Não bastasse a edição da medida provisória 998 que ora tramita no legislativo aguardando as negociações da pauta e as prioridades dos parlamentares que pode reduzir drasticamente os investimentos em eficiência energética transformando os recursos em “conta covid” em mais um banquete da galinha dos ovos de ouro, ouvimos boquiabertos o Sr Presidente solicitar aos cidadãos brasileiros que, em função do esvaziamento dos lagos das hidrelétricas e a natural definição pela Aneel da bandeira vermelha com aumento dos custos, reduzam seus períodos de banho e apaguem as lâmpadas antes de sair de casa.
Enquanto os interessados no tema eficiência energética alimentam novas esperanças com as premissas do Plano Decenal de Energia de 2029 – PDE 2029 e do primeiro Plano Decenal de Eficiência Energética do Brasil previsto para ser lançado agora em dezembro, os comentários sobre as formas de economizar energia soam ironicamente como uma verdadeira ducha de água fria.
Mais uma vez o tema da eficiência energética só é lembrado quando a energia literalmente falta ou fica mais cara, tornando-se sistematicamente um assunto conjuntural e nunca estrutural.
Alguns fatos ilustrados nas Figuras 1 e 2 elaboradas a partir de dados disponibilizados no site da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, em dezembro de 2020, podem auxiliar na análise.
O que se nota na análise das figuras é que:
- A classe de consumo industrial ainda possui a maior fatia de consumo de energia e possui tendência de alta conforme projeção linear na Figura 1;
- O consumo na classe residencial responde por valores da ordem de 30% do consumo global e o uso de chuveiros elétricos, bem menos. Os sistemas de iluminação perderam representação com a tecnologia do Led.
A preocupação com a sazonalidade do nível dos reservatórios das hidrelétricas merece tratamento estratégico por nossas autoridades e necessariamente não é apenas um detalhe passageiro. Os aspectos ambientais do uso de térmicas também devem ser considerados além dos preços de operação bem mais elevados estas fontes de energia, que são mantidas desligadas quando os reservatórios estão em níveis adequados.
Voltando à Figura 1, espera-se um aumento do consumo de energia na classe industrial e teremos que ter condições de atender a esta demanda com consumo eficiente além das novas fontes renováveis que estão entrando.
Utilizar novas fontes para alimentar sistemas sem eficiência tornarão a conta mais cara devidos a investimentos desnecessários já que os custos de projetos de eficiência energética possuem menores valores que implantação de novas fontes, sejam renováveis ou não.
A história recente (MP 579) mostra que medidas populistas utilizando a redução da conta de energia não são boas alternativas e o problema deve ser encarado de frente com a aplicação de técnicas e tecnologias adequadas.
Definitivamente energia elétrica não é “papo de botequim”. Viveremos e veremos.