tempo cada vez mais curtos e abrangem setores diversos da economia que vão de eletroeletrônicos a automobilístico, passando por agronegócio e indústria química. Entretanto, existem áreas nas quais a adoção de inovações tecnológicas tem ocorrido de uma forma mais lenta e gradual; entre elas está o setor elétrico, cuja grande parte dos equipamentos e sistemas utilizados datam de décadas passadas.
O conservadorismo na área tem suas explicações. Por ser base para o funcionamento de qualquer indústria ou cidade, esse é um setor altamente regulado que preza por soluções já consolidadas, muito devido ao receio de falhas ocorrerem em um novo sistema, o que poderia acarretar em prejuízos como possíveis interrupções no fornecimento de energia. Justamente por conta desse conceito mais tradicionalista, a atuação de startups e pequenas empresas frente aos grandes conglomerados do setor é vista com mais cautela por não terem ainda uma atividade consolidada no mercado a ponto de confiar a implementação de uma nova solução.
Portanto, de modo geral, pode-se inferir que as empresas do setor de energia priorizam parcerias com as grandes companhias cuja atuação já está consolidada no mercado, oferecendo assim mais segurança às suas iniciativas de inovação. Um passo importante rumo ao fomento da inovação no setor elétrico foi dado com a inauguração do MindSphere Application Center (MAC), em junho passado. Localizado dentro da unidade da Siemens em Jundiaí (SP), o espaço foi projetado para estimular a colaboração ativa, o pensamento inovador e a troca aberta de ideias em um ambiente criativo com startups e clientes. O espaço pertence a uma rede global que conecta especialistas para explorar projetos e co-criar soluções digitais inovadoras, estimulando a utilização de dados para incrementar os negócios no mercado.
O MAC tem ampliado a análise e utilização dos dados que são gerados a todo momento em volume gigantesco no setor elétrico. Atualmente, essas informações são utilizadas, em grande parte, para operação em tempo real. Com o uso massivo de dados históricos, pode-se ter uma visão prospectiva para gerar insights e antever o que pode vir a ocorrer em um sistema que é complexo e de extrema importância para os negócios de uma empresa e a economia do país. Ao explorar esses dados, o novo espaço tem o objetivo de ser um vetor de propagação de inovações dentro do setor, ao estimular a co-criação para a entrega de soluções como softwares, apps e serviços de consultoria para atender as necessidades do mercado. Para maximizar o valor gerado pelos dados, conceitos que já são amplamente utilizados em outros segmentos como Inteligência Artificial, computação em nuvem e análise de dados com uso de Big Data devem se tornar prática comum no setor nos próximos anos.
Apesar do conservadorismo existente, as projeções são mais do que otimistas para que ocorra uma quebra de paradigma com relação a esse modus operandi do setor. Chancelada por sua atuação centenária e expertise no desenvolvimento de projetos para o segmento, a Siemens lidera em conjunto com várias outras empresas um movimento de transformação dessa área, abrindo portas para que startups e projetos inovadores possam ter uma maior presença nesse mercado. Demandas recorrentes do setor, tais como soluções de segurança cibernética, suporte à operação via realidade aumentada e plataformas abertas de IoT para desenvolvimento são atividades já plenamente endereçadas pela multinacional e sua rede de parceiros.
Inovações incrementais e melhorias marginais acompanham o setor elétrico desde sua concepção. Com inovações como o MAC, a proposta é ir muito além: trazer um mindset disruptivo e alterar o modus operandi das concessionárias de energia, permitindo que soluções digitais sejam incorporadas no dia-a-dia do setor, e abrindo mais espaço no mercado para a atuação de startups, universidades e grandes corporações em projetos colaborativos. O setor precisa de mudanças estruturais. E os primeiros passos para quebrar esse paradigma já foram dados.
Alejandro Federico Meyer – Gerente Executivo de Redes Inteligentes da Siemens no Brasil.