Meio ambiente e o setor elétrico

Edição 74 / Março de 2012
Por Michel Epelbaum 

Na coluna passada, abordamos os temas que fazem parte da sustentabilidade empresarial, usando a norma ISO 26000 como referência. Refletiremos nesta coluna sobre as quatro questões do tema “meio ambiente”, explicadas a seguir, e as consequências para o setor elétrico.

 

Emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o aquecimento do planeta

Os dados mundiais controlados pelas Nações Unidas (metas do milênio – http://mdgs.un.org e Framework Convention on Climate Change – UNFCCC – www.unfccc.int) e pelo IPCC mostram crescimento das emissões mundiais de gases causadores do aquecimento global e uma contribuição crescente da China e da Índia. Os maiores países emissores mundiais são China, Estados Unidos, Índia, Federação Russa e Japão, nesta ordem.

Estes inventários mundiais identificam o uso da energia como o mais contributivo ao aquecimento global (cerca de 80% em 2009 no caso dos Estados Unidos, União Europeia e Federação Russa).

No Brasil, a última comunicação oficial das emissões de gases de efeito estufa (2005) indicou um aumento de cerca de 60% desde 1990. No entanto, as emissões nos anos recentes mostraram reduções, principalmente nas emissões derivadas de desmatamentos e queimadas.

A distribuição das fontes de geração no país é destoante da encontrada nos países desenvolvidos, pois o uso da energia representou somente 15% do total de emissões, e 60,6% se refere ao uso da terra, mudança do uso da terra e floresta (basicamente queimadas e desmatamentos ilegais). Porém, o inventário de emissões do Estado de São Paulo de 2005 apontou que 57,2% das emissões foram derivadas do setor de energia.

Daí nota-se a importância deste tema crítico para o setor elétrico, dado o esforço global de redução de emissões.

Figura 1 – Pegada ecológica global (Referência: Planeta Vivo Relatório 2010; WWF/Sociedade Zoológica de Londres, Global Footprint Network).

 
Uso sustentável de recursos e energia

Talvez a melhor forma de expressar a evolução do uso de recursos seja a dada pelo indicador anual “Pegada ecológica” (da organização não governamental Global Footprint Network – http://www.footprintnetwork.org), medido pela área usada para neutralizar as emissões de CO2, áreas de pastagens, florestal, cultivo, estruturas humanas e na produção primária necessária para sustentar os peixes e mariscos capturados (área para produzir os recursos que um indivíduo, população ou atividade consome e para absorver os resíduos que gera).

O resultado apresentado no seu relatório de 2010 (referente ao ano de 2007) é apresentado na Figura 1 e demonstra que a demanda humana pela biosfera mais do que dobrou entre 1961 e 2007. Além disso, o relatório evidencia que precisávamos, em 2007, de cerca de 1,5 planetas para suprir as nossas necessidades, situação já insustentável, e que este número aumentará para 2 planetas em 2030.

Sobre a situação do consumo de energia, da eficiência energética e do uso de fontes alternativas, não é preciso detalhar nesta coluna, pois já vêm sendo bastante comentado nesta revista.

Prevenção da poluição

Apesar da regulação e conscientização crescente nos últimos anos, o cenário atual planetário mostra, em várias partes do mundo, uma piora significativa da qualidade ambiental, dentre os quais podemos citar:

  • Oceanos, rios, lagos e águas subterrâneas contaminados, afetando a vida aquática e o suprimento de água potável;
  • Solos contaminados por deposição de resíduos industriais e domésticos;
  • Poluição do ar e ruído crescentes nas grandes cidades, causando redução da vida dos seus habitantes e aumento do número de doenças respiratórias;
  • Número crescente de produtos químicos novos desenvolvidos, do qual boa parte sem dados confiáveis e de longo prazo sobre os impactos à saúde e ao meio ambiente. 

 

Pode-se visualizar a relação do setor elétrico com a poluição e com a missão de reduzi-la drasticamente, por meio dos exemplos a seguir:

  • Geração de lixo eletrônico perigoso ao meio ambiente no pós-uso dos produtos;
  • Geração de efluentes líquidos contendo metais pesados na manufatura de produtos elétricos;
  • Uso de substâncias perigosas nos produtos e na fabricação, objeto de regulamentações nacionais ou regionais (por exemplo: Diretiva Europeia de controle de substâncias perigosas – RoHS).


Proteção da biodiversidade

Ilustraremos a situação da proteção da biodiversidade pelo Índice Planeta Vivo, acessado por meio do Relatório Planeta Vivo 2010 (http://www.wwf.org.br), elaborado bianualmente pela respeitada Organização Não Governamental WWF, em colaboração com a Sociedade Zoológica de Londres e a Global Footprint Network. Ele acompanha a evolução de quase 8 mil populações de mais de 2.500 espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. 

 Esse índice mundial demonstra uma redução de espécies de 30% desde 1970.  O declínio é mais acentuado nas regiões tropicais, em que se verifica uma queda de 60% em menos de 40 anos. Em algumas áreas temperadas, houve uma recuperação promissora de populações de espécies, entretanto, nas áreas tropicais, houve uma queda de quase 70% nas populações aquáticas (água doce) que foram rastreadas – maior declínio já mensurado em quaisquer espécies.

 

E como o setor elétrico se relaciona a esta situação?

A conexão ocorre por meio dos impactos de partes da cadeia de valor com a biodiversidade, como:

– uso de recursos naturais na manufatura oriundos de áreas com impacto sobre a biodiversidade (por exemplo: minérios em áreas próximas a matas nativas);

– uso de energia gerada em usinas com impacto sobre a biodiversidade (p.ex.

grandes hidrelétricas);

– instalação de fábricas de produtos elétricos próxima a locais com impacto sobre a biodiversidade;

– poluição causada pelo transporte marítimo de matérias-primas e produtos acabados.

 

Energia sustentável não é fácil, mas a viabilidade desta gestão e os investimentos estão sendo crescentemente percebidos diante dos benefícios empresariais estratégicos, às pessoas e ao planeta.

 

 

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