Edição 77 / Junho de 2012
Por Michel Epelbaum
A energia sempre teve um papel de destaque na economia e cada vez mais percebemos a sua importância para a ecologia. Com as dimensões do aquecimento global, a gestão eficiente de energia ganha mais estímulos, estudos e ferramentas. Já mencionamos o recente programa “Energia Sustentável para Todos” das Nações Unidas, e nesta coluna falaremos das iniciativas da ISO sobre este tema.
A série de normas 50000 da ISO é uma das novas ferramentas para melhoria do desempenho energético. Ela nasceu da discussão sobre gestão da energia em alguns países, em 2005, que levou posteriormente ao envolvimento de várias partes interessadas e comunidade internacional, determinando em 2007 a necessidade de uma nova norma internacional. Em 2008 a ISO aprovou a proposta dos Estados Unidos e Brasil para conduzir esta tarefa, por meio de seu Comitê Técnico TC 242.
Depois de cinco reuniões plenárias, com a participação direta de 48 países e de mais 17 como observadores, foi publicada em junho de 2011 a primeira norma da Série 50000, a norma “ISO 50001 – Sistemas de Gestão da Energia: Requisitos com Guia para Uso”, que se baseou em diversas normas nacionais e na norma europeia EN 16001. Também em junho de 2011 foi publicada a norma brasileira, a ABNT NBR ISO 50001.
Esta norma tem como objetivos:
• Habilitar a organização a estabelecer sistemas e processos paramelhoria do desempenho energético, entendido como resultados mensuráveis relacionados à eficiência energética, uso e consumo de energia;
• Promover um uso mais eficiente das fontes de energia disponíveis;
• Conduzir a redução das emissões de gases de efeito estufa e outras emissões ambientais associadas;
• Conduzir a redução do custo da organização com energia;
A norma é aplicável a todos os tipos e tamanhos de organizações. Ela baseia-se em elementos comuns às normas ISO de sistemas de gestão, como a de qualidade (ISO 9001) e meio ambiente (ISO 14001), podendo ser integrada a outros sistemas de gestão ou implementada separadamente. A estrutura é baseada no ciclo PDCA – (P) Planejar, (D) Executar (Do), (C) Checar, (A) Atuar.
Dentre os elementos comuns aos demais sistemas de gestão, destacam-se:
– política energética;
– identificação dos requisitos legais e outros aplicáveis à gestão de energia;
– estabelecimento de objetivos, metas e programas de gestão de energia;
– documentação de controle;
– definição de responsabilidades, autoridades, recursos, competências, treinamento, conscientização e comunicação;
– estabelecimento de procedimentos de controle sobre projeto, aquisição e operação da organização;
– monitoramento e medição;
– tratamento de não-conformidades, com as respectivas correções, ação corretiva e ação preventiva;
– realização de auditorias internas do Sistema de Gestão de Energia (SGE);
– revisão do SGE pela alta administração da organização.
As principais diferenças em relação às demais normas de sistemas de gestão são:
– mesmo não estabelecendo requisitos absolutos para o desempenho energético, há uma ênfase maior na demonstração efetiva da melhoria contínua deste desempenho;
– realização de um trabalho técnico inicial, consistindo de uma revisão energética, definição de uma linha de base (referência(s) quantitativa(s) fornecendo uma base para comparação do desempenho energético) e de indicadores de desempenho energético para subsidiar o processo de melhoria contínua do desempenho;
– auditoria interna do SGE incluindo aspectos técnicos da gestão de energia e demonstração efetiva da melhoria contínua do desempenho;
– maior ênfase nas responsabilidades e competências do representante da direção (coordenador pelo SGE na organização).
A norma pode ser usada para certificação, registro ou autodeclaração. No entanto, os sistemas de certificação estão sendo estruturados nos vários países, sendo que a Holanda foi o primeiro a ter um esquema oficial. No Brasil, o órgão governamental encarregado da estruturação de critérios de certificação de sistemas de gestão, o Inmetro, está estudando a definição nacional em médio prazo. Mesmo assim, dezenas de empresas solicitaram auditorias de acordo com a norma ISO 50001, no setor elétrico/energia (como Schneider Electric, na França; BSES Kerala Power e Dahanu Power Station, na Índia), eletrônico (Delta Electronics, na China; AU Optronics, em Taiwan; e Samsung, na Coréia), automotivo ( Subaru, nos EstadosUnidos; Porsche na Alemanha) farmacêutico (Pfizer, na Irlanda), químico (Bangkok Synthetics, na Tailândia).
As empresas certificadas relataram benefícios: a Delta, na China, obteve 37% de redução de consumo de energia em relação a 2009; a Schneider Electric, na França, apontou, além da maior eficiência, também o reforço da posição de liderança em produtos e soluções em gestão de energia; na Índia, a Dahanu Power Station está projetando economia média anual de energia de R$ 3,5 milhões.
Atualmente, a estrutura e a atuação do TC 242 foram ampliadas para elaborar mais normas de gestão de energia relacionadas à ISO 50001 e outros assuntos associados. A nova estrutura do TC 242 é ilustrada na figura a seguir, e em cada um dos quatro grupos de trabalho são apresentadas as sete normas em elaboração atualmente.
WD – Working Draft (segundo estágio de normalização).
CD – Comitee Draft (terceiro estágio de normalização, dois antes da aprovação oficial).
Este Comitê Técnico 242 tem uma atuação conjunta com o TC 257, que desenvolve norma sobre economia de energia, tais como:
- ISO/IEC CD 13273 – Eficiência Energética e Fontes de Energia Renovável – Terminologia Comum Internacional
- ISO/NP 17741 – Regras Técnicas Gerais para Medição, Cálculo e Verificação das Economias de Energia em Projetos
- ISO/NP 17742 – Métodos Gerais de Cálculo de Eficiência e Economias de Energia para Países, Regiões ou Cidades
- ISO/NP 17743 – Definição de uma Estrutura Metodológica Aplicável ao Cálculo e Relato de Economias de Energia
O assunto interessa diretamente às empresas do setor elétrico, reforçando o seu negócio e trazendo benefícios econômicos, operacionais e ambientais.
E a sua empresa:
- Está buscando ferramentas para melhoria do desempenho energético?
- Está tratando a gestão de energia como um assunto estratégico, ou como um assunto técnico da área de engenharia ou manutenção?
- Já fez uma revisão energética profunda, identificando as muitas oportunidades para melhoria da gestão energética e obtenção de ganhos, como as empresas citadas nesta coluna?
- Já implementou um sistema de gestão de energia para obter estes benefícios?