Gostaria hoje de abordar um tema bastante polêmico, que é a relação entre o custo e o benefício de uma boa programação de manutenções para seus quadros e painéis elétricos, que, em verdade, fazem parte de um sistema muito mais complexo que é a instalação elétrica como um todo.
Entendo que tão importante como construir corretamente uma instalação elétrica, baseada em conceitos normativos e em boas práticas de engenharia, também é a cultura da manutenção destas instalações. É necessário então compreender que os equipamentos, em especial, os quadros elétricos e seus componentes, têm um ciclo de vida útil que depende de diversos fatores, entre os quais, destaco: agressividade do ambiente onde está instalado; eventos ao longo do ciclo de vida útil (vazamentos de água sobre componentes, fauna, flora, poluição, poeira, etc.), magnitude dos eventos elétricos ocorridos ao longo do ciclo de vida útil (sobrecargas, curto- circuitos, quantidade de manobras e etc.) e a qualidade dos materiais.
Dessa forma, é absolutamente necessário que, de tempos em tempos, sejam executadas verificações de cunho preventivo em todas as partes da instalação, seja por inspeções visuais, termográficas, reaperto geral, limpeza geral, etc.
Essa cultura não é muito disseminada em nosso país, mas é absolutamente necessário e premente incutir a importância da cultura da manutenção preventiva nos profissionais brasileiros, uma vez que é necessário que as instalações sejam entregues aos clientes e que estes as recebam com planos de manutenção e operação que sejam seguidos, ao invés de as instalações serem “abandonadas” à sua própria sorte aos clientes, e estes entenderem que a instalação é eterna e infalível.
Segundo a ABNT NBR 5410:2004 (versão corrigida 2008) em seu capítulo 8, a periodicidade das manutenções deve ser adequada a cada tipo de instalação. A periodicidade pode ser maior ou menor tanto quanto for a complexidade e a criticidade da instalação, seja pela quantidade e diversidade dos equipamentos, seja, pela importância das atividades desenvolvidas no local e a severidade das influências externas a que está sujeita. Atenção especial ao fato de que as verificações e as intervenções nas instalações elétricas devem ser executadas somente por pessoas advertidas (BA4) ou qualificadas (BA5).
A estrutura dos quadros e painéis deve ser verificada, observando-se o estado geral quanto à fixação, integridade mecânica, pintura, corrosão, fechaduras e dobradiças. Deve ser verificado o estado geral dos condutores e cordoalhas de aterramento. Componentes com partes móveis, como contatores, relés, chaves seccionadoras, disjuntores e etc., devem ser inspecionados, quando o componente permitir, o estado dos contatos e das câmaras de arco, sinais de aquecimento, limpeza, fixação, ajustes e calibrações. Se possível, o componente deve ser acionado umas tantas vezes, para se verificar suas condições de funcionamento. Componentes sem partes móveis como fusíveis, condutores, barramentos, calhas, canaletas, conectores, terminais, transformadores e etc., devem ser inspecionados em seu estado geral, verificando-se a existência de sinais de aquecimento e ressecamento, além da fixação, identificação e limpeza. Ao término das verificações deve ser efetuado um ensaio geral de funcionamento, simulando-se pelo menos as situações que poderiam resultar maior perigo. Deve ser verificado se os níveis de tensão de operação estão adequados.
Interessante aqui traçar um paralelo com a indústria 4.0. É possível coletar dados disponíveis em sensores e disjuntores da quarta geração para programar as intervenções, conforme já falamos nesta coluna na edição de maio/2019, quando prometi voltar a esse assunto. Pois bem, voltaremos especificamente a este paralelo na próxima edição. Até lá!