“Navegar é preciso, viver não é preciso”. Foi Fernando Pessoa que eternizou esta frase em um de seus poemas, porém foi outro Fernando, ou melhor, foi no arquipélago de Fernando de Noronha (PE) que o Brasil começou a “navegar” em busca de outras formas de geração de energia, através dos ventos. Isso aconteceu há quase 30 anos (1992). Na década seguinte, aprendemos a construir parques eólicos, e em 2019, o Brasil chegou a 15GW instalado e a energia eólica se tornou a segunda fonte de energia do País. No mundo, os primeiros registros de usinas de geração de energia utilizando a força dos ventos, com capacidade para alimentar grandes regiões, datam do início da década de 80.
Portanto, quando comparamos com outras fontes, como a hídrica, com mais de 120 anos de história, a fonte eólica é realmente um jovem disputando espaço em meio a veteranos. As usinas eólicas possuem uma característica muito diferente em relação às suas irmãs veteranas, que se refere ao fato de que ela possui muitos geradores de potência pequena, quando comparado com usinas hidroelétricas e térmicas que possuem poucas unidades geradoras de potência elevada. Uma única unidade geradora da usina de Itaipu é equivalente a 350 geradores eólicos de capacidade típica utilizada no Brasil. Essa característica das usinas eólicas faz com que seja necessária a construção de uma extensa rede elétrica para coletar toda a eletricidade produzida, até um ponto de conexão com o sistema elétrico.
A confiabilidade e disponibilidade são itens muito relevantes, considerando ainda que a maioria dos parques está instalada perto do mar, e o efeito disso é uma alta salinidade, onde toda a rede elétrica fica exposta, o que pode gerar um aumento significativo nas manutenções e interrupções. Por conta disso, investidores prudentes constroem as redes coletoras dos parques eólicos na forma subterrânea, que apresenta confiabilidade e disponibilidade dezenas de vezes superior às das redes aéreas e não estão expostas à salinidade do ar e a intempéries. Estima-se que nas mais de 600 usinas eólicas existentes no País, tenham sido instalados mais de 10 mil quilômetros de cabos elétricos de média tensão para construir as redes coletoras.
Isso não é pouco quando observamos a distribuição de energia elétrica na forma subterrânea no Brasil, com mais de 100 anos e aproximadamente 13 mil quilômetros, ou seja, somente um pouco mais de cabos isolados instalados do que nos parques eólicos. Como Sapiens que somos, aprendemos com os mais experientes e muitos gestores dos parques eólicos começaram a realizar manutenções preditivas em vários elementos e, principalmente, nos cabos isolados de média tensão, com medições de tangente delta, descargas parciais e outras para conhecer os riscos dos seus ativos e atuar preventivamente, evitando, com isso, potenciais falhas. Nos próximos anos, o crescimento da energia eólica será acompanhado pelo crescimento das redes subterrâneas nas redes coletoras, isso não só aqui no Brasil, mas no mundo. Para subsidiar as manutenções, muitos estudos e pesquisas estão sendo realizados em várias partes do mundo, como por exemplo, a empresa Baur, com sede na Áustria, juntamente com uma concessionária da Coreia do Sul, desenvolveram um software (statex®) utilizando conceitos de Big-data que estima a vida remanescente de cabos em operação.
Outro exemplo é o grupo de estudos do Cigré (WG – B1.58), onde representantes de mais de 20 países (pesquisadores e especialistas), inclusive, do Brasil, estão confeccionando uma brochura técnica sobre diagnósticos em cabos isolados de média tensão. A expansão das redes subterrâneas nos parques eólicos no Brasil dos últimos anos foi beneficiada pela experiência do País em possuir este tipo de instalação nas grandes cidades, tendo em vista todo o conhecimento em projetos, equipamentos, cabos de média tensão, acessórios e manutenções. Com isso, foram construídas redes coletoras mais robustas e com maior disponibilidade e confiabilidade para a energia que vem do vento!