A integração da Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) tem revolucionado o setor elétrico, proporcionando soluções inovadoras que aumentam a eficiência, a segurança e a sustentabilidade dos sistemas energéticos. No Brasil, exemplo mundial em matriz energética limpa, a aplicação dessas tecnologias impulsiona avanços em áreas como monitoramento de recursos naturais, operações automatizadas, previsibilidade de geração centralizada e descentralizada de energia, considerando variáveis climáticas, além de diversas aplicações voltadas à eficiência operacional do setor.
Ou seja, as aplicações são diversas e seguem em velocidade semelhante aos níveis de digitalização do setor. No âmbito de eficiência energética, estudos demonstram uma economia de até 20% no consumo de energia de edifícios e centros comerciais aplicando IA e IoT por meio de algoritmos de aprendizado de máquina correlacionando dados como a temperatura interna e externa de ambientes, quantidade de pessoas por ambiente, equipamentos conectados (rede elétrica) e por fim, atuando no ajuste fino da climatização e iluminação destes centros de trabalho. O payback de alguns destes projetos é de menos de um ano. E o curioso é que as grandes integradoras destas soluções são, na maioria das vezes, startups que recebem pelo “custo evitado” somado a uma pequena parcela, a título de assinatura do serviço.
Agora, vamos pensar numa operação mais complexa, como a de uma subestação de energia. Neste caso, nem a automação tão pouco os sistemas de monitoramento são novidade. Mas, a IA tem revolucionado a maneira de “ver” os ativos e assim despachá-los visando a sua melhor performance com a menor depreciação, em tempo real. Isto para todo o parque de equipamentos de forma simultânea. Em termos de gestão de ativos (ISO 55.000) falamos de uma precisão nunca imaginada, sabendo que o custo de manutenção de equipamentos, antes de um colapso severo, é muito menor, assim como o tempo de restabelecimento do mesmo no sistema.
Nesta linha, outras soluções baseadas em IA e IoT também vêm ganhando espaço neste mercado, pensando no despacho e operação ótima de sistemas. Por exemplo, o Lacbot, desenvolvido pelo Lactec, exemplifica como a automação baseada em IA está transformando a operação e manutenção de subestações de redes de extra alta tensão. Esse robô realiza inspeções de forma autônoma ou teleoperada, capturando dados e identificando situações anormais que demandam intervenção. Equipado com sensores avançados, o Lacbot, melhora a segurança dos profissionais, minimiza riscos e aumenta a eficiência das operações, a partir do cruzamento de dados históricos e atuais dos ativos sob monitoramento. O projeto foi realizado no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) PD 08106-0002-2017, financiado, em cooperação, pelas empresas Matrinchã e Guaraciaba Transmissora de Energia – controladas pela State Grid Brazil e Copel – e pela Paranaíba Transmissora de Energia e Luziânia-Niquelândia Transmissora de Energia, nas quais Furnas também integra a sociedade junto das duas empresas já mencionadas.
Eventos climáticos extremos – No enfrentamento aos eventos climáticos extremos, a IA+IoT vem se mostrando uma ferramenta extremamente interessante, em especial nos grandes centros urbanos, que têm enfrentado grandes perturbações relacionadas às questões climáticas.
Nestes casos, a IA+IoT são extraordinárias para suporte à tomada de decisão dos centros de operação. Por meio destes algoritmos, é possível coletar dados meteorológicos em tempo real, acompanhar a evolução destes eventos e a partir disso, promover o deslocamento prévio de equipes de recomposição física de redes, conhecida a magnitude provável das precipitações e ventos, minimizando o impacto para todos os consumidores daquela determinada região. Se conhecida a situação da arborização desta região, a precisão sobe ainda mais e auxilia também na decisão sobre os possíveis insumos necessários para a recomposição das redes. Ou seja, quanto maior o número de variáveis e dados cruzados e processados, a precisão para a tomada de decisão fica majorada. Mas é lógico que, por melhor que seja o algoritmo, é preciso “testá-lo e treiná-lo” visando corrigir eventuais inconsistências.
Sobre o autor:
*Carlos Eduardo Ribas é engenheiro eletricista com especialização em gestão empresarial, diretor Comercial do Lactec e vice-presidente da regional Sul da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI).